é verdade?
- Ela se considera tão pecadora que se recusa a aceitar a gratuidade da salvaço.
- Então, qual é o seu problema, doutor? Você acha que ela está perdida espiritualmente?
Floyd balançou a cabeça.
- Eu gostaria que fosse tão fácil assim. Meu problema não faz nenhum sentido. Você
mesmo disse que essa moça deixou de ser atraente. É claro que ela deve ter sido
deslumbrante antes de cair neste estado. Mas o veneno fez efeito, e a enfermidade está
progredindo. Ela diz coisas sem nexo e está arrasada espiritualmente.
- Então, você está querendo se desvencilhar dela e se sente culpado por isso?
Floyd virou as costas para Rayford.
- Não, senhor. Eu quero amar essa moça. Eu a amo. Quero segurá-la nos braços, beijá-
la e dizer-lhe que a amo. - A voz de Floyd começou a ficar trêmula. - Passei a me
preocupar tanto com ela que estou convencido de que meu amor poderá curá-la. Tanto
física como espiritualmente. - Ele voltou a encarar Rayford. - Você não esperava por essa,
não é mesmo?
Depois que Buck e Chloe se deitaram, ele perguntou:
- Você seria capaz de dormir se eu saísse por alguns instantes?
- Sair? - ela disse, sentando-se na cama. - É muito perigoso.
- Neste instante, Carpathia está muito concentrado em Eli e Moisés para se preocupar
conosco. Quero ver se descubro o paradeiro de Jacov. E quero ver como as testemunhas
vão reagir depois das ameaças de Nicolae.
- Você sabe o que eles vão fazer - ela disse, voltando a deitar-se. - Vão fazer o que
quiserem até o tempo determinado, e ai daquele que tentar matá-los antes disso só para
cair nas graças do potentado.
- É que eu gostaria...
- Faça-me um favor, Buck. Prometa-me que não vai sair desta casa enquanto eu não
adormecer. Assim, só vou me preocupar amanhã cedo, se você não estiver aqui quando
eu acordar.
Buck vestiu-se e foi ver se Tsion ainda estava acordado. Tsion já se recolhera, e
Rosenzweig estava falando ao telefone.
- Leon, insisto em falar com Nicolae... Sim, conheço tudo sobre a hierarquia de vocês.
Só quero que você se lembre que Nicolae é meu amigo desde muito tempo antes de
tornar-se Sua Excelência, potentado ou outro título qualquer. Por favor, coloque-o na
linha... Bem, então me diga o que aconteceu com meu motorista!
Rosenzweig notou a presença de Buck, acenou para que ele se sentasse e acionou o
sistema viva-voz. Leon estava dizendo o seguinte:
- Nosso serviço secreto nos contou que seu motorista virou a casaca.
- Virou o quê? Ele deixou de ser judeu? Deixou de ser israelense? Não trabalha mais para
mim? Do que você está falando? Ele trabalha para mim há anos. Se você sabe onde ele
está, diga-me qual é o lugar, e irei atrás dele.
- Dr. Rosenzweig, com todo o respeito que o senhor merece, estou dizendo que seu
motorista passou para o lado deles. Queríamos que os guardas da CG escoltassem o
rabino Ben-Judá até o veículo conduzido por Jacov, mas ele saiu correndo do estádio
disparando uma arma poderosa. Quem pode saber quantos policiais e quantos civis
morreram?
Eu sei. Nenhum. Se alguém tivesse morrido, a notícia já teria se espalhado. Eu ouvi a
mesma história. Seus guardas perseguiram Ben-Judá para vingar-se do constrangimento
sofrido por Nicolae e teriam feito, sabe-se lá o que, se ele não tivesse fugido por conta
própria.
- Ele não fugiu por conta própria. Estava com a mulher de Buck Williams, que provou ser
uma norte- americana subversiva, fugitiva de uma de nossas instalações de Minnesota,
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onde estava detida para ser interrogada. - Rosenzweig olhou de relance para Buck, que
balançava a cabeça lentamente como se estivesse imaginando de onde se originara essa
história. Fortunato prosseguiu. - Ela também é suspeita de ter promovido saques após o
terremoto.
