Projeto Revisoras
67
Agarrava-se às pedras em desespero, e o vapor enchia seu nariz, seus olhos.
Sabia que a terra ia se abrir, e engoli-la...
Gritou, gritou.
A mão da guia maori tocou seu ombro e Sebastian apareceu, como um anjo da
guarda, no meio da fumaceira e ajudou a nativa a levantá-la e libertar sua
perna.
Roxanne agarrou-se a ele, segurando firme, enquanto o vapor diminuía e se
afastava deles. Seus braços eram fortes, sólidos e protetores. Estava em
segurança, graças a Deus!
Ele perguntou preocupado:
— O que aconteceu? Você está bem?
Ela percebeu que sim, reagiu, afastou-se e, apertando os dentes, sacudiu a
cabeça, tentando se livrar do pânico irracional que tomara conta dela.
— Pisei num buraco... Só isso. — Apertou mais ainda os dentes, sentindo que
estava à beira de um ataque de histeria. — Fiquei com medo. Foi o vapor. Não
conseguia enxergar.
Os turistas se aproximaram, e ela sorriu, trêmula. A guia achou que ela estava
muito pálida ainda e sugeriu que Sebastian lhe desse alguma coisa para beber.
— É perigoso andar por aqui sozinha sem ver direito. Melhor ficar junto dos
outros turistas — aconselhou a nativa.
— Obrigado pela ajuda — disse Sebastian. — Acho que já vimos o bastante.
Vamos, Roxanne?
— Você está satisfeito? Não quero atrapalhar.
— Estou, e você viu mais do que o suficiente.
Ao chegarem ao hotel, foram direto para o quarto, tomaram um gim tônica e ela
ficou um pouco tonta. Deitou-se na cama ainda fraca pelo susto e Sebastian
curvou-se sobre ela.
— Melhorou?
— Melhorei. Vou só descansar um pouco, antes de me vestir.
— Você odeia isso aqui, Roxanne. Por que, então, sugeriu que viéssemos para
cá? Não faz sentido.
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
68
— Estava só fazendo graça. É o lugar para onde vão todos os casaizinhos
apaixonados.
Sebastian ficou taciturno e se conservou assim durante todo o jantar. A
orquestra tocava e ela pediu para dançar.
— Como você quiser.
Na pista, ela derreteu nos braços dele, o rosto contra seu peito, os olhos
fechados. Queria estar assim, bem juntinho, sentir que ele a apoiava. Era
simplesmente delicioso. Depois daquela descida ao inferno, subia ao céu. Nada
mais importava. Ela o amava, ela o queria. Quando Sebastian tocou na sua testa
de leve com os lábios, ela ofereceu a boca.
Pararam de dançar e saíram do salão, sem dizer uma palavra. Não havia
necessidade.
Tomaram o elevador, e o ar frio que fazia lá dentro a arrefeceu um pouco. Isto e
o fato de Sebastian tirar o braço protetor da sua cintura ao apertar o botão
indicando o andar. Pôs a mão de leve nas costas dela para guiá-la pelo corredor
atapetado, e, quando acendeu as luzes do quarto, Roxanne temeu que o encanto
tivesse se quebrado.
Foi até a janela e fechou as cortinas, enquanto tirava os sapatos de salto alto.
Levantando os olhos, viu-o parado na soleira, o rosto com expressão fria e
distante.
— Sebastian... — balbuciou, perturbada e ansiosa.
Ele deu alguns passos em sua direção e ela estendeu a mão, convidando,
aceitando.
Abraçou-a com tanta violência, que ela o agarrou, primeiro para se equilibrar, e
depois para demonstrar também o seu ardor, sua alegria e o grande amor que a
sufocava, fazendo o peito doer. O prazer era tanto, que se sentia como se fosse
desmaiar.
Ele parou de beijá-la e deitou-a na cama. Roxanne levantou os braços para
recebê-lo, mas Sebastian continuou sentado, resistindo ao convite.
— Quer que eu vá para a cama com você? Quer fazer amor comigo, Roxanne?
As mãos dela acariciavam seus ombros. Tímida, disse que sim.
— Por favor, Sebastian... querido...
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
69
Em vez de abraçá-la, ele se levantou rápido.
—Você levou um bom susto, está nervosa e abalada. Não aceito o seu convite,
nestas circunstâncias. Quero você bem consciente de estar me querendo. Agora,
no momento', o seu problema é insegurança. Não sou seu ursinho, nem seu pai.
Comece tudo de novo, quando estiver fria e sóbria. Talvez eu me interesse.
A rejeição dele foi como uma bofetada, arrancando-a da nuvem cor-de-rosa.
Lúcida, pensou. Lúcida? Sentiu que nunca mais ia conseguir pedir o amor dele.
Ainda mais, sóbria... Virou-se para o travesseiro e tentou dormir.
CAPÍTULO VIII
Quando Roxanne acordou, Sebastian já não estava mais no quarto. Ficou
prendendo o cabelo num coque, e ele apareceu todo cheiroso, banho tomado,
camisa aberta no peito, calça clara. O cabelo revolto parecia trazer um pedaço
da manhã fresca, lá de fora.
— Por onde andou? — perguntou ela.
— Sentiu saudades? — Não esperou resposta à pergunta irônica. —
Passeando... Quer voltar para casa?
Virou de costas para o espelho, o pente na mão, esquecido. Espantada, até
assustada.
— Para a minha casa — disse ele. — Nossa casa na praia. Deu até para
esquecer?
Com certeza, durante o passeio solitário, tinha chegado à conclusão de que
aquela lua-de-mel não fazia nenhum sentido. Roxanne pensou na casa
escondida, cheia de paz, no ar fresco cheirando a mato e mar, nos arbustos
floridos, no grito súbito das gaivotas. E imediatamente concordou:
— Quero. Só quero. Por favor...
Passaram a manhã fazendo compras e partiram depois do almoço. Roxanne
sentia-se muito menos tensa e Sebastian ia guiando quieto e com o olhar
distante, mas atento à estrada.
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
70
Depois de algum tempo de silêncio, ela disse:
— Desculpe por ter sido tão idiota, ontem... nas grutas.
— Idiota?
Mordeu o lábio e confessou:
— Eu estava apavorada. Quando era criança, quase morri de medo lá, e parece
que fiquei traumatizada. Eu me comportei como uma menininha e estou muito
envergonhada. Mas não espero que você compreenda...
— Por que não?
Roxanne sacudiu os ombros. Não podia imaginar Sebastian com terrores
infantis. Como se tivesse adivinhado as suas dúvidas, ele contou:
— Se você quiser me ver gritar e sair correndo, deixe-me em um lugar fechado,
com uma vespa. Fui mordido na pálpebra, quando menino, e nunca mais
esqueci. Além da dor terrível, fiquei apavorado, pensando que estava cego para
sempre.
Sorria, mas não achava graça. É claro que não sairia correndo aos berros, ela
sabia. Percebeu sua testa suada de repente e compreendeu que até mesmo
aquela lembrança o atormentava. Era estranho... Roxanne imaginou que tipo de
menino ele teria sido. Solitário, com certeza, pelo pouco que deixava escapar de
sua vida familiar e de sua infância.
Tinham feito algumas compras de manhã e escolhido um caminho mais
comprido, que não passava por Waimiro, porque não queriam que ninguém de
lá soubesse ainda que estavam de volta. Ótima idéia, Roxanne achara. Não
queria ter que arranjar desculpas por ter interrompido a lua-de-mel pelo meio.
O pôr-do-sol, como sempre, era lindíssimo naquela região e dava vontade de
parar o tempo naquela hora vermelha. A casa apareceu no meio da folhagem: o
lugar ideal para viver um romance.
Sebastian devia ter pensado o mesmo, pois, assim que pararam em frente da
porta, pegou-a no colo e levou-a até a sala.
— Vamos fazer as coisas como mandam os costumes. Não é assim que a
noivinha deve entrar na casa nova?
Deu-lhe um beijo rápido no rosto, sorriu e foi apanhar as malas. Parecia até um
outro homem!
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
71
Enquanto isso, ela acendeu as luