injetou alguma substância venenosa em seu organismo. Se eles tiverem acesso à
amostra de sangue que enviei, vão me desmentir ou provar que estou errado.
Eles caminharam até o túmulo e pararam ali, em silêncio.
- Eu gostaria de colocar uma placa ou um sinal qualquer neste lugar - disse Rayford -,
mas seria apenas uma indicaço para nós, que sabemos quem era a esposa de Donny e
onde ela está agora. Não devemos chamar a atenção para este lugar.
Rayford sentiu-se profundamente agradecido por saber que a sede do Comando
Tribulaço localizava-se na casa que um dia pertencera a essa mulher. Ele não pôde
deixar de pensar no número de mortes recentes de pessoas de seu relacionamento. A
lista foi aumentando até alcançar Amanda. Ele já havia sofrido muitas perdas e temia
sofrer outras tantas antes de chegar a sua vez.
Floyd Charles deu um rápido giro com Rayford pelo local enquanto ambos conversavam
sobre suas respectivas situaçes. Rayford ficou impressionado com a casa, principalmente
com o abrigo subterrâneo que Donny construíra. Por certo, chegaria o dia em que todos
eles teriam de morar embaixo da casa, e não dentro dela. Porém ninguém sabia quanto
tempo ainda levaria para chegarem a esse ponto. Nada podia ser previsto, a não ser os
julgamentos do céu meticulosamente descritos nos apontamentos bíblicos de Tsion. Quem
sobreviveria - e por quanto tempo -, eram indagaçes que estavam sob o controle e o
tempo determinados por Deus.
Ao longo da vida, Rayford já tinha ouvido a respiração de um moribundo, mas agora a
frágil figura de sua ex-colega de trabalho, amiga e por quem ele sentira uma certa atraço
causava-lhe agora uma estranha emoço. Ele ficou em pé ao lado de Hattie,
compadecendo-se dela, torcendo para que ela melhorasse e orando por ela.
Evidentemente, Rayford queria extrair o que Hattie sabia sobre Amanda, mas não seria
tão egoísta a ponto de desejar que ela sobrevivesse apenas para contar-lhe alguma
coisa. Ele afastou carinhosamente uma mecha de cabelo da testa dela. A fraca iluminaço
do ambiente não lhe permitia enxergar se havia ou não a marca dos escolhidos de Deus.
O Dr. Charles balançou a cabeça negativamente.
- Ela tem conversado muito ultimamente, mas, por enquanto, não tomou nenhuma
decisão. Pelo menos do modo que gostaríamos.
- Chloe achou que ela estava muito perto de se decidir - disse Rayford. - O Senhor sabe
que ela já recebeu informaçes suficientes. Não sei o que mais será necessário.
- Eu tenho insistido com ela o tempo todo - disse o médico. - Ela é teimosa. Está
esperando não sei o quê. Já fiz tudo o que podia.
- Ore para que ela tenha mais um dia de vida – disse Rayford. - E me acorde se ela
esboçar alguma reação.
- Você quer tomar algum comprimido que o ajude a dormir?
Rayford ergueu as sobrancelhas.
- Não imaginei que você fosse favorável a essas coisas.
- Sou criterioso. Eu não tomo nada para dormir, mas me preocupo com gente como você
que viaja muito.
- Nunca sofri de insônia.
- Que bom!
Rayford virou-se para subir a escada e parou.
- E quanto a você, doutor? Está tendo problemas para dormir?
18
- Eu já lhe disse, não tomo esses comprimidos.
- Não foi o que eu perguntei.
O Dr. Charles abaixou os olhos e balançou a cabeça.
- Como você adivinhou?
- Desculpe-me a franqueza, mas você parece exausto. Floyd limitou-se a assentir com a
cabeça.
- Você quer conversar? - perguntou Rayford.
- Você está cansado.
- Ei, doutor, pelo que entendi, você abandonou o hospital para fazer parte de nosso
grupo. Somos uma família. Eu sempre tenho tempo para minha família.
- O fato é que eu não esperava falar disso a ninguém enquanto todos não tivessem
retornado.