- Leon, Jacov está vivo? - Houve uma pausa, e Rosenzweig prosseguiu, irado. - Eu juro,
Leon, que se aconteceu alguma coisa àquele moço...
- Não aconteceu nada com ele, doutor. Estou tentando fazer o senhor dirigir-se a mim da
maneira apropriada.
- Oh! pelo amor de Deus, Leon, você não entende que existem coisas mais importantes
para nos preocuparmos agora? Há vidas humanas em jogo!
- Supremo comandante, Dr. Rosenzweig.
- Supremo idiota! - esbravejou Rosenzweig. - Estou saindo para procurar Jacov, e, se você
tiver alguma informaço que me ajude a encontrá-lo, é melhor falar agora!
-Eu não preciso ser tratado dessa maneira, senhor. E Leon desligou.
60
SETE
Rayford passou o braço ao redor do ombro de Floyd enquanto voltavam a entrar na casa.
- Não sou nenhum conselheiro em assuntos do coraço - disse Rayford -, mas você tem
razão quando diz que essa história não faz sentido. Ela não é crente. Você tem idade
suficiente para saber a diferença entre piedade e amor e entre comiseraço por uma
paciente e amor. Você mal a conhece, e o que sabe sobre ela não é nada agradável. Não é
necessário ser um cientista para saber que existe algo mais por trás disso. Você está
sozinho? Perdeu a esposa no Arrebatamento?
-Sim.
-Então me fale sobre ela.
BUCK deu uma olhada em Chloe antes de sair com Chaim. Ela parecia estar dormindo
profundamente.
- Você se importaria de dirigir o carro? - perguntou Chaim.- Faz muito tempo que não
posso dirigir.
- Não pode?
Chaim sorriu, com ar de cansaço.
- Assim que alguém se torna, como direi, uma personalidade neste país, principalmente
nesta cidade, essa pessoa passa a receber tratamento de nobreza. Não posso ir a lugar
nenhum sem escolta. Eu ainda não era famoso quando você escreveu uma matéria de
capa a meu respeito.
- Mas você era conhecido e respeitado.
Chaim perguntou a Jonas, o segurança que vigiava o portão da casa, se ele tinha alguma
notícia de Jacov.
- Stefan? - Buck ouviu Chaim dizer, seguindo-se algumas palavras apressadas em
hebraico, proferidas em tom de frustração.
Chaim conduziu Buck até os fundos da garagem. Buck sentou-se ao volante de um seda
antigo.
- Não quero que ninguém saiba aonde estou indo. O Mercedes é muito conhecido. Você
sabe dirigir carro com câmbio manual, não?
Buck puxou o afogador e lembrou-se rapidamente das posiçes do câmbio manual. Sua
preocupaço maior era com o estado precário dos pneus.
- Você sabe para onde vamos?
- Sim, acho que sei - disse Chaim. - Jacov é alcoólatra. Buck olhou para Chaim, com ar de
espanto.
- Você tem um motorista alcoólatra?
- Ele não bebe mais. Está em fase de recuperaço, conforme se diz. Mas, em momentos
críticos, ele volta a beber.
- Cai da diligência?
- Não conheço essa expressão.
- É uma expressão antiga usada pelos norte-americanos. No início do século 20, a União
Antialcoólica das Mulheres Cristãs entrava com a Diligência Antialcoólica nas cidades, falando
dos efeitos nocivos do álcool e conclamando os beberrões a abandonarem o vício e entrar
na diligência. Quando um deles voltava a beber, dizia-se que ele caíra da diligência.
- Estou com receio de que o mesmo tenha acontecido agora - disse Chaim, indicando a
esquina onde Buck deveria virar. Quando eles entraram em bairros menores, com casas e
prédios muito próximos uns dos outros, Buck começou a notar coisas que não tinha visto no
trajeto entre a casa de Chaim e o estádio. Jerusalém tinha uma aparência desoladora.
