Rayford obedeceu.
Miklos olhou para ele, depois para sua esposa e, em seguida, virou-se para a luz e
afastou a mecha de cabelo da testa.
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Você vai me dizer que este senhor aqui é o Dr. Ben-Judá?
É ele mesmo, senhor.
Oh, oh! - disse Miklos levantando-se da cadeira e caindo de joelhos no piso de ladrilho. Ele
segurou as mãos de Ben- Judá e beijou-as. Sua esposa juntou as duas mãos diante do
rosto como se estivesse orando e fechou os olhos. - Eu vi que o senhor se parecia com
aquele homem que vimos na TV. É o senhor mesmo!
Vamos, vamos - disse Tsion. - É um prazer conhecê-los, mas a notícia que temos sobre
nosso irmão Ken não é boa.
O taxista parou em um beco atrás de uma casa noturna, onde aparentemente costumava
frequentar. Um segurança veio a seu encontro.
- Não, ele não é um qualquer, Stallion. E não vai entrar. Arrume um turbante e um lenço de
pescoço. Eu lhe pago depois. - Stallion agarrou o australiano pela gola da camisa. - Você vai
receber, seu moleque grandalhão - disse o taxista. - Vamos, arrume o que eu lhe pedi e me
deixe ir embora daqui.
Alguns instantes depois, Stallion atirou o turbante e o lenço dentro do táxi pela janela,
fazendo um gesto de ameaça para o motorista.
- Vou voltar - disse o australiano. - Confie em mim. Buck colocou o turbante na cabeça e
ajeitou o lenço de pescoço por baixo, cobrindo as orelhas e a nuca. Se ele não mexesse
muito a cabeça, ficaria também com uma parte do rosto coberta.
Onde ele conseguiu estas coisas? - perguntou Buck.
Você quer mesmo saber?
Acho que algum bêbado terá uma surpresa quando acordar.
A orelha de Buck havia parado de sangrar, mas ele ainda necessitava de cuidados médicos.
Você conhece algum lugar onde eu possa tomar uma injeço contra infecçes e levar
alguns pontos sem que me façam muitas perguntas?
O dinheiro deixa muitas perguntas sem resposta, companheiro.
Às três horas da madrugada, o taxista deixou-o o mais perto possível do Monte do
Templo. Buck deu uma gorjeta considerável ao australiano.
Pela corrida - ele disse. - Pela Bíblia. E pelas roupas.
Que tal um pouco mais pelos serviços médicos? Buck pagara uma boa quantia a uma
clínica de conceito duvidoso, mas calculou que a corrida em si valia mais alguns dólares.
- Obrigado, companheiro - disse o taxista. - Vou cumprir a promessa e ficar atento às
notícias, mas não vou ficar surpreso se eles já estiverem mortos.
Lukas Miklos possuía um belo carro último tipo e morava em uma casa luxuosa que estava
sendo restaurada após o terremoto. Ele pediu insistentemente ao Comando Tribulaço que
permanecesse ali por uma semana, mas Rayford lhe disse que eles necessitavam apenas
de um bom descanso e que partiriam no dia seguinte ao anoitecer.
- Ken não sabia que vocês eram crentes, sabia?
Miklos balançou a cabeça negativamente.
Quando sua esposa pediu licença para recolher-se, Rayford e Tsion levantaram-se. Ela
sorriu com timidez e curvou a cabeça em sinal de respeito.
-Ela toma conta do escritório - explicou Miklos. – Começa a trabalhar antes de mim.
Depois de instalar-se em uma poltrona confortável, Miklos continuou a falar:
Ken me enviou um e-mail contando o que aconteceu com ele. Pensamos que ele tivesse
ficado maluco. Eu sabia que o governo de Carpathia se opunha à teoria do arrebatamento.
A Comunidade Global me favoreceu tanto nos negócios que eu não queria nem sequer
conhecer alguém que fizesse oposiço a ele.
Você fez muitos negócios com a CG?
