Quando contei a Ernie que não fazia parte do Comando Tribulação, ele me contou seu
plano. É por isso que gosto dele.
Gosta que ele ponha nossas vidas em perigo? Gosta que ele seja um oportunista? Um
cavador de ouro?
Ela encolheu os ombros.
Os outros homens de minha vida estão me cansando. Rayford sacudiu a cabeça.
Espero que você se sinta feliz com ele.
Ele está vindo para cá?
- Floyd está tentando despistá-lo, mas talvez não consiga. Chloe não pode receber
oxigênio porque há um garoto seguindo Floyd. Espero que você esteja feliz. Se aquele
garoto souber quem somos, não poderemos confiar nele de jeito nenhum. Teremos de
nos mudar daqui, e para onde iremos? E como poderíamos, tendo uma mulher prestes a
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dar à luz e depois um recém-nascido para cuidar? Você teima em dizer que não é digna
do perdão de Deus, e está tentando provar isso.
Rayford entrou na casa e deixou que a porta batesse com força atrás de si. Ele queria
dizer mais alguma coisa a Hattie, mas não sabia o quê. Ela abriu a porta.
Volte aqui, Rayford. Chloe está com problema?
Talvez. Precisa daquele oxigênio.
Floyd deve ter levado o telefone com ele.
Levou.
Ligue para ele. Deixe-me falar com ele. Rayford fez a ligaço.
Oi, Rafe - disse Floyd. - Ele não entrou no aeroporto atrás de mim, mas, depois que
conheci T, fiquei sabendo o motivo. Estamos pen sando em trocar de carro para ver se o
garoto vai atrás dele. Esta é a vantagem de sermos muito parecidos.
Ótima idéia. Hattie quer falar com você.
Oi, doutor. Preste atenço. Deixe Ernie conversar comigo. Segure o telefone fora da janela
do carro e pare... Acho que sim. Vale a pena tentar.
172
VINTE E UM
ESTOU voando rápido demais!
Buck despertou assustado. Será que Abdullah havia dito alguma coisa?
O que foi? - ele gritou.
Estou voando rápido demais!
Teria Abdullah infringido alguma norma de tráfego aéreo?
- Quer dizer que chegaremos antes do horário programado? - perguntou Buck.
- Sim, mas consumi mais combustível do que planejei. Precisamos reabastecer em Nova
York.
Buck não via a hora de chegar à casa.
Onde você vai pousar? Nova York foi posta em último lugar na lista dos aeroportos a
serem reconstruídos por Carpathia. Talvez porque ele ainda culpe os Estados Unidos por
causa daquela rebelião.
Eu conheço um lugar. Você estará em Wheeling daqui a duas horas.
Buck consultou seu relógio. Eram 19 horas no meio-oeste. Se Abdullah pousasse por volta
das 21 horas para reabastecer, Buck chegaria à casa secreta antes das 22. Não haveria
tempo de tirar outro cochilo.
Sentado ao lado de Chloe, que estava pálida e com os lábios azulados, Rayford imaginava
que a situaço chegaria a um ponto crítico. Ele tinha a sensação de que o bebê nasceria
naquela noite e que teria de fazer o possível para que tudo desse certo.
Está tudo bem, querida?
Sinto-me exausta, papai.
Chloe mudava constantemente de posiço para poder respirar melhor. Rayford sabia que
ela não tinha consciência da gravidade do caso. Quando seu telefone tocou, ele o abriu tão
rápido que quase o deixou cair no chão.
Desculpe-me - ele disse, agarrando o telefone. – Aqui é Steele.
Ray, é Floyd. Transferimos o oxigênio para o jipe vermelho de T, e estou a caminho. Como
está Chloe?
-Sim.
Você está ao lado dela?
Correto.
Em uma escala de zero a dez, em que número você a enquadraria?
Cinco.
Eu deveria pedir que você fizesse mais uma contagem das batidas cardíacas do feto, mas
não há nada que eu possa fazer enquanto não chegar aí.
Rayford levantou-se, deu as costas a Chloe e caminhou até a janela. Hattie continuava do
lado de fora, conversando animadamente ao telefone.
