noroeste. É isto?
- Assim que pudermos, torre. Câmbio e desligo.
- Jacov, corra e descubra onde Tsion e Chloe estão. Depois, leve-os para fora do estádio
pela saída noroeste.
Jacov estendeu o braço para abrir a porta da van.
- A de cima ou a de baixo? - ele perguntou. - Há uma saída no nível do chão e outra mais
abaixo.
- Leve-os até a saída de baixo, e não pare se alguém tentar impedir sua passagem. Você
tem uma arma?
Jacov passou a mão por baixo do banco e pegou uma submetralhadora Uzi. Ajustou-a no
cinto e cobriu-a com a camisa. Buck achou que a arma estava visível, mas talvez passasse
despercebida por causa da escuridão e do grande número de pessoas que se
acotovelavam.
- Alguém deve ter dado ordens aos guardas da CG para prenderem Tsion. Eles ainda não
o pegaram, mas não vai demorar muito. Dê um jeito de tirá-los de lá.
Jacov entrou correndo no estádio, e Buck sentou-se ao volante. Por fim, a multidão
começou a movimentar-se lentamente. Parecia que o povo não queria sair dali. Todos
queriam ver Tsion mais uma vez. Buck não compreendia a conversa, mas uma frase ou
outra proferidas em inglês fizeram-no entender que estavam falando da humilhação
sofrida por Carpathia.
Assim que começou a rodar cuidadosamente com a van no meio da multidão, Buck ouviu
o ruído de um helicóptero. Talvez estivesse trazendo mais guardas da CG. Ele ficou
surpreso ao ver que o aparelho se parecia com o que havia transportado Carpathia ao
estádio. Pegou o telefone e apertou o botão da ligaço mais recente.
- McCullum.
- Mac! É Buck. Por que você voltou para cá?
- Dez-quatro, Segurança. Vamos verificar o quadrante sudeste.
- Eu mandei um homem para o lado noroeste!
- Positivo, positivo! Eu voa verificar o quadrante sudeste e depois levarei meus passageiros
para a base, câmbio.
- Eles estão do lado sudeste agora?
- Negativo! Eu vou cobrir a área sudeste!
46
- O que você vai fazer se eles estiverem lá?
- Positivo, posso desviar a rota, Segurança, mas em seguida vamos embora, entendido?
- Estou confuso, mas confio em você, Mac.
- Mantenha seu pessoal longe do sudeste, Segurança. Estarei vigiando.
Buck atirou o telefone no banco ao lado e virou o espelho retrovisor externo para ver o
helicóptero. Leon Fortunato anunciava pelos alto-falantes do helicóptero:
- A segurança em terra da Comunidade Global nos solicitou ajuda para desimpedir esta
área! Por favor, traduzam este recado para outras pessoas, se for possível! Agradecemos
sua colaboraço!
A massa humana não obedeceu. Quando se espalhou a notícia de que o helicóptero de
Carpathia estava sobrevoando uma das partes do estádio na tentativa de desimpedir a
área, centenas de pessoas começaram a caminhar naquela direço, olhando para o céu.
Essa movimentaço permitiu que Buck rodasse mais rápido até o lado noroeste. O povo,
atraído pelo helicóptero, imediatamente começou a dirigir-se para aquele local.
Buck estacionou perto do estádio, sem dar atenço aos guardas armados que acenavam
para ele. Abriu a porta, desceu da van e tentou localizar a saída subterrânea.
Encontrou uma rampa precariamente iluminada onde os caminhões haviam descarregado
os equipamentos no dia anterior. Andando pé ante pé, ele avistou uma fresta de luz
quando alguém abriu com força uma porta e subiu a rampa correndo.
Os guardas aproximaram-se para enxergar melhor, e Buck percebeu que foi Jacov quem
subiu a rampa. Do que ele estava fugindo? Por que não foi detido? Será que os guardas da
CG estavam vigiando Tsion? Assim que passou pelos guardas, Jacov avistou a van. A
menos de 15 metros, ele olhou diretamente para Buck. Pegou a arma, disparou uma
rajada de balas para o alto e virou à esquerda.
Os guardas sacaram suas armas e passaram a persegui-lo. Centenas de pessoas que
estavam por ali gritaram e agacharam-se para proteger-se. Buck abaixou o corpo
instintivamente, e agora estava espiando por cima da van. A uns 60 metros à frente,
Jacov virou-se e disparou outra rajada de balas para o alto. Os guardas abriram fogo, e
Jacov correu novamente.
Sem perceber que as portas da van haviam sido abertas, Buck ouviu quando elas se
fecharam enquanto Chloe e Tsion gritavam:
- Depressa, Buck! Acelere! Rápido!
Ele entrou rapidamente, bateu a porta e perguntou:
- O que vamos fazer com Jacov?
- Depressa, Buck! - gritou Chloe. - Ele está despistando os guardas!
Buck riu ao pisar no acelerador e passar por cima do meio-fio.
- Esse Mac! - ele disse. - Que time! Onde devemos pegar Jacov?
Deitado no assoalho do banco traseiro, Tsion ofegava. Chloe estava estendida no banco.
- Ele disse que nos encontraria na casa de Chaim - Tsionconseguiu dizer.
- Os guardas estavam atirando nele!
- Ele disse que só atrairia a atenço dos guardas quando estivesse fora do alcance deles.
Tinha certeza de que se sairia
bem.
- Ninguém está fora do alcance dessa gente - disse Buck, aumentando a distância entre
eles e o estádio.
Curiosamente, a maior parte do trânsito - carros, veículos de emergência e viaturas
policiais - dirigia-se para o estádio, em vez de sair dali. Os guardas obrigavam os carros
comuns a parar no meio-fio para dar passagem aos veículos da CG. Buck, que seguia na
direço contrária, não foi barrado.
- Se eles estiverem atrás de você, Tsion, é melhor não voltarmos para a casa de Chaim.
- Não posso pensar em local mais seguro - disse Tsion. - Carpathia não vai me ameaçar
lá. Sua mulher foi brilhante,Buck. Ela percebeu tudo antes que acontecesse. Viu os
47
guardas caminhando em minha direção e não gostou da expressão deles.
- Eles estavam usando fones de ouvido - disse Chloe
- e destravando as armas. Imaginei que tivessem recebido instruções de Carpathia ou
Fortunato para vingar-se de Tsion e atirar nele no meio da multidão de modo que
parecesse um acidente. Eles chegaram tão perto de nós que ouvi um deles dizer ao
supremo comandante onde estávamos.
- Continuo preocupado com Jacov - disse Buck.
- Ele foi muito eficiente - disse Chloe. – Atravessou correndo o túnel e passou perto de
nós, dizendo: "Estou tentando encontrar rostos familiares para que me sigam até um
lugar seguro." Estávamos saindo de um lugar parecido com um depósito e...
- Eu vi imediatamente o selo na testa dele - disse Tsion. -
Louvado seja o Senhor! Buck, você vai ter de nos contar mais tarde o que aconteceu.
- Ele disse que você estava trazendo a van para perto da saída subterrânea - prosseguiu
Chloe. - Deu uma olhada e avistou os guardas no topo da rampa. Disse para nós que
despistaria os guardas e que devíamos sair dali depois de 20 segundos. Ele voltou e
correu, saindo por aquela porta!
- Deu certo - disse Buck. - Ele também conseguiu desviar a minha atenço. Não vi quando
vocês entraram na van.
- Ninguém nos viu - disse Chloe. - Oh!
- O que foi?
- Nada - ela disse, dando um assobio.
- O que foi, Chloe? Você está bem?
- Não estou acostumada a correr - ela disse.
- Nem eu - complementou Tsion. - E eu gostaria de sair daqui do chão assim que
estivermos em segurança.
- O senhor não pode mantê-la aqui - disse Leah ao Dr. Charles. - É impossível. Lamento
muito. Poderíamos levá-la até um quarto, e sei que seria melhor para ela, mas, se o
senhor quiser voltar a este hospital ou contar com minha ajuda, é melhor tirá-la daqui
imediatamente.
- Então me consiga mais um sedativo - disse Floyd. -Quero que ela durma antes de
sairmos daqui.
Hattie dormiu durante todo o percurso até a casa secreta. O Dr. Charles a colocou na cama
perto da TV, onde eles se inteiraram rapidamente das atividades em Jerusalém.
"Sua Excelência, o potentado Nicolae Carpathia, fará um pronunciamento ao mundo
dentro de 20 minutos", dizia o locutor. "Durante a transmissão ao vivo pela TV do
hemisfério oriental e pela conexão via Internet que cobriu as
outras partes do mundo, a maioria dos senhores viu que a tentativa de envenenar Sua
Excelência fracassou. Apesar de estar um pouco abalado pelos acontecimentos, o
potentado é um homem forte, e ele deseja tranqüilizar os cidadãos do mundo inteiro
quanto a seu estado de saúde. Esperamos que ele também fale sobre o tipo de represália
que possivelmente será imposta aos responsáveis pelo atentado à sua vida."
O lado jornalístico de Buck desejava continuar no estádio. Ele adoraria ter visto Mac dando
voltas no ar com Carpathia, Fortunato e o ridículo Mathews, para que Tsion tivesse tempo
de fugir. Gostaria de ter visto a água transformando-se em sangue no palco e perguntar
aos escolhidos de Deus se algum deles vira as duas testemunhas do Muro das
Lamentações chegando ou saindo.
Buck aprendera a não paparicar Chloe; ela era tão forte e corajosa quanto ele. Mas Chloe
estava também carregando o filho deles no ventre e passara por um terrível sofrimento
físico que a deixara muito machucada. Aquele trauma poderia ter feito mal a ela.
Foi um alívio para Buck avistar guardas israelenses, e não da CG, diante dos portões da
casa de Chaim. Ele tinha de admitir que foram esses mesmos guardas os responsáveis
pelo massacre da família de Tsion e que o obrigaram a fugir de sua terra natal. Agora,
porém, Tsion estava ali como convidado de Chaim, e Chaim era considerado uma
48
divindade em Israel.
Assim que entraram na casa, Chaim, trêmulo e com o semblante pálido, os abraçou e
perguntou sobre o paradeiro de Jacov. Buck deixou a explicação por conta de Tsion,
sabendo que Chaim precisaria ter a certeza de que seu protegido não planejara humilhar
Carpathia.
- Você me garantiu que permaneceria neutro – disse Chaim. - Caso contrário, eu não teria
insistido com ele para que comparecesse ao evento.
- Você sabia que ele estaria presente e não me disse nada? - perguntou Tsion.
- Ele queria que sua chegada causasse surpresa. Com certeza você esperava que ele
aparecesse lá.
- Pensei que ele fosse aguardar até amanhã ou depois de amanhã. Você devia ter-me
preparado.
- Você parecia estar mais que preparado. Tsion sentou-se, exausto.
- Chaim, o homem me interrompeu quando eu estava citando um versículo da Bíblia.
Parece que ele planejou chegar no pior momento possível. Espero que você cumpra a
promessa de ouvir o que tenho a lhe dizer e que não demore muito. Estou cansado
demais esta noite, mas você, um homem inteligente e de bom senso, não será capaz de
refutar as provas que tenho de que Jesus é o Messias e Carpathia o anticristo.
Rosenzweig acomodou-se em uma poltrona grande e macia e deu um longo suspiro.
- Tsion, você é como um filho para mim. Mas o que acabou de dizer pode levá-lo à morte.
- Como se eu não soubesse!
- Claro que sabe, e ainda lamento sinceramente as perdas que você sofreu. Mas vir a
Israel para proclamar a divindade de Jesus é um ato tão temerário quanto os truques que
aqueles dois malucos do Muro das Lamentações estão fazendo com nossa água e nosso
clima. E digo mais, Tsion. Chamar Nicolae de anticristo quando ele está em visita à Terra
Santa é uma atitude de muita arrogância
e insensibilidade. Conforme eu já lhe disse, é mais fácil acreditar que Carpathia é o
Messias e que uma daquelas pseudotestemunhas é o anticristo.
Tsion balançou a cabeça, com ar de cansaço, e Buck aproveitou o momento para se
retirar.
- Se os senhores nos derem licença...
- Claro - disse Chaim.
- Quando Jacov chegar, eu gostaria de ser avisado, seja qual for a hora - disse Buck.
- Agradeço sua preocupação - disse Chaim. - Você será avisado.
Rayford mantinha os olhos grudados na TV enquanto tentava falar com alguém em Israel.
Nem o telefone de Buck nem o de Chloe respondiam, e ele não podia ligar para Mac.
Esquecendo-se de quem era agora, ele soltou um palavrão. Hattie despertou.
- Este é o Rayford Steele que eu conheci um dia - ela disse, com voz terna e cansada.
- Ah! desculpe-me, Hattie. Não costumo falar assim. Estou preocupado com o que
aconteceu lá e quero ter certeza de que todos estão bem.
- É bom saber que você continua humano - disse ela em voz baixa. - Mas você nunca foi
e nunca será tão humano quanto eu.
- O que você está querendo dizer?
- Vou matar Nicolae.
- Lamento muito pelo seu bebê, Hattie, mas você não sabe o que está dizendo.
- Rayford, você poderia chegar mais perto?
- Como assim?
- Não tenha medo de mim. Não vou ficar muito tempo por aqui.
- Não diga isso.
- É que eu não tenho força para falar mais alto. Você poderia chegar mais perto? )
Rayford sentiu-se embaraçado, embora não houvesse mais ninguém por perto. Ele
mordeu os lábios, olhou ao redor e aproximou-se dela.
49
- Pode falar - ele disse.
- Rayford, eu não vivi muito tempo com aquele homem para ele ter exercido tanta
influência sobre mim. Sei que não sou melhor nem pior do que qualquer outra moça. Você
sabia disso. Todo mundo sabia.
- Bem, eu...
- Deixe-me terminar. Floyd me deu um comprimido para dormir e estou caindo de sono.
Ouça o que lhe digo. Nicolae Carpathia é o demônio personificado.
- Ora, disso eu já sabia.
- Oh, eu sei que seu pessoal acha que ele é o anticristo. Eu sei que ele é. Não existe um
pingo de verdade no que ele diz. Tudo o que sai da boca daquele homem é mentira. Você
viu como ele finge ser amigo de Mathews? Nicolae quer vê-lo morto. Ele próprio me disse
isto. Eu já contei a você que ele envenenou Bruce. Mandou me matar depois que fui
envenenada, só para se certificar. O veneno matou meu bebê. E ele foi o responsável. Ele
me fez fazer coisas que nunca imaginei fazer. E você sabe que... eu gostava do que fazia.
Adorava o poder daquele homem, seu fascínio, sua habilidade em persuadir as pessoas.
Quando fiz Amanda passar por uma espiã, acreditei que estava fazendo a coisa certa. E
aquilo não foi o pior.
- Eu quero morrer, Rayford - prosseguiu Hattie. - E não quero ser perdoada nem ir para o
céu para ficar ao lado de
Deus ou coisa parecida. Vou lutar contra este veneno, vou colaborar com Floyd, vou fazer
o que for necessário para viver o tempo suficiente de matar aquele homem. Preciso ficar
forte e tenho de chegar perto dele de qualquer jeito. É quase certo que vou morrer no
caminho, porque ele está cercado de seguranças. Eu não me importo. Desde que o mate.
Rayford pousou a mão no ombro dela.
- Hattie, você precisa relaxar. O Dr. Charles lhe deu um pouco mais de anestésico antes
de trazê-la para cá, e talvez você nem se lembre mais do que está dizendo agora. Por
favor, tente...
Hattie empurrou a mão de Rayford, e seus dedos frágeis agarraram-lhe a camisa. Ela o
puxou para perto de si, quase encostando o rosto no dele.
- Esteja certo de que vou me lembrar de cada palavra, Rayford. Vou matar aquele homem
como se fosse a última coisa que desejo fazer na vida, e espero que seja.
- Tudo bem, Hattie. Tudo bem. Não vou discutir com você agora.
- Não discuta nunca este assunto comigo, Rayford. Estará perdendo tempo.
Poucos instantes depois, a figura de Carpathia tomou conta de toda a tela, e Hattie já
estava dormindo. Rayford ficou feliz por ela não ver o rosto daquele homem nem ouvir o
que ele diria a respeito de seu fracasso em Israel. Um arrepio percorreu o corpo de
Rayford. Hattie o forçara a olhar para dentro de si.
Rayford sentiu um grande alívio depois de constatar que Amanda foi tudo o que acreditou
que ela fosse: uma esposa amorosa, digna e leal. Porém, desde o momento em que
descobriu o que Carpathia havia feito com Bruce, com Amanda e com Hattie, ele estava de
novo lutando
interiormente. Certa vez, ele orara pedindo a permissão, a honra, de ser aquele que
mataria Carpathia quando o período da Tribulação chegasse à sua metade. Agora, para
ser franco, ele se sentia preparado para aquele momento.
Ele sabia que precisava chamar Hattie à razão, impedi-la de tomar uma atitude tão
temerária e estúpida. Mas era por esse mesmo motivo que ele não podia confiar seu
segredo a Mac e a Tsion, nem mesmo à sua filha e genro. Era por esse motivo também
que não podia falar de suas tendências homicidas a seu novo amigo Ken ou a Floyd. Por
certo, eles haveriam de querer convencê-lo da loucura deste gesto. Rayford, porém,
queria acalentar aquele plano por mais algum tempo.
Somente quando Buck ficou a sós com Chloe em um dos quartos de hóspedes da casa de
Chaim Rosenzweig foi que ele se deu conta do quanto se preocupara com ela. Com as
mãos trêmulas, ele a segurou nos braços e a apertou contra si, tomando cuidado para não
50
tocar em seus ferimentos.
- Enquanto não fiquei sabendo onde você estava – ele começou a dizer -, me veio à
mente tudo o que senti depois do terremoto.
- Mas desta vez eu não estava perdida, querido. Você sabia onde eu me encontrava.
- Você não atendeu ao telefone. Pensei que alguém tivesse agarrado você, ou...
- Quando começaram a nos perseguir, desliguei o telefone. Eu não queria que ele nos
denunciasse. Agora estou me lembrando de que não tornei a ligá-lo. - Chloe fez um gesto
para pegar o telefone.
- Não se preocupe - ele disse. - Agora ele não será mais necessário, não é mesmo?
- E se papai estiver ligando para cá? Você sabe que ele deve ter assistido à transmissão
pela TV.
- Ele poderá ligar para o meu telefone.
- E onde está o seu telefone?
- Droga! Deixei-o na van. Vou buscá-lo. Agora foi a vez de Chloe dissuadi-lo.
- Vou ligar o meu - ela disse. - Não quero que você fique longe de mim outra vez.
Buck puxou-a para perto de si, e eles se beijaram. Em seguida, deitaram de costas na
beira da cama, e Chloe apoiou a cabeça no braço dele. Buck começou a imaginar a
situação esquisita em que eles se encontravam, olhando para o teto e com os pés
apoiados no chão. Se ela estivesse tão exausta quanto ele, em breve adormeceria.
Provavelmente aquele não era um bom momento para abordar um assunto delicado, mas
Buck nunca se preocupara em aguardar a hora certa para falar.
Conforme já se tornara rotina, o supremo comandante da Comunidade Global, Leon
Fortunato, apresentou Sua Excelência, o potentado Nicolae Carpathia, aos telespectadores
do mundo inteiro. Rayford ficou admirado diante da maneira franca e direta com que
Fortunato estava contando a história sobre o que acontecera com ele próprio. Tsion
advertira Rayford que em breve os poderes sobrenaturais de Nicolae seriam evidenciados
e até mesmo com certo exagero, preparando o terreno para ele se autoproclamar Deus
durante a segunda metade da Tribulaço. Até agora, os pronunciamentos em rede
mundial tinham sido discretos, e Nicolae se abstivera de fazer quaisquer comentários a
esse respeito. Naquele dia, porém,
Rayford estava ansioso por saber como Nicolae reagiria às palavras bajuladoras de
Fortunato. Rayford tinha de convir que os dois haviam feito um trabalho magnífico - para
não dizer sobrenatural - ao engendrarem uma história sobre o maior constrangimento
em público que Nicolae já sofrerá.