Rayford pegou uma cadeira da cozinha.
- Sobre o quê?
- Estamos na mesma situação, Rayford.
- Livres da CG, você quer dizer? Você foi demitido?
- Tenho um colega crente no hospital. Eu estava conversando com ele no meio da noite,
aparentemente enquanto Ken tentava ligar para mim. Meu colega me disse que não sabia
onde eu estava e não queria saber, mas recomendou, de amigo para amigo, que eu
desaparecesse.
Rayford deu-lhe um aperto de mão.
- Bem-vindo ao grupo. Você acha que alguém o seguiu
até aqui?
- Não. Tomei muito cuidado. Mas tenho me ausentado tantas vezes do hospital que talvez
estejam desconfiados de mim.
- Se eles não sabem de seu paradeiro, você está tão protegido quanto nós.
O Dr. Charles encostou-se na geladeira.
- O problema é que não quero ser um peso para vocês. A CG pagava bem, e nunca
negociei meus princípios. Sempre trabalhei muito para salvar vidas e proporcionar alívio
às pessoas.
- Em outras palavras, seu problema de consciência é menor do que o meu no que se
refere a ganhar a vida trabalhando para o inimigo?
- Eu não insinuei nada.
- Eu sei. Você está preocupado por juntar-se ao nosso grupo sem ter meios de sustentar-
se.
- Exatamente.
- Veja a minha situação, doutor. Sou um dos membros titulares e estou desempregado.
Não tenho renda nenhuma.
- Eu gostaria que isso me fizesse sentir melhor.
- Acho que podemos proporcionar-lhe acomodaço e comida em troca de seus serviços
médicos. Veja que sua situação é melhor do que a minha. Sou apenas um piloto a mais e
não tenho avião.
Floyd esboçou um sorriso, mas, em seguida, seus joelhos começaram a dobrar-se.
- Você está bem? - perguntou Rayford.
- Só um pouco cansado.
- Quando foi que dormiu pela última vez?
- Dormi um pouco, mas não se preocupe com...
- Quanto tempo faz que você não dorme?
- Faz muito tempo, mas estou bem.
- Ken! - chamou Rayford. Ritz apareceu na escada que dava para o porão. - Você tem
condiçes de ficar ao lado de Hattie por um pouco de tempo?
- Eu estou bem. Tenho tanta cafeína dentro de mim que posso ficar acordado o dia inteiro.
19
O médico olhou para Ken com ar de gratidão.
- Vou aceitar a gentileza de vocês, cavalheiros. Obrigado. - Floyd fez algumas
recomendações a Ken e subiu penosamente a escada.
Ken sentou-se ao lado da cama de Hattie com a Bíblia apoiada em um dos joelhos e o
laptop no outro. Rayford achou engraçado o modo como Ken olhava por cima dos óculos
de leitura para ver se Hattie estava bem. Ele era uma babá perfeita.
Alguns minutos depois, enquanto descansava no pavimento superior, Rayford ouviu Floyd
roncando no quarto ao lado.
Buck, Chloe e Tsion reuniram-se com a delegação local, dentro do estádio, 24 horas antes
da abertura da cerimônia noturna do Encontro das Testemunhas, para fazerem a revisão
final do programa. Quando retornaram à van, Jacov comunicou que havia um recado para
eles. O motorista leu o que estava escrito em um pedaço de papel: "O Dr. Rosenzweig foi
chamado para comparecer aos aposentos do potentado e retornou com um pedido pessoal
do supremo comandante."
- Eu não posso esperar - disse Buck.
- Não compreendi, senhor - disse o motorista.
- Eu me expressei mal. Você pode nos dizer qual é o ped...
- Não sei de nada, senhor. Fui simplesmente encarregado de levá-los de volta à casa do Dr.
Rosenzweig o mais rápido possível.
Buck aproximou-se de Tsion.
- Você faz idéia do que se trata? O que Fortunato desejaria?
- Talvez Carpathia queira se encontrar comigo. Provavelmente por motivos de relaçes
públicas ou políticos.