Ah! sim. E continuamos a fazer. Eu não me sinto nem um pouco culpado por usar o
dinheiro do inimigo. O pessoal da CG compra quantidades enormes de linhito para suas
114
usinas termoelétricas. Ken sempre disse que o linhito parecia crescer nas árvores de
Ptolemaís. Que bom se fosse assim! Mas ele estava certo. Esta região é rica em linhito, e
sou um dos principais fornecedores.
Por que você não contou a Ken que se converteu?
Porque, Sr. Steele, só me converti quando vi o Dr. Ben- Judá na TV. Não conseguimos falar
com Ken. No computador dele, deve haver um e-mail meu.
Buck aproximou-se o mais que pôde do Monte do Templo antes de se misturar à multidão
que se acotovelava naquele local. Ninguém se atrevia a ficar a menos de 60 metros de Eli
e Moisés, inclusive os guardas da CG – principalmente eles. Muitos civis também portavam
armas, e o clima era muito tenso.
Buck sentia-se em segurança e praticamente invisível na escuridão, apesar de provocar a
ira das pessoas e levar alguns empurrões por forçar a passagem no meio delas. Algumas
vezes, ele ficava na ponta dos pés e via Eli e Moisés fartamente iluminados pelos holofotes
da TV. Eles continuavam a não usar alto-falantes, mas podiam ser ouvidos por toda
aquela região.
-Onde está o rei do mundo? - interpelou Eli. - Onde está aquele que se assenta no trono
da terra? Vós, homens de Israel, sois uma geraço de serpentes e víboras, ultrajando o
Senhor vosso Deus por meio de sacrifícios de animais. Estais vos curvando diante do
inimigo do Senhor, aquele que procura afrontar o Deus vivo! O Senhor que livrou seu servo
Davi das garras do leão e do urso, também nos livrará da mão desse impostor.
A multidão riu, mas ninguém deu um passo sequer à frente, a não ser Buck. Apesar da
dor que sentia e das feridas latejando, ele ansiava por aproximar-se daqueles homens de
Deus. Ao chegar mais perto da cerca, ele constatou que o povo estava menos agressivo e
mais precavido.
-Tome cuidado, homem - alguém disse. - Proteja-se. Não se aproxime muito. Eles
possuem lança-chamas escondidos atrás daquele cómodo.
Buck poderia até ter achado graça daquilo e se sentido revigorado pelas palavras de Eli,
mas a morte horrível de Ken ainda lhe causava muito sofrimento. Ele limpou
instintivamente o rosto, como se o sangue de Ken ainda estivesse ali, e quase chorou de
dor quando passou a mão nos pontos.
Moisés tomou a palavra.
- Servo de Satanás, tu vens contra nós com espada, com lança e com escudo. Nós,
porém, vamos contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus do povo escolhido, a
quem tens afrontado. Não terás força sobre nós até o tempo determinado!
A multidão começou a assobiar, vaiar e gritar:
Matem os dois! Atirem neles! Disparem um míssil contra eles! Atirem uma bomba neles!
Ó homens de Israel - reagiu Eli. - Não tendes temor, mesmo sem água para beber e
chuva para molhar vossas plantaçes? Temos o poder de fazer com que o sol queime
vossas plantaçes e a água se transforme em sangue enquanto estivermos profetizando,
para que toda a terra saiba que existe um Deus em Israel. E todo este povo aqui reunido
saberá que o Senhor não salva com espada nem com lança: porque a batalha pertence ao
Senhor. Ele vos entregou em nossas mãos.
- cabem com os dois! Atirem neles!
O povo ofegava irado e afastou-se quando Buck conseguiu ficar a três metros da cerca. Ele
ainda estava longe das testemunhas, mas, após o que acontecera na noite anterior, sua
atitude parecia ser a de um homem corajoso ou tolo. A multidão silenciou.