51
SEIS
- ESTOU preocupado com você - disse Buck.
- Vou ficar bem - disse Chloe. - Sinto-me feliz por tervindo e estou me saindo melhor do
que imaginava. Eu sabia que ainda era um pouco cedo para fazer uma viagem tão longa,
mas deu tudo certo.
- Não é por esse motivo que estou preocupado com você. Chloe afastou-se de Buck e
deitou-se de lado para vê-lo melhor.
- Então, com o que você está preocupado? Alguém bateu na porta.
- Com licença - disse Tsion. - Vocês não gostariam de ver o pronunciamento de Carpathia
pela TV?
Chloe começou a levantar-se, mas Buck a impediu.
Obrigado, Tsion. Talvez daqui a pouco. Se perdermos alguma parte, você poderá nos
contar amanhã cedo.
Muito bem. Boa noite, meus queridos.
Buck Williams - disse Chloe -, não sei desde quando me tornei tão especial. Você nunca
deixou escapar uma notícia de impacto.
- Não pense que estou sendo altruísta, meu bem. Não escrevo mais para nenhuma
revista, lembra-se?
- Escreve sim. Para sua revista.
Ah! sim, mas sou o patrão e assino os cheques. Como não há dinheiro para cobrir os
cheques, o que posso fazer? Assinar minha demissão?
De qualquer forma, você deixou as notícias de lado para me dar atenço.
Buck aproximou-se dela e a beijou novamente.
- Já sei o que ele vai dizer. Antes de tudo, vai permitir que Fortunato o engrandeça.
Depois se fingirá de humilde e atacará Tsion pelo constrangimento que sofreu depois de
tudo o que fez pelo rabino.
Chloe assentiu.
Em que você está pensando?
No bebé.
Chloe olhou para ele com ar de espanto.
- Você também?
Ele assentiu com a cabeça.
Qual é a sua dúvida?
- Acho que não fomos muito espertos - ela disse. – Nosso filho nunca chegará aos cinco
anos de idade, e vamos ter de criá-lo ao mesmo tempo em que estaremos lutando para
sobreviver.
- Pior ainda - ele disse. - Se estivermos lutando para sobreviver, deveremos nos
esconder em algum lugar seguro. Talvez o bebé fique protegido por uns tempos. Mas já
declaramos nossa fé.. Somos inimigos da ordem mundial e iremos nos limitar a ficar
sentados e protestar silenciosamente.
- Terei de tomar cuidado - disse Chloe.
- Ah, como não! - ele disse em tom de zombaria. – Até parece que você não está
tomando cuidado desde já.
Ela permaneceu deitada em silêncio. Finalmente disse:
- Então acho que vou ter de tomar mais cuidado ainda,
não?
- Talvez. Eu só gostaria de saber se estamos agindo certo
em relaço ao bebé.
- De qualquer forma, agora não podemos mais mudar de ideia, Buck. Então, qual é o
52
problema?
- Estou preocupado, só isso. E não tenho ninguém mais com quem conversar.
- Eu não gostaria que você falasse disso a outra pessoa.
- Então me diga que não devo me preocupar ou que está tão preocupada quanto eu ou
coisa parecida. Caso contrário, vou deixar o bebé por sua conta e começar a tratá-la como
se
você fosse uma débil mental.
- Você sempre foi bastante esperto para não fazer isso, Buck. Já percebi.
- Ah! sim, mas às vezes acho que devia ser mais esperto. Alguém tem de cuidar de você.
Gosto quando você me controla um pouco. Não me sinto humilhado. Gosto e preciso disso.
Compartilhe com seus amigos: |