Como ele gostou daquela cidade quando a visitou alguns anos antes! Havia áreas
destruídas, mas, no geral, ela fora motivo de orgulho para seus moradores. A partir dos
desaparecimentos, começaram a surgir certos tipos de crimes e atividades lascivas em
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público que ele nunca esperara ver naquela cidade, tais como bêbados caminhando com
passos trôpegos pelas ruas, alguns de braços dados com mulheres de vida noturna.
Quando chegou mais perto do centro da cidade, Buck avistou casas de strip-tease, salões de
tatuagem, lojas de quiromancia e estabelecimentos de baixa categoria.
-O que houve com sua cidade? - perguntou Buck.
Chaim resmungou alguma coisa e fez um gesto de pouco caso.
- Este é um dos assuntos que eu adoraria discutir com Nicolae. Que desperdício gastar
todo aquele dinheiro com o novo templo e mudar a Cúpula da Rocha para a Nova
Babilônia! Droga! E esse tal de Peter Mathews usando trajes grotescos e acolhendo os
judeus ortodoxos na Fé Mundial Enigma Babilônia! Eu, que não sou um homem religioso,
considero isso tudo uma grande asneira. Aonde eles querem chegar? Ao longo dos
séculos, os judeus têm reiterado que adoram um único Deus. Como podem acreditar em
uma religião que aceita Deus como sendo um homem, uma mulher, um animal e outras
coisas mais? E você está vendo o efeito de tudo isso em Jerusalém. Haifa e Tel-Aviv estão
em pior situação! Os ortodoxos estão trancados em seu novo templo reluzente, trucidando
animais e voltando aos tempos dos sacrifícios de séculos atrás! E que benefícios trouxeram
a esta sociedade? Nenhum! Nicolae diz ser meu amigo. Se ele me receber, vou informá-lo
sobre estas coisas, e a situação vai mudar.
- Quando meu Jacov - um homem maravilhoso e esperto, diga-se de passagem - cai da
diligência, conforme você diz, volta a freqüentar a mesma rua, o mesmo bar, sempre nas
mesmas condições.
- Essa recaída costuma ser freqüente?
- Duas vezes por ano, no máximo. Eu costumo repreendê-lo, ameaçá-lo. Cheguei até a
despedi-lo. Mas Jacov sabe o quanto me preocupo com ele. Jacov e sua esposa,
Hannelore, ainda choram a perda de dois filhos pequenos por ocasião dos
desaparecimentos.
Buck ficou estarrecido ao se dar conta de que forçara Jacov a converter-se sem sequer
conhecê-lo. Agora, só esperava que Chaim estivesse enganado a respeito de Jacov e que
ele não fosse encontrado no local onde Chaim imaginava.
Chaim mostrou a Buck uma vaga para estacionar no meio de uma fila de carros e vans em
uma rua apinhada de gente. Já passava da meia-noite, e Buck foi surpreendido por uma
sensação de fadiga.
- O Harém? - ele perguntou após ver o letreiro. - Você tem certeza de que aqui é apenas
um bar?
- Tenho certeza de que não é, Cameron – respondeu Rosenzweig. - Não quero nem
pensar no que se passa ali dentro. Nunca entrei neste lugar. Geralmente espero aqui
enquanto meu segurança entra e tira Jacov de lá.
- É por esse motivo que estou aqui?
- Eu não pediria que você fizesse isto. Mas você vai precisar me ajudar, caso ele ofereça
resistência. Não sou páreo para ele. Ele não vai me machucar, mesmo se estiver bêbado,
mas um homem franzino e idoso não tem condições de arrastar um jovem teimoso para
um lugar que ele não queira ir.
Buck estacionou o carro e começou a raciocinar.
- Estou achando que você está enganado, Chaim. Estou achando que Jacov não está
aqui.
Chaim sorriu.
- Você acha que só porque ele se converteu não ia embebedar-se depois de ser perseguido
a tiros? Você é muito ingênuo para um jornalista internacional, meu amigo. Sua nova fé
toldou seu senso de julgamento.
- Espero que não.