- Por que Carpathia nao fez esse pedido diretamente a Rosenzweig?
- Por causa do protocolo. Você conhece, Buck.
- Mas eles são amigos - interveio Chloe - de longa data. Não foi o Dr. Rosenzweig que o
apresentou a Carpathia, Buck?
Buck assentiu com a cabeça.
- Não há dúvida de que Nicolae gosta de manter Chaim em seu devido lugar.
Quando eles chegaram à casa de Chaim, encontraram-no vibrando de entusiasmo.
- Eu não sou tolo, Tsion - disse Chaim. - Sei que você andou falando mal de meu amigo e
discutiu publicamente com ele via Internet. Mas preciso dizer que você tem uma idéia
errada a respeito dele. Posso dizer que ele é um homem maravilhoso, um homem
piedoso. Ele está apenas pedindo humildemente que lhe cedam um espaço na
programaço para mostrar sua boa vontade e...
- Um espaço na programaço! - disse Chloe. - Impossível! O estádio estará lotado de
judeus convertidos que têm certeza de que Nicolae é o anticristo.
- Oh! minha querida - disse Chaim, sorrindo para ela. - Nicolae Carpathia? Ele deseja a
paz mundial, o desarmamento, a união de todos os povos.
- Eu falei exatamente o que penso. Chaim virou-se para seu protegido.
- Tsion, com certeza você pode ver que a única coisa sensata a fazer é convidá-lo
cordialmente para subir ao palco.
- Você conversou pessoalmente com Carpathia, Chaim? Chaim empertigou-se e deu de
ombros.
- Claro que não. Ele é um homem atarefado demais. O supremo comandante Fortunato,
o homem em que ele mais confia...
- Atarefado demais para você? - perguntou Tsion. - Você é um herói nacional, um ícone,
um homem que ajudou Israel a ser o que é hoje! Sua fórmula foi a chave para a
ascensão de Carpathia ao poder. Como ele pode se esquecer disso e se recusar a receber
um velho amigo como...
- Ele não se recusou a receber-me, Tsion! Se eu tivesse pedido, ele teria me concedido
uma audiência.
20
- De qualquer maneira - disse Tsion -, Chloe tem razão. Por mais que eu queira humilhá-
lo, seria uma situação bastante esdrúxula. Que tipo de recepção você acha que ele teria
das 25 mil testemunhas que lotarão o estádio e de outras centenas de milhares que
estão circulando por toda a cidade?
- Com certeza, em nome do amor cristão, elas receberiam o governador do mundo com
cordialidade.
Tsion balançou a cabeça e inclinou-se para a frente, pousando a mão no joelho de seu ex-
mentor.
- Chaim, você tem sido um pai para mim. Gosto muito de você. Eu o acolheria no estádio de
braços abertos. Mas Nic...
- Eu não sou crente, Tsion. Então, por que você não acolhe outra pessoa igual a mim com
a mesma cordialidade?
- Porque ele não é igual a você. Ele é o inimigo de Deus, de tudo que defendemos. Apesar
de você ainda não ser crente, nós não o consideramos um ini...
- Ainda não ser crente! - Chaim jogou o corpo para trás e soltou uma risada. - Você diz
isso com muita confiança.
- Tenho orado por você todos os dias.
- E eu sou muito grato por suas oraçes, meu amigo. Mas sou judeu, de nascimento e de
criaço. Apesar de não ser um religioso, acredito que o Messias virá um dia. Não fique
esperançoso de que eu me torne uma de suas testemunhas. Eu...
- Chaim, Chaim! Você não viu as provas que apresentei no dia em que falei ao mundo
sobre minha conversão?
- Sim! Foi fascinante, e ninguém pode contestar que você não foi convincente. O resultado
está aqui. Mas você não deve achar que todos se convenceram.
Buck percebeu que Tsion não acreditava nas palavras de Chaim.
- Dr. Rosenzweig - disse o rabino -, eu ficaria muito grato se você me permitisse expor-
lhe minhas idéias. Se eu pudesse mostrar-lhe meus textos, meus argumentos, creio que
teria
condiçes de provar-lhe que Jesus Cristo é o Messias e que Nicolae Carpathia é o
arquiinimigo dele. Eu só gostaria de...