O que está acontecendo com T? - ele perguntou a Floyd.
Acho que o rapaz da moto mordeu a isca, mas ele vai reconhecer seu antigo patrão. Só
esperamos que ele pare e converse com Hattie.
Não tenho certeza, doutor, mas penso que ele está conversando com ela neste momento.
Venha rápido.
O que está havendo, papai? - perguntou Chloe.
Floyd demorou no hospital mais do que imaginava e teve um pequeno contratempo no
caminho de volta, mas já está vindo com o oxigênio.
Ótimo. E ele achou que podia aguardar até amanhã.
Era o que ele esperava.
Vai ficar tudo bem com o bebê, não?
173
Sim, desde que você continue a fazer o exercício de respiraço até o oxigênio chegar.
Rayford estava ansioso por conversar com Hattie.
Vou tomar um pouco de ar lá fora - ele disse.
Vá - ela disse, com um leve sorriso.
Faça deste jeito, Ernie - Hattie estava dizendo, de costas para Rayford, quando ele fechou
a porta atrás de si. – Prove que você é homem.
Ao ouvir o ruído da porta, ela desligou o telefone.
Consegui acalmá-lo - ela disse.
Conseguiu? Como?
Eu contei a ele qual era a situação e que seria uma estupidez minha pedir-lhe que viesse
até aqui. Disse que talvez você me leve a Palwaukee um dia destes, se eu estiver melhor.
Quem sabe? O que ele vai fazer agora?
Voltar para casa, acho.
Ele mora no aeroporto.
Foi o que eu disse.
Ele foi atacado pelos gafanhotos no mesmo dia em que você foi. Como ele está?
Muito fraco, mas disse que gostou de voltar a pilotar sua moto.
O telefone de Rayford tocou.
Com licença, Hattie - ele disse, mas ela não saiu do lugar. - Devo entrar ou você entra?
Desculpe-me! - ela disse, afastando-se.
Aqui é Steele.
É T. O pobre do Ernie mudou de cor três vezes quando descobriu que era eu quem dirigia
o carro. Ele quis fugir, mas eu disse: "Sua amiguinha quer falar com você." Ele pegou o
telefone, e a primeira coisa que disse foi: "Não, não é." Tenho certeza de que minha voz
não é parecida com a do Dr. Charles, e ela deve ter perguntado a Ernie quem eu era. Em
seguida, ela deve ter dito ao rapaz para cair fora porque ele se desculpou e disse sim
mais de uma dúzia de vezes.
Ela me contou que o fez desistir da idéia dizendo que se encontraria com ele em outra
ocasião.
Faz tempo que o doutor saiu. Ernie está fora da jogada. Ele voltou para Palwaukee. Pelo
menos foi o que ele disse.
Você tem compromisso para esta noite, T?
Mandei o resto do pessoal para casa e pretendo cuidar da chegada de Buck. Recebemos
uma mensagem de Nova York dizendo que eles reabasteceram e devem chegar aqui por
volta das 21 horas. Você sabia que seu genro está voando em um Z-Dois-Nove?
Um caça egípcio? Você está brincando.
Foi o que disseram. O vôo de Nova York até aqui pode ser feito em uma hora. Mas você me
ligou para quê?
Fique de olho em Ernie. Não confio nele nem em Hattie.
O que ele pode fazer? Não sabe onde vocês estão.
Ele poderá me seguir quando eu for pegar Buck. Quem sabe o que se passa na cabeça
desse rapaz?
Se Ernie estiver por aqui quando Buck chegar, não vou permitir que ele saia das minhas
vistas. Está bem assim?
Buck teve uma sensação de claustrofobia quando Abdullah cruzou o espaço aéreo de Ohio,
mas o desconforto deu lugar à euforia. Seu objetivo final era ver Chloe. O problema que
ela estava enfrentando com a gravidez estava fora de seu alcance. Ele só podia orar.
Juntos, eles venceriam qualquer coisa. Os próximos anos que lhes restavam também não
seriam nada fáceis.