Agora, Moisés e Eli estavam em pé lado a lado, sem se mexer, com os braços caídos ao
longo do corpo. Eles olhavam fixamente para a multidão e para Buck, parecendo
determinados a desafiar Carpathia, que dera permissão para qualquer pessoa matá-los
caso aparecessem em qualquer lugar após as reuniões no estádio. E continuavam no
mesmo lugar em que apareceram todos os dias desde a assinatura do tratado entre a
Comunidade Global e Israel.
115
Buck sentia-se atraído na direço deles, apesar de seu desespero para não ser
reconhecido. Mesmo assim, ele avançou um pouco mais, provocando risos de zombaria
diante de sua imprudência.
Nenhuma das testemunhas abriu a boca, mas Buck as ouviu falar em uníssono. A
mensagem parecia ser exclusiva para ele. Será que alguém mais poderia ouvi-la?
- Pois todo aquele que quiser salvar sua vida, perdê-la-á; porém todo aquele que perder
a sua vida por amor de Cristo e do Evangelho, salvá-la-á.
Será que os dois sabiam que Ken morrera? Estariam consolando Buck? De repente, Moisés
olhou para a multidão e gritou:
-Que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder sua alma? Ou o que dará
o homem em troca de sua alma? Porque qualquer um que, nesta geraço adúltera e
pecadora, se envergonhar de Jesus Cristo e das suas palavras, também o Filho do homem
se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.
E, de repente, mais uma vez os dois falaram em uníssono, sem movimentar os lábios,
como se suas palavras fossem dirigidas somente a Buck.
Alguns que aqui se encontram não passarão pela morte antes de verem o Filho do
homem vindo em seu Reino.
Sentindo necessidade de falar, Buck murmurou estas palavras de costas para a multidão
para que ninguém pudesse ouvi-lo:
Queremos estar entre os que não passarão pela morte - ele disse. - Mas perdemos um
dos nossos esta noite.
Buck não conseguiu prosseguir.
O que ele disse? - gritou alguém.
Ele vai ser queimado.
Os dois voltaram a falar diretamente ao coração de Buck.
-Homem nenhum há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou
esposa, ou filhos, ou terras, por causa de Jesus e do Evangelho, que não receba, já no
presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, e com eles
perseguiço; e, no mundo por vir, a vida eterna.
Deus proporcionara a Buck um lugar para viver e novos irmãos e irmãs em Cristo! Buck
desejava muito se aproximar das testemunhas e perguntar o que deveria fazer, para onde
deveria ir. Como ele poderia se reunir à sua esposa depois de passar a ser um fugitivo da
CG? Teria ele de desaparecer dali como fizera quando libertou Tsion?
Um guarda da CG advertiu-o por meio de um megafone para afastar-se daquele local.
- E, aos dois que estão presos - prosseguiu o guarda -, dou 60 segundos para que se
rendam pacificamente. Temos bombas poderosas estrategicamente colocadas, explosivos
e morteiros capazes de atingir um raio de 200 metros. Saiam já, ou não nos
responsabilizaremos por suas vidas! O cronometro será ligado assim que terminar a
última tradução deste aviso. Nesse ínterim, um oficial graduado da Comunidade Global,
sob as ordens diretas do supremo comandante e do potentado, escoltará os fugitivos até
um veículo de nossa propriedade.
Enquanto o aviso era traduzido para vários idiomas, o povo começou a dispersar-se
alegremente, distanciando-se do raio de ação dos explosivos e agachando-se atrás dos
carros e das barreiras de concreto. Buck afastou-se sem despregar os olhos de Moisés e
Eli, cujas mandíbulas estavam cerradas.
Um guarda da CG trajando uniforme militar de gala, mas desarmado, apareceu de
repente, vindo do lado direito, e correu na direço das testemunhas com as mãos para
cima. Quando ele estava a dez metros das testemunhas, Eli gritou tão alto que o homem
pareceu ficar paralisado pelo som que ecoou em seus ouvidos.
- Não ouses chegar perto dos servos do Deus Altíssimo, mesmo sem arma na mão! Salva
tua vida! Procura abrigo nas grutas ou atrás das pedras!