- Um dia eu lhe darei este privilégio, meu amigo – disse Rosenzweig. - Mas não na
véspera do dia mais importante de sua vida. E preste atenço no que vou lhe dizer. Eu
teria
mais facilidade de acreditar que Jesus foi o Messias do que acreditar que Nicolae seja
inimigo dele. O inimigo de Jesus não é o homem que conheço.
- Estou munido de força e entusiasmo esta noite, doutor. Por favor.
- Mas eu não - disse Chaim, sorrindo. - No entanto, vamos fazer um trato. Você cede um
espaço a Nicolae na programaço durante a cerimônia de abertura, e eu dedicarei toda a
minha atenção a esses assuntos daqui a algum tempo.
Rosenzweig recostou-se na cadeira, aparentemente satisfeito com sua sugestão. Tsion,
visivelmente frustrado, olhou para Buck, em seguida para Chloe, e deu de ombros.
- Não sei - ele disse. - Francamente, doutor, eu gostaria que um velho e querido amigo
como você ouvisse, sem impor condições, o que um admirador seu está lhe dizendo.
Rosenzweig levantou-se, caminhou até a janela e olhou para fora pelo vão da cortina.
- Nicolae providenciou guardas armados para assegurar que você não sofra o que sua
família sofreu e que não seja novamente banido de sua terra natal. Eu só peço que você
trate o homem mais poderoso do mundo com a deferência que ele merece. Se você achar
que não deve, ficarei decepcionado. Mas esse pedido não está amarrado ao fato de um dia
eu deixar que você tente me convencer de suas idéias.
Tsion levantou-se e enfiou as mãos nos bolsos, dando as costas a Buck e a Chloe.
- Bem, obrigado por tudo - ele disse, quase num sussurro. - Vou ter de orar para saber
o que fazer com o pedido de Carpathia.
21
Buck não podia imaginar como Carpathia conseguiria mostrar o rosto diante de uma
reunião como aquela e qual seria a reação dos presentes. Por que Carpathia se sujeitaria
a tal situaço?
- Tsion - disse Chaim -, preciso dar uma resposta ao potentado ainda esta noite. Eu
prometi a ele.
- Chaim, não terei uma resposta enquanto não orar sobre o assunto. Se o Sr. Fortunato
insistir...
- Não se trata da insistência de Fortunato, Tsion. Eu dei minha palavra.
- Eu não tenho uma resposta.
- Então eu devo dizer a ele que você está orando sobre o assunto, é isso?
- Exatamente.
- Tsion, quem você acha que está cuidando de protegê-lo no estádio Teddy Kollek?
- Não sei.
- É Nicolae! Você acha que meus patrícios ofereceram essa proteção? Você se uniu àqueles
dois do Muro das Lamentações que amaldiçoaram o nosso país, o seu país! Eles se
orgulham de ter provocado a seca que está nos destruindo. Transformaram a água em
sangue, enviaram pragas sobre nós. Dizem que aparecerão no estádio!
- Espero que sim - disse Tsion.
Os dois se encararam, com as mãos caídas ao longo do corpo.
- Meu caro Tsion - disse Chaim -, você vê a que ponto chegamos? Se Nicolae for
corajoso o suficiente para fazer um pronunciamento em um estádio lotado de inimigos, ele
deve
ser admirado.
- Vou orar - disse Tsion. - É tudo o que posso dizer. Quando eles se retiraram para seus
quartos, Buck ouviu
Chaim conversando por telefone com Fortunato.
- Leon, sinto muito...
No final da tarde em Illinois, Rayford foi despertado por ruídos de passos na escada. A
porta de seu quarto foi aberta.
- Você está acordado, Ray? - Rayford sentou-se na cama, desviando os olhos da claridade.
- Devo chamar o doutor? - perguntou Ken Ritz. - Hattie despertou.
- Ela está precisando de alguma coisa?
- Acho que não.
- Então deixe-o dormir. Ela está bem?