Ele inclinou o corpo para a frente e tocou no ombro de Abdullah.
Obrigado por me trazer até aqui, amigo!
Obrigado por me contratar, senhor. Conte depois a McCullum como a viagem foi agradável.
Buck riu mas não deixou que Abdullah percebesse. Ele jamais voltaria a viajar em um
174
caça, mas estava agradecido por poder voltar para casa.
Está tudo bem? - ele perguntou. - Rota? Horário? Combustível?
Tudo certo, Sr. Williams. Vou precisar de um lugar para dormir.
Creio que há acomodações no aeroporto. Eu gostaria de convidá-lo para dormir em nossa
casa, mas estamos escondidos e não temos condiçes de hospedar ninguém.
Eu preciso de pouca coisa - disse Abdullah. - Só um lugar para dormir e uma tomada
elétrica.
Para seu computador?
Ben-Judá.
Buck fez um movimento afirmativo com a cabeça. O que mais precisava ser dito?
Rayford nunca se sentiu tão feliz ao avistar um veículo chegando pelo lado norte da casa.
Ele correu para ajudar Floyd a descarregar os tubos de oxigênio.
Eu tomo conta deles, doutor. Entre para ver Chloe.
Deixe um dos tubos no carro por enquanto. Ela precisa receber oxigênio o mais rápido
possível.
Rayford entrou na casa um minuto após o médico, mas, assim que ele se aproximou com
o tubo, viu que Floyd já havia ligado o monitor a Chloe. Seu semblante era de
preocupaço. Tsion observava de longe, perto do pé da escada. Hattie estava em pé no
canto oposto, no topo da escada que dava para o porão, com os olhos atentos.
- Vamos lá, minha gente - disse Floyd -, todos devem prestar atenção, a começar pela
paciente. Vamos ter de trabalhar juntos. Quero que o ambiente esteja o mais limpo
possível. Hattie, pegue uma panela grande e...
Mas Hattie parecia não estar ouvindo, limitando-se a olhar para um ponto fixo como se
estivesse em estado de choque. De repente, ela começou a tremer e desceu a escada.
Farei o que for necessário - disse Tsion, arregaçando as mangas.
O bebê vai nascer esta noite? - perguntou Chloe em tom de desespero. - Antes que Buck
chegue?
Não, se eu conseguir evitar - respondeu o médico.- Mas você precisa ficar calma. Só fale
o estritamente necessário.
- Está bem - ela disse -, mas preciso saber de tudo o que está acontecendo, e falo sério.
O médico olhou para Rayford, que levantou as sobrancelhas e assentiu com a cabeça.
Conte a ela - ele disse.
Está bem, Ray. Ligue o oxigênio a ela. Chloe, está havendo um decréscimo significativo na
pulsação do feto. Não tenho aparelho para verificar a posiço do cordão umbilical e não
gostaria de fazer uma cesariana aqui. Uma viagem de carro até o Young Memorial seria
negativa do ponto de vista médico.
Chloe, que já havia recuperado um pouco a cor rosada, retirou a máscara de oxigênio da
boca.
Negativa do ponto de vista médico? - ela disse. – Você não vai me acalmar usando essa
linguagem complicada. Você quer dizer que eu morreria durante a viagem?
Esta é uma pergunta inútil. Você não vai viajar até lá. Agora fique quieta. Tsion, faça
apenas o que eu lhe pedir. Mantenha as mãos limpas. Ray, lave as mãos também. Traga-
me duas cadeiras. Puxe aquelas duas luminárias e coloque uma delas acima da mesa. Dê-
me aquele frasco de remédio.
Assim que a sala foi preparada e iluminada da melhor maneira possível, os três homens
carregaram Chloe e a colocaram em cima da mesa de parto improvisada.
Onde está minha dignidade? - ela resmungou por trás da máscara.
Quieta! - disse Floyd, beliscando o pé dela por brincadeira.
Eu preciso fazer uma pergunta - disse Tsion, que estava perto do fogão. - Como você vai
decidir se haverá necessidade de uma cesariana?