O homem da CG escorregou e caiu. Quando tentou levantar-se para fugir dali, caiu
novamente. Buck continuou a afastar-se, sem tirar os olhos das testemunhas. De um
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galho acima de sua cabeça ecoaram dois tiros de um rifle. O atirador estava a uns quinze
metros de Eli e Moisés, mas Buck não conseguiu ver aonde os projéteis foram parar. Um
sopro de fogo foi expelido da boca de Moisés diretamente no soldado, que se manteve
agarrado à arma até seu corpo em chamas bater com força no piso de pedra. O rifle foi
atirado a uma distância de mais de cinco metros. O corpo do soldado queimou-se
rapidamente até transformar-se em uma pilha de cinzas como se estivesse dentro de uma
fornalha. O rifle também queimou e derreteu.
Um profundo silêncio tomou conta do local enquanto os guardas, o povo e Buck
aguardavam novos estampidos das armas. Buck estava agora no meio dos espectadores
que restaram, escondido sob o telhado de um pórtico nas proximidades. Depois de
passado um minuto, a temperatura baixou como se fosse inverno. Buck tremia
incontrolavelmente. Os que estavam perto dele gemiam e choravam de medo. Uma rajada
de vento fez com que as pessoas se aglomerassem tentando cobrir as partes expostas do
corpo a fim de se protegerem do frio intenso. Começou a cair uma chuva de granizo como
se um caminhão cósmico estivesse despejando, de uma só vez, toneladas de pedras de
gelo do tamanho de uma bola de golfe. Em dez segundos, a chuva parou, e a área ficou
coberta com mais de 20 centímetros de gelo.
A fonte de energia que fornecia eletricidade para os
holofotes da TV começou a pipocar. As luzes se apagaram, e a área ficou mergulhada na
mais profunda escuridão. Simultaneamente, em três locais, algo parecido com caixa de
explosivos detonando emitiu uma série de estouros abafados que, em seguida, se
desintegraram em cinzas.
Este foi o melancólico resultado do ataque criminoso às testemunhas.
Dois helicópteros apontavam seus faróis gigantescos para o Monte do Templo à medida
que a temperatura subia, chegando a ultrapassar 30 graus centígrados, segundo os
cálculos de Buck. O gelo derreteu-se rapidamente, e o som da água corrente era
semelhante ao de um riacho borbulhante. Em poucos minutos, a lama transformou-se em
pó como se o sol estivesse a pino.
A multidão choramingava e lamentava todas as vezes que os helicópteros, rodando em
círculos, iluminavam a área perto do Muro. Eli e Moisés continuavam imóveis, sem mexer
um dedo sequer.
Rayford agradeceu a Lukas Miklos enquanto se dirigia, na companhia de Chloe e Tsion,
para os quartos de hóspedes.
-Você foi uma resposta às nossas oraçes, meu amigo. Tsion prometeu enviar a Miklos
uma lista dos crentes da Grécia.
Lukas, você oraria conosco pelo marido de Chloe, genro do capitão Steele?
Certamente - disse Miklos.
Os quatro deram-se as mãos e curvaram a cabeça. Quando chegou a vez de Miklos orar,
ele disse:
-Amado Senhor Jesus Cristo, protege aquele rapaz.
Amém.
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OUATORZE
ALÉM de emocionado, Buck também sentia-se muito triste e exausto quando pegou outro
táxi que o deixou a dois quarteirões da casa de Chaim Rosenzweig. Sem tirar o turbante e
o lenço, ele aproximou-se furtivamente da casa e constatou que os guardas da CG já
haviam deixado o local. Jonas, o segurança, cochilava em seu posto. Buck teve um
momento de hesitaço. Ele sabia que Jonas e Chaim ainda não haviam se convertido.
Chaim já conhecia a verdade a respeito de Carpathia e não o denunciaria, mas Jonas era
uma incógnita. Buck não sabia se o segurança falava ou entendia inglês, pois o ouvira
proferir apenas algumas palavras em hebraico. Porém, como segurança da casa, ele
deveria conhecer um pouco de inglês; caso contrário, como poderia fazer contato com
visitantes estrangeiros?