- Você está vendo aquele caminhão verde ali, aquele velho Ford inglês? - Buck assentiu
com a cabeça. - O caminhão pertence a Stefan, um de meus criados. Ele mora entre este
local e o estádio Teddy Kollek e é companheiro de bebida de Jacov. Stefan não agüenta
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tanta bebida quanto Jacov. Bebe até o limite, como costumamos dizer. Stefan estava de
folga hoje, mas, se eu gostasse de apostar, diria que Jacov correu até ele enquanto tentava
fugir dos guardas da Comunidade Global. Por estar abalado e assustado demais, com
certeza ele permitiu que Stefan o levasse a seu lugar preferido. Não posso fazer esta
acusaço a Jacov, mas preciso protegê-lo. Não quero que ele faça um espetáculo em
público, principalmente se estiver fugindo dos guardas da CG.
- Eu não gostaria que ele estivesse aqui, Dr. Rosenzweig.
- Nem eu, mas não sou um jovem que fica admirando estrelas. A sabedoria chega com a
idade, Cameron, mas às vezes ela não tem muita serventia. Aprendi muitas coisas das
quais não consigo me lembrar. Tenho alguns "momentos de grande lucidez", conforme
costumo dizer, nos quais me lembro de detalhes de algo que aconteceu 60 anos atrás,
mas não consigo lembrar que já contei a mesma história meia hora antes.
- Eu ainda não cheguei aos 33 anos, e também tenho meus lapsos de memória.
- Como é mesmo o seu nome? - perguntou Chaim, sorrindo.
- É melhor procurarmos Jacov - disse Buck. - Afirmo que ele não está aqui, mesmo que
Stefan esteja.
- Eu espero que Jacov esteja - disse Chaim. - Se ele não estiver, significa que está
perdido, preso ou coisa pior.
A história do Dr. Floyd Charles era muito semelhante à de
Rayford. Floyd também teve uma esposa que levava sua religião a sério, ao passo que ele,
um profissional respeitado, aceitava, mas não se envolvia.
- Acho que você freqüentava a igreja regularmente – disse Rayford, lembrando-se da
própria experiência -, mas não era tão atuante quanto sua esposa.
- Exatamente - confirmou Charles. - Ela sempre me dizia que minhas boas obras não me
levariam para o céu e que, se Jesus voltasse antes que eu morresse, seria deixado para
trás.
- Ele balançou a cabeça. - Eu ouvia sem prestar atenço, você entende o que estou
dizendo?
- Sua história é igual à minha, irmão. Você também perdeu filhos?
- Não no Arrebatamento. Minha esposa abortou um, e perdemos uma filha de cinco anos
em um acidente de ônibus em seu primeiro dia de aula. - Floyd parou de falar.
- Lamento muito - disse Rayford.
- Foi terrível. - Floyd tinha a voz embargada. - Gigi e eu a vimos na esquina aquela
manhã, e LaDonna estava muito feliz. Pensávamos que ela ficaria temerosa ou assustada
– na verdade, até esperávamos por isso. Mas ela não via a hora de ir para a escola com
seu uniforme novo, sua lancheira e outros apetrechos. Gigi e eu estávamos ansiosos,
nervosos por causa dela, assustados. Quando a vi dentro daquele ônibus grande, antigo
e impessoal, tive a sensação de estar mandando minha filha enfrentar leões. Gigi disse
que devíamos confiar em que Deus cuidaria dela. Uma hora e meia depois, recebemos a
notícia. Rayford limitou-se a balançar a cabeça.
-Tornei-me um homem amargo - prosseguiu Floyd. - Afastei-me de Deus. Gigi sofreu,
chorou tanto que quase me fez morrer de desgosto. Mas ela não perdeu a fé. Orava por
LaDonna, pedia que Deus cuidasse dela, essas coisas.
Nosso casamento começou a balançar. Separamo-nos por uns tempos - a decisão foi
minha, não dela. Eu não suportava vê-la sofrer tanto e, mesmo assim, fazer o jogo da
igreja. Ela dizia que não se tratava de um jogo e que, se eu quisesse voltar a ver
LaDonna, teria de me aproximar de Jesus. Eu me aproximei de Jesus. Contei-lhe o que eu
pensava e questionei por que Ele permitiu que aquilo acontecesse à minha filhinha. Senti-
me desprezível por muito tempo.
Eles estavam sentados à mesa da cozinha, de onde Rayford podia ouvir a respiraço firme
e ritmada de Hattie.
- Você sabe o que me convenceu? - disse Floyd repentinamente.
- Além do Arrebatamento, é o que você quer dizer? - perguntou Rayford. - Aquilo chamou
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minha atenço.
- Eu me convenci antes do Arrebatamento. Só que nunca acionei o gatilho, você está me
entendendo?
Rayford assentiu com a cabeça.
- Você sabia que sua esposa estava certa, mas não contou isso a Deus?
- Exatamente. Mas o que me convenceu foi Gigi. Apesar de tudo, ela nunca deixou de me
amar. Fui um patife, homem.Mesquinho, vil, egoísta, grosseiro, ignóbil. Ela sabia que eu
estava angustiado, sofrendo. A luz de minha vida não existia mais. Eu amava tanto
LaDonna que meu coração parecia estar estraçalhado. Porém, quando eu estava tentando
esquecer meu sofrimento, trabalhando horas a fio e sendoum homem intratável perante
meus colegas e outras pessoas, Gigi sabia o momento certo de ligar para mim ou
escrever-me um bilhete. O tempo todo, Rayford, o tempo todo mesmo, ela me fazia
lembrar que me amava, que se preocupava comigo, que me queria de volta e que estava
pronta para fazer qualquer coisa para facilitar minha vida.
- Que maravilha!
- Você usou a expressão certa. Ela estava sofrendo tanto quanto eu, mas me convidava
para jantar, preparava refeiçes para mim, lavava minha roupa e limpava meu
apartamento, apesar de trabalhar fora também. - Ele deu uma risadinha. - Ela conseguiu
fazer de mim um homem humilde.
- E ela o ganhou de volta?
- Claro que sim. Chegou a livrar-me um pouco do sofrimento. Levou um pouco de tempo,
alguns anos, mas me tornei uma pessoa mais feliz, mais produtiva. Eu sabia que era
Deus quem a ajudava a fazer isso. Mas continuava pensando que, se houvesse essa
história de céu e inferno, Deus teria de ser bondoso comigo porque eu estava ajudando
as pessoas diariamente. Eu até sabia por quê. Eu adorava chamar a atenço, mas
ajudava a todos. Fazia o melhor que podia, quer o paciente fosse um pobre coitado ou
um milionário. Para mim, não fazia diferença. Qualquer um que precisasse de cuidados
médicos, recebia o melhor de mim.
- Bom para você.
- Ah! sim, bom para mim. Mas você e eu sabemos o que aconteceu quando Jesus voltou.
Fomos deixados para trás.
Floyd foi examinar Hattie. Rayford pegou dois refrigerantes na geladeira.
- Não quero atrapalhar os planos de um velho amigo - disse Rayford -, mas sugiro que
você pense bem no tipo de mulher que sua esposa foi antes de pensar em Hattie como
sua substituta.
Floyd mordeu os lábios e concordou com a cabeça.
- Não estou dizendo que Hattie não possa vir a ser esse tipo de pessoa - complementou
Rayford.
- Eu sei. Mas não há evidências de que ela queira ser.
- Sabe o que vou fazer? - disse Rayford levantando-se. - Vou ligar para minha filha e
dizer-lhe que a amo.
Floyd olhou para seu relógio.
- Você sabe que horas são no lugar em que ela está?
- Eu não me importo. E ela também não vai se importar.
Quando se aproximaram do "Harém", Buck e Chaim receberam olhares curiosos tanto de
homens como de mulheres. O local era muito maior por dentro do que parecia quando
visto de fora. Várias salas repletas de gente -dançando ou trocando beijos ardentes -
davam passagem para o bar principal, onde algumas mulheres dançavam e outras
pessoas comiam e bebiam.
-Que lugar horrível! - disse Rosenzweig. – Exatamente como pensei.