Ela só será necessária se a pulsaço do bebê diminuir demais ou parar. Aí, então, vamos
ter de fazer o que for preciso. Chloe estará meio zonza naquele momento, portanto ela
175
terá de decidir agora. Você será anestesiada, Chloe, mas não tanto quanto eu gostaria
para uma cesariana. Agora...
Nem uma pergunta sequer - ela disse, apesar da máscara de oxigênio. - Cuide do bebê e
preocupe-se comigo depois.
Mas se...
Não discuta comigo, doutor.
Está bem, mas tudo o que temos aqui é precário. Eu gostaria de não precisar fazer parto
induzido. Vou adiar o mais que puder, na esperança de que a pulsaço do bebê se
estabilize.
Espere até Buck chegar - disse Chloe.
Nem mais uma palavra - disse o médico.
Desculpe-me, Floyd - ela murmurou.
O que vai acontecer quando eu tiver de sair para buscar Buck? - perguntou Rayford depois
de consultar seu relógio.
Francamente, vou precisar de você aqui. O carro de Buck ainda está no aeroporto. Ele
pode vir sozinho.
T vai ficar sem conduço.
Ele poderá vir junto com Buck e pegar o carro dele aqui.
T não quer saber o caminho até aqui. Assim, ficará mais fácil para ele se alguém lhe fizer
perguntas.
Mas você confia nele - disse o médico.
Totalmente.
É um risco que ele tem de correr.
Abdullah entrou no espaço aéreo de Illinois alguns minutos antes das 21 horas.
Buck ligou para Rayford.
Quer dizer, então, que vou levar T comigo?
E tome cuidado para não ser seguido. É uma longa história.
Estamos sempre observando se há alguém atrás de nós. Quem é desta vez?
T lhe contará tudo. Trata-se de um rapaz que mora no aeroporto.
Abdullah vai dormir lá. Vou pedir que ele fique de guarda.
Abdullah! Você está viajando com Abdullah Smith?
Eu não sabia que você o conhecia.
Quero falar com ele!
Buck bateu de leve no ombro de Abdullah e disse:
Meu sogro quer falar com você. Rayford Steele. Abdullah virou quase todo o corpo para
trás.
Rayford? Verdade?
Rayford rapidamente pôs Abdullah a par da situação. Vou tomar conta para que ele não
vá a lugar nenhum - disse o piloto. - Você me conhece.
E como! A que horas está prevista a chegada?
Quatorze minutos, mas calculo onze.
Rayford desligou o telefone e disse que ia ver Hattie. Depois de descer três degraus, ele
curvou-se e viu que ela se encontrava encolhida em posiço fetal sobre um velho sofá. Ele
balançou a cabeça e subiu novamente.
O que vamos fazer, doutor?
Vamos induzir o parto, mas posso começar esse procedimento bem devagar para que
Buck chegue a tempo.
Todos concordam? A pulsação do feto ainda não chegou a um nível crítico, mas chegará
dentro de uma hora. Por mim, eu começaria a aplicar o soro desde já.
Chloe apontou para Floyd.
- Ela está dizendo que a decisão é sua, doutor - explicou Rayford.
- Aeroporto pequeno - disse Abdullah ao fazer as manobras de pouso.
Mas não é pequeno demais para você, certo?
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Sou capaz de pousar em um envelope sem destruir o selo.
Buck não conseguiu parar de rir até descer do avião, talvez por causa da tensão nervosa.
Ele esticou tanto o corpo que chegou a sentir tontura, e imaginou que se partiria em dois.
- Aquele sujeito que conversou com você pelo rádio era T - disse Buck a Abdullah. - Ele vai
indicar um lugar para você dormir e talvez o apresente a Ernie. Você sabe o que fazer.
Abdullah sorriu.
Menos de dez minutos depois, Abdullah estava tirando suas roupas da sacola ao lado do
quarto de Ernie. Buck e T trocaram números de telefone com Abdullah. Buck sentou-se ao
volante do Rover, e ambos partiram.
Vocês devem ter passado por momentos emocionantes - disse Buck.