Encorajado pelos desafios de Eli e Moisés, Buck deu um suspiro profundo, tocou de leve
um dos pontos do ferimento abaixo do olho, que o incomodava, e caminhou diretamente
para o portão da casa. Ele não queria assustar o homem, mas tentou despertá-lo
atirando uma pedrinha no vidro da guarita. Jonas não se mexeu. Buck bateu levemente
no vidro, e depois com força, mas não conseguiu acordá-lo. Finalmente, Buck resolveu
abrir a porta e tocou levemente o braço de Jonas.
O segurança, um homem robusto beirando os 60 anos, deu um pulo e arregalou os olhos.
Só depois de arrancar o disfarce foi que Buck se deu conta de que seu rosto devia estar
com um aspecto horrível. Os hematomas, o inchaço e os pontos de sutura o haviam
deixado com a aparência de um monstro.
A atitude de Buck ao tirar o turbante e o lenço aparentemente foi considerada por Jonas
como uma afronta. Sem arma na mão, ele pegou uma enorme lanterna presa no cinto,
apontou-a para Buck e deu um passo para trás. Buck desviou o olhar do foco da lanterna,
receando levar um soco no rosto machucado.
Sou eu, Jonas! Cameron Williams!
Jonas colocou a mão livre sobre o coraço, esquecendo-se de abaixar a lanterna.
Oh, Sr. Williams! - ele disse em um inglês tão precário que Buck mal conseguiu
reconhecer seu nome. Finalmente Jonas apagou a lanterna e usou as duas mãos para
comunicar-se, gesticulando enquanto falava. - Eles - prossegu iu Jonas em tom de medo,
apontando para o lado de fora e movimentando as mãos como querendo dizer que havia
um mar de gente - estar olhando procurando o senhor. - Jonas apontou para os próprios
olhos.
Só eu ou todos nós?
Jonas lançou-lhe um olhar de quem não havia entendido nada.
Só eu? - ele repetiu, confuso.
Procurando só eu? - Buck apontou para si mesmo, tentando imitar os gestos de Jonas. -
Ou também Tsion e minha esposa?
Jonas fechou os olhos, sacudiu a cabeça e levantou uma das mãos.
Não aqui - ele disse. - Tsion, esposa, embora daqui. Voando. - Ele fez o gesto de bater as
asas.
E Chaim? - Buck perguntou.
Dormir. - Jonas colocou a mão na face e fechou os olhos.
Posso entrar para dormir, Jonas?
O segurança olhou de soslaio para Buck, demonstrando hesitação.
Eu chamar - ele disse, esticando o braço para pegar o telefone.
Não! Deixe Chaim dormir! Conte a ele mais tarde.
Mais tarde?
- De manhã - disse Buck. - Depois que ele acordar. Jonas concordou, mas continuava
com a mão no telefone como se fosse discar.
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- Vou entrar e dormir - complementou Buck, interpretando o significado de suas palavras.
- Vou deixar um bilhete na porta do quarto de Chaim para que ele não fique assustado.
OK?
-OK!
- Posso
entrar?
-OK!
- Tudo bem?
- Tudo bem!
Enquanto se dirigia para a porta, Buck virou-se para observar Jonas. O segurança também
o observava. Em seguida, ele colocou o telefone no lugar, acenou para Buck e sorriu. Buck
retribuiu o aceno, mas, ao tentar abrir a porta, constatou que estava trancada. Ele teve
de voltar e pedir a Jonas que a abrisse. Finalmente, Buck conseguiu entrar na casa e
relaxar pela primeira vez desde que o helicóptero levantara vôo do telhado algumas horas
antes. Ele deixou um bilhete na porta do quarto de Chaim sem fornecer detalhes,
mencionando apenas que estava no quarto de hóspedes e que tinha muita coisa a lhe
contar na manhã seguinte. Buck olhou-se no espelho do banheiro. Os ferimentos estavam
horríveis, e ele orou para que a tal clínica tivesse, pelo menos, realizado uma boa
assepsia no local. A sutura parecia ter sido feita por um profissional, mas sua aparência
era medonha - olhos injetados, rosto com hematomas e todo remendado. Ele não
gostaria que Chloe o visse naquela circunstância.
Depois de trancar a porta do quarto, ele se despiu e estendeu-se na cama gemendo de
dor. Em seguida, ouviu um leve toque de seu celular. Devia ser Chloe, mas Buck não
queria levantar-se. Ele rolou de lado e estendeu o braço para pegar a calça. Enquanto
tentava retirar o telefone do bolso, ele se desequilibrou e caiu da cama.
O tombo não foi sério, mas o ruído acordou Chaim. Enquanto atendia ao telefone, ele
ouviu Chaim dizer choramingando pelo interfone: - Jonas! Jonas! A casa está sendo
invadida! Quando Buck terminou de contar toda a história a Chaim e pôr Chloe a par da
situação, o sol já estava começando a despontar no horizonte. Ficou combinado que
Chloe, Tsion e Rayford seguiriam para Monte Prospect e que Chaim tentaria descobrir um
meio de Buck voltar para casa depois de recuperar-se dos ferimentos.
Buck achou que Chaim estava mais zangado ainda do que quando conversou por telefone
com Leon. Ele contou que os telejornais passaram e repassaram a imagem de Buck no
videoteipe conversando com o guarda da CG que foi assassinado alguns segundos depois.
- O teipe deixa bem claro que você não portava arma, que o guarda estava vivo quando
você o deixou, e que você não se virou para trás nem retornou ao local. O tiro dado pelo
guarda passou por cima de sua cabeça, Buck, e o corpo dele girou quando foi atingido a
curta distância pelos rifles poderosos da CG. Todos nós sabemos que os tiros foram
disparados pelas armas dos companheiros do guarda. Mas essa verdade nunca vai ser
divulgada. O assunto será abafado, o guarda será acusado de trabalhar com você ou para
você, e quem sabe o que mais poderá acontecer?
Esse "o que mais" passou a fazer parte das notícias forjadas pela CG. Os telejornais
diziam que um terrorista norte-americano chamado Kenneth Ritz havia sequestrado um
helicóptero de propriedade de Nicolae Carpathia para ajudar na fuga de Tsion Ben-Judá e
seu grupo da casa de Chaim Rosenzweig, onde eles se encontravam em prisão domiciliar.
As notícias davam conta de que Rosenzweig acolhera Ben-Judá em sua casa, bem como o
suspeito de assassinato Cameron Williams e sua esposa, e que ele havia concordado em
mantê-los em prisão domiciliar para serem interrogados pela CG. As cenas da porta que
dava acesso ao telhado da casa do Dr. Rosenzweig, visivelmente arrombada de dentro
para fora, mostravam como os norte-americanos conseguiram fugir.
Um porta-voz da Comunidade Global disse que Ritz foi morto por um atirador depois de
abrir fogo contra a polícia da CG no aeroporto de Jerusalém. Os outros três fugitivos
estariam escondidos em algum lugar do mundo, e havia suspeitas de que Williams, ex-
funcionário da Comunidade Global, fosse um excelente piloto de aviões a jato.
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De volta aos Estados Unidos, os componentes do Comando Tribulação acompanhavam as
notícias atentamente, mantendo contato com Chaim e Buck sempre que possível. Rayford
ficou surpreso diante das melhoras de Hattie em tão pouco tempo. Sua enfermidade,
desespero e obstinação haviam-se transformado em ódio e determinaço. Ela chorava
tanto a perda do bebé que Rayford chegava a acordar assustado com seus lamentos no
meio da noite. Chloe também demonstrava estar irada.
Eu sei que não devemos esperar nada deste sistema mundial, papai - disse ela a Rayford
-, mas sinto- me tão impotente que estou a ponto de explodir. Se não encontrarmos um
meio de fazer Buck voltar para casa, vou até lá sozinha. Você já chegou a desejar ser
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