Enquanto os dois tentavam abrir caminho, Buck olhava por todos os lados à procura de
Jacov e desviava os olhos todas as vezes que alguém o encarava como se estivesse
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perguntando: "O que você está procurando aqui?" Alguns casais eram de pessoas do
mesmo sexo. Esta não era a naço de Israel da qual ele se lembrava. A fumaça era tão
densa que fazia mal aos pulmões até mesmo daqueles que não fumavam.
Chaim parou de repente, e Buck colidiu com ele.
- Oh! Stefan - ralhou Rosenzweig.
Buck virou-se a tempo de ver um moço com um copo de bebida aguada na mão. Seus
cabelos escuros estavam úmidos e emaranhados, e ele ria histericamente. Buck orou para
que o moço estivesse sozinho.
- Jacov está com você? - perguntou Rosenzweig asperamente. Stefan, assustado no meio
daquele vozerio, mal conseguiu recuperar a fala. Ele curvou-se para a frente e tossiu,
espirrando um pouco de bebida na calça de Rosenzweig.
- Stefan! Onde está Jacov?
- Comigo ele não está! - gritou Stefan, endireitando o corpo e rindo mais alto ainda. - Mas
ele está bem!
Buck sentiu um aperto no peito. Ele sabia que Jacov tinha sido sincero em sua conversão,
e Deus a comprovara com o selo em sua testa. Como Jacov podia profanar sua salvaço
desta maneira? Será que sua hostilidade em relaço aos guardas da CG tinha sido mais
repulsiva do que Buck podia imaginar?
Onde? - perguntou Rosenzweig, visivelmente contrariado.
Lá! - Stefan apontou com o copo, rindo e tossindo o tempo todo. - Ele está em cima de
uma mesa aproveitando seus minutos de glória! Agora preciso terminar esta bebida antes
que eu provoque um acidente aqui! - Ele cambaleou e riu tão alto que algumas lágrimas
escorreram por seu rosto.
Chaim, com ar emocionado, esticou o pescoço para enxergar a sala principal, de onde se
ouvia uma música estridente em meio a um pisca-pisca alucinante de luzes coloridas.
-Oh, não! - Chaim lamentou, virando-se para Buck. - Ele está completamente bêbado.
Este moço tímido, que mal olha para o rosto de uma pessoa quando a cumprimenta, está
dando um espetáculo na frente de todo mundo! Não posso suportar. Vou pegar o carro.
Será que você poderia forçá-lo a descer daquela mesa e arrastá-lo para fora? Você é maior
e mais do forte que ele. Por favor.
Buck não sabia o que dizer. Ele nunca tinha sido segurança. Apesar de ter gostado da
vida noturna, nunca apreciou bares barulhentos, principalmente como aquele. Ele passou
à frente de Chaim, que saiu apressado dali. Abrindo caminho por entre grupos de bêbados
e devassos, ele conseguiu avistar algumas pessoas cuja atenço estava voltada para um
jovem israelense maluco, que se equilibrava em cima de uma mesa. Esse jovem era
Jacov.
Rayford desceu apressado até o porão e encontrou Ken com o telescópio de Donny Moore
no colo e seu microscópio na escrivaninha. Ken estava lendo as revistas técnicas de
Donny.
- O rapaz era um gênio, Ray. Estou aprendendo um monte de coisas que vão nos ajudar.
Se você passar este material para seu amigo piloto e para aquele técnico que trabalha
lá dentro, os dois poderão nos avisar quando o pessoal de Carpathia descobrir quem eles
são e todos nós estivermos lutando para sobreviver. O que posso fazer por você?
Quero ir com você a Israel na sexta-feira.
Você acabou de fugir de lá. Não foi o seu amigo Mac quem disse que você ia morrer se não
tivesse fugido?
Eu não gosto de viver fugindo. Não posso me esconder de Carpathia pelo resto da vida,
por mais curta que ela seja.
Que aconteceu a você, Ray?
Acabei de falar com Chloe. Estou pressentindo problemas. Nicolae não vai deixar que eles
saiam vivos de Israel de jeito nenhum. Temos de ir ao encontro deles.
Pode contar comigo. Como vamos fazer?
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Buck resolveu abrir caminho à força, sem pedir licença. As pessoas proferiam palavrões
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