Ainda vamos ter outros tantos pela frente.
Não vejo a hora de chegar. Vou ligar para Chloe.
Não seria conveniente. Entendi que ela está recebendo oxigênio e que o médico vai induzir
o parto, mas eles estão protelando até você chegar.
Buck pisou fundo no acelerador. O carro começou a sacolejar, e eles tiveram de se segurar
com uma das mãos no teto.
- O que é aquilo? - disse Buck, olhando pelo espelho retrovisor e, em seguida, fazendo
uma manobra rápida para não bater em uma gigantesca pilha de concreto que havia na
Estrada Willow e da qual ele não se lembrava.
Não estou vendo nada - disse T, olhando para trás. Buck deu de ombros.
Pensei ter visto uma moto. T olhou para trás novamente.
- Se houver uma moto atrás de nós, está com o farol apagado. Deve ser sua imaginação.
Buck olhou no espelho retrovisor novamente. Será que estava vendo coisas? Seria melhor
ter deixado T dirigir o carro, mas ele não conhecia o caminho.
- Você quer que eu ligue para Abdullah? - perguntou T. - Só para termos certeza de que
Ernie continua lá?
- Talvez seja melhor. T fez a ligação.
- Como vão as coisas, meu amigo?... Tudo bem?... Sim, ele é um cara legal. Você não
permitiria que ele lhe passasse a perna, não?... É apenas uma expressão que usamos
aqui. Significa enganar, ludibriar, passar alguém para trás... Assim é que se diz, Abdullah.
É melhor você dormir um pouco. Você distraiu o rapaz por um bom tempo.
Buck e T estacionaram no quintal da casa secreta quando faltavam poucos minutos para
as dez horas. Antes que o motor parasse de funcionar, Buck já estava fora do carro.
Chloe, que acabara de sentir a primeira contraço, sorriu feliz ao vê-lo. O Dr. Charles o
cumprimentou com um gesto de cabeça e apontou para uma pia.
- Em primeiro lugar, o mais importante de tudo - ele disse. Buck se lavou, aproximou-se
de Chloe e segurou-lhe a mão.
Obrigado, meu Deus - ele disse em voz alta. - Eu não queria perder este momento.
Eu também quero orar - disse Tsion.
Eu gostaria que você orasse - disse Buck.
Doutor, você tem permissão para ficar de olhos abertos - disse Tsion. - Deus Todo-
Poderoso, estamos gratos por tua bondade e proteção. Obrigado por teres trazido Buck
até aqui. Sabemos que não podemos contestar tua soberana vontade, mas suplicamos-te
que o parto seja bem-sucedido, que o bebê seja perfeito e que Chloe seja uma mãe
saudável.Necessitamos deste pequenino raio de sol em um mundo tão tenebroso. Atende
ao nosso pedido, Senhor, mas, acima de tudo, seja feita a tua vontade.
Rayford teve um sobressalto ao ouvir o som de alguém dando partida no carro no quintal.
Ele correu os olhos pela sala, olhou para T e disse:
Hattie.
Corra atrás dela! - gritou Buck. - Ela não pode nos expor desta maneira!
Chloe tentou sentar-se.
- Relaxe, Chloe! - disse Floyd. - Buck e Tsion darão conta do recado se vocês dois
precisarem ir atrás dela. Mas fiquem longe daqui.
177
Rayford passou apressado por T, desceu correndo a escada e saiu. Ele ouviu o som do
motor de uma motocicleta, e o Rover não estava mais ali. Rayford e T pularam dentro do
jipe de T, mas as chaves não estavam no contato. Rayford voltou a entrar correndo na
casa.
Floyd! As chaves!
Droga! - disse Charles. - Tsion, pegue-as no bolso do lado direito de minha calça e depois
lave as mãos novamente.
Tsion atirou as chaves para Rayford, que, instantes depois, já estava rodando com T em
direço a Palwaukee.
No final das contas, Ernie conseguiu seguir você.
Impossível - disse T. - Conversamos com Abdullah, e ele disse que Ernie continuava lá.