- Está querendo conversar.
- Diga a ela que vou descer em seguida.
Rayford caminhou com passos trôpegos até o banheiro e lavou o rosto com água fria. Seu
coraço batia acelerado. Desceu apressado a escada e avistou Ken dando carinhosamente
um copo d'água a Hattie.
- Capitão Steele! - ela chamou com voz estridente e olhos arregalados, acenando para
Rayford aproximar-se. - Você poderia deixar-nos a sós? - ela pediu a Ken. Enquanto ele
se afastava, Hattie estendeu a mão para Rayford. - Nicolae quer me matar. Ele me
envenenou. Ele vai me encontrar em qualquer lugar que eu esteja.
- Como você sabe, Hattie? Como você sabe que ele a envenenou?
- Eu sabia que ele me envenenaria. - A voz dela era fraca e ofegante. - Ele envenenou seu
amigo Bruce Barnes.
- Você sabia disso?
- Ele se orgulhava dessa façanha. Contou-me que se tratava de um veneno lento. Bruce
ficaria cada vez mais doente, e, se tudo corresse de acordo com seus planos, ele morreria
depois de retornar aos Estados Unidos.
- Você tem forças para continuar conversando? – perguntou Rayford. Hattie movimentou a
cabeça afirmativamente. – Eu não quero que você se canse.
- Eu posso falar.
22
- Você sabe alguma coisa sobre Amanda?
Os lábios de Hattie tremeram, e ela desviou o rosto.
- Você sabe? - ele insistiu. Ela assentiu, com ar deplorável. - Então me conte.
- Sinto muitíssimo, Rayford. Eu sabia desde o início e poderia ter lhe contado.
Ele cerrou os dentes. Suas têmporas latejavam a ponto de doer.
- Ter me contado o quê?
- Eu estava envolvida - ela disse. - Não foi idéia minha, mas eu poderia ter impedido.
23
TRÊS
A mente de Rayford girava rapidamente. O máximo que ele se permitia pensar a respeito
de Amanda era que talvez ela tivesse, no início, sido uma espiã. Hattie poderia ter
passado informaçes suficientes a Carpathia sobre Rayford e sua primeira esposa,
fornecendo elementos para que Amanda contasse uma história convincente sobre a
maneira como conhecera Irene. Porém, mesmo que isso fosse verdade, Amanda não
poderia ter simulado a própria conversão. Ele não aceitava essa idéia.
- Carpathia mandou matá-la só porque ela se converteu? Hattie olhou firme para Rayford.
- O quê?
- Hattie, por favor. Eu preciso saber.
- Você vai me odiar.
- Não. Eu me preocupo com você. Sei até que você se sente mal por ter tomado parte
nisso. Conte-me a verdade.
Hattie voltou a deitar-se, ofegante.
- Foi tudo uma farsa, Rayford. Tudo.
- Amanda também?
Ela fez um movimento afirmativo com a cabeça e tentou sentar-se, mas precisou da ajuda
de Rayford.
- Os e-mails eram falsos, Rayford. Fui treinada a fazer isso. Eu vi todos eles.
- Os e-maüsi
- Os anônimos para Bruce. Nós sabíamos que alguém os encontraria. E também aqueles
entre Nicolae e Amanda, e vice-versa. Amanda nem sequer sabia que eles estavam no
disco rígido do computador dela. Estavam criptografados e codificados. Ela teria de ser
uma especialista no assunto para descobri-los.
Rayford não sabia mais o que perguntar.
- Mas eles pareciam ter sido escritos por ela, da maneira como ela se expressava. Fiquei
muito assustado.
- Nicolae tem especialistas treinados para essa missão. Eles interceptaram todos os seus e-
mails, Rayford, e usaram o estilo de Amanda contra ela.
Rayford sentia-se exaurido. Os soluços brotavam com tanta força de dentro dele que
parecia que seu coraço e pulmões iam estourar.
- Então ela era o que sempre acreditei que fosse? – ele perguntou.
Hattie assentiu com a cabeça.
- Ela era mais, Rayford. Ela o amava demais, era completamente dedicada a você. Eu me
senti tão desprezível na última vez que a vi que não tive coragem de contar nada a ela. Eu
sabia que devia. Eu queria contar. Mas o que fiz foi horrível demais, maldoso demais. Ela
sempre gostou de mim, desde o início. Sabia o que havia se passado entre você e mim. Nós
duas discordávamos sobre tudo o que era importante na vida, e, mesmo assim, ela gostava
de mim. Eu não podia contar a ela que ajudei alguém a tentar transformá-la em uma
traidora.
Rayford balançava a cabeça, tentando assimilar tudo.
- Obrigado, Hattie.
Então, o motivo para Amanda não ter o selo de Deus na testa, quando Rayford viu a
imagem grotesca e cadavérica de seu rosto, foi porque o avião afundou antes que a
marca ficasse visível na testa dos crentes.
A confiança de Rayford em Amanda havia sido restaurada, e ele nunca duvidara da
salvação dela. Mesmo quando se sentiu forçado a se questionar por que Amanda se
aproximara dele, Rayford nunca duvidou da devoço sincera de sua esposa a Deus.
Rayford ajudou Hattie a deitar-se.
24
- Vou buscar alguma coisa para você comer - ele disse. - E, depois, vamos conversar sobre
você.
- Poupe-me dessa conversa, Rayford. Faz dois anos que você e seus amigos estão
tentando me convencer. Não há nada que você possa me dizer que eu não saiba. Eu já
lhe
contei o que fiz, e existem coisas muito piores.
- Você sabe que Deus a perdoará.
Ela assentiu com um movimento de cabeça.
- Mas será que Ele deveria? Sinceramente, não acredito.
- Claro que Ele não deveria. Nenhum de nós merece ser perdoado.
- Mas você aceitou o perdão de Deus - ela disse. – Eu não posso aceitar. Eu e Deus
sabemos que não sou digna de seu perdão.
- Quer dizer que você está decidindo se Ele deve ou não perdoá-la?
- Se for em relaço a mim... - É .
- Cheguei à conclusão de que sou uma pessoa indigna e não posso merecer... sua... como
é mesmo o nome?
- Misericórdia?
- Bem, acho que sim, mas eu quero dizer que existe uma diferença muito grande entre o
que pode ser verdade e o que deve ser verdade.
- Seria uma injustiça, você quer dizer.
- Exatamente. Deus me salvar quando Ele e eu sabemos quem sou e o que fiz - seria uma
injustiça muito grande.
Quando o relógio marcava 16h45 na casa de Chaim Rosenzweig, Tsion pediu a Buck e
Chloe que fossem até seu quarto. Buck sorriu ao ver o inseparável laptop de Tsion sobre
uma mesinha. Os três ajoelharam-se ao lado da cama.
- Vamos orar com a delegação no estádio - disse Tsion -, mas pode haver algum
imprevisto de última hora, e não quero iniciar a reunião sem buscar a presença de Deus.
- Posso saber - perguntou Chloe - qual foi sua resposta a Fortunato?
- Eu simplesmente disse a Chaim que não daria meu aval nem agradeceria a presença de
Nicolae. Também não o apresentaria nem pediria a outra pessoa que o fizesse. Se ele
aproximar-se da plataforma, não vou impedi-lo. – Tsion sorriu com ar de cansaço. - Como
seria de esperar, Chaim apresentou argumentos sinceros, advertindo-me a não fazer tal
afronta ao potentado. Mas de que outra maneira eu poderia agir? Não vou dizer o que
gostaria, não vou instigar os crentes a manifestarem insatisfaço pela presença dele, não
vou dizer quem ele é. É o melhor que posso fazer.
- Quando você espera a chegada das testemunhas? - perguntou Chloe.
- Acho que já começaram a chegar.
- Estou falando de Eli e Moisés.
- Ah! Deixei este assunto nas mãos do Senhor. Eles
disseram que estarão lá, e a conferência vai se estender por mais dois dias e duas noites.
Você pode ter certeza de que os recepcionarei com alegria na plataforma sempre que eles
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