Mas Buck imaginou ter visto alguma coisa atrás de nós.
Talvez Ernie tenha apontado uma arma para Abdullah, forçando-o a dizer aquilo.
Abdullah foi muito convincente. Conversou tranqüilamente, contou detalhes.
Francamente, Abdullah não seria capaz de nos enganar. Ligue para ele.
Abdullah atendeu após o segundo toque.
- Eu o acordei?... Preste atenção, diga apenas sim ou não. Ernie continua aí?...
Continua?... O que ele está fazendo?... Cavando? Ponha-o na linha. Quero falar com ele.
Rayford sacudiu a cabeça.
Eu lhe disse, ele não seria capaz...
Ernie? Ei, como vai você, rapaz? Está fazendo o quê?... Limpando a casa de Ken? Que bom!
Abdullah disse que você estava cavando... Só varrendo, hein?... Ah, sim, ele deve ter
confundido e pensado que você estivesse cavando. Diga a ele que estaremos aí dentro de
algumas horas.
Buck não podia imaginar o que Hattie estava aprontando. Fazia muito tempo que ele
deixara de tentar adivinhar o que ela tinha em mente. Aonde ela poderia ter ido no meio
da noite? Estaria maluca? Talvez tivesse se sentido enclausurada e quis fugir. Ela poderia
se perder e acabar levando alguém até a casa secreta.
Chloe apertou a mão dele e deu um gemido. Buck olhou para o médico, que ligara o
monitor fetal à cabeça do bebê através do útero. Floyd disse que a situação estava sob
controle e que ele se sentia mais animado.
- O bebê vai nascer esta noite - ele disse. - E vai dar tudo certo.
Buck deu um longo suspiro, eufórico demais para perceber o quanto estava cansado. Mas
ele também era um homem realista e sabia que Floyd demonstrava otimismo por causa
de Chloe. Buck sentia-se feliz por estar ali, apesar de tudo o que acontecera. Ele não
queria que Chloe passasse por tudo aquilo sozinha, qualquer que fosse o desfecho.
- Então, Ernie é mesmo um cavador de ouro - disse Rayford. T assentiu com a cabeça.
E aposto cem contra um que Bo também já deve ter recebido alta do hospital. Seria
conveniente verificar?
Claro.
Que estranho! - disse T alguns minutos depois, cobrindo o fone com a mão. - Informaram
que ele ainda está internado.
Peça para falar com ele. Não, espere. É melhor chamar Leah. Eu falo com ela.
T pediu para falar com Leah e passou o telefone a Rayford.
Leah, aqui é Rayford Steele, amigo do Dr. Charles.
O que está havendo agora? - ela perguntou secamente.
Precisamos saber se um paciente pode ter saído daí sem receber alta. O nome dele é Bo
alguma coisa. Espere um instante, vou...
Beauregard Hanson - ela disse. - Não temos muitos Bos aqui, você sabe. Sim, ele
continua internado.
Você tem certeza?
Quer que eu verifique?
178
Você poderia?
Isto é simples comparado a tudo o que já fiz por vocês.
É por isto que nós amamos você.
Aguarde na linha.
O Dr. Charles parecia animado, o que fez Buck se sentir melhor.
- Estamos fazendo a coisa certa - disse o médico. - Não podíamos aguardar mais, e já faz
um pouco de tempo que o pulso está batendo em ritmo constante. Vai dar tudo certo.
Você está se sentindo bem, mamãe?
Chloe, que transpirava muito, fez um movimento afirmativo com a cabeça.
- Ele foi embora?
- Sumiu daqui - disse Leah. - Eu não gostei dele nem do rapaz que estava no mesmo
quarto. Ele desapareceu hoje cedo sem dizer nada, se não eu teria tomado conhecimento.
Ficamos lhe devendo este favor, Leah - disse Rayford.
Só este?
Está bem, Leah. Algum dia nós a recompensaremos.
Ah, sim - ela disse. - Talvez daqui a cinco anos ou mais.
- Eu gostaria que meu pai estivesse aqui - disse Chloe.
Talvez ele volte a tempo - disse Buck. - Quando você acha que o bebê vai nascer, doutor?
Não quero precipitar nada. Às vezes, o soro é suficiente para apressar o parto. Tudo
depende da mãe e da criança. Mas por enquanto está tudo bem, e é isto o que interessa.
Amém - disse Tsion.
Buck nunca vira o rabino tão empolgado.
- Você acreditou nesta história? - perguntou Rayford, sacudindo a cabeça. Os dois são tão
idiotas que nem sabem que foram seguidos.
O Rover estava estacionado, com o motor ligado, em frente ao barraco que havia sido a
casa de Ken e que agora abrigava Ernie e o hóspede temporário Abdullah. T estacionou o
jipe a cerca de 15 metros e desligou o motor e os faróis. Ambos ficaram observando de
longe.
- Abdullah sabe tomar conta de si - disse Rayford -, mas está sozinho contra os outros.
T desceu do carro.
- Vamos ver o que eles estão aprontando.
Quando os dois se aproximaram do barraco, ouviram vozes lá dentro.
- O motor do Rover deve continuar ligado - disse Rayford -, para que eles não percebam
que estamos aqui.
Rayford e T agacharam-se perto de uma janela com a cortina fechada.
- Deixe-me ver se entendi - estava dizendo Abdullah. -
Você vai me dar um bloco de ouro maciço para eu levá-la até a Nova Babilônia.
Exatamente - disse Hattie.
E esse ouro lhe pertence?
Pertence ao meu noivo.
Este jovem aqui é seu noivo?
Sim, sou! - disse Ernie. - Eu vou dar esse ouro a você. Vamos, aceite.
Você já pensou - disse Abdullah - que esse ouro vale dez vezes mais o que eu cobraria
pelo vôo?
Mas nós queremos partir já - disse Hattie. - E eu sei o quanto essa viagem vale.
Se vocês querem ir embora já, escolheram o piloto errado. Não posso voar 24 horas
seguidas.
Carpathia rescindiu todas as leis aéreas internacionais -disse Hattie. - Eu sei. Trabalhei
para ele.
Você fez mais que trabalhar para ele, madame. Não foi noiva dele? Quantos noivos você
179
tem?
- Um a menos, se não sairmos rápido daqui - ela disse.
Rayford fez um sinal a T, e os dois se afastaram a uns 30 metros da janela. Rayford ligou
para Abdullah.
Alô, sim?
Abdullah, é Rayford Steele. Não diga nada. Apenas repita o que vou dizer, certo?
Certo.
Milícia da Comunidade Global?... Roubaram um Range Rover?... Ouro?... Cadeia?... Sim,
pode vir para me interrogar, mas o ouro está aqui e o carro também... Sim, estarei aqui
quando você chegar... Não, eu não quero ser preso.
De repente, Abdullah disse:
Está dando certo, Rayford.
Rayford? - gritou Hattie. - Ernie, espere!
Mas Ernie e Bo já estavam montados na moto, deixando um rasto de poeira atrás
enquanto rodavam para longe do aeroporto.
Rayford e T encontraram Abdullah, que parecia exausto mas orgulhoso de si mesmo.
Hattie estava sentada no chão, encostada em um catre do exército.
- Vamos embora, Hattie - disse Rayford. - Talvez a gente consiga chegar a tempo de
assistir ao nascimento do bebê.
Quatro horas depois, na escuridão da madrugada, Chloe Steele Williams deu à luz um
menino saudável. Em meio às lágrimas enquanto o amamentava, ela comunicou a todos o
nome dele.
Kenneth Bruce.
Até Hattie chorou.
180
EPÍLOGO
"O primeiro ai passou. Eis que, depois destas coisas, vêm ainda dois ais. O sexto anjo
tocou a trombeta, e ouvi uma voz procedente dos quatro ângulos do altar de ouro que se
encontra n a presença de Deus, dizendo ao sexto anjo, o mesmo que tem a trombeta:
Solta os quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio Eufrates. Foram,
então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o
ano..."
Apocalipse 9.12-15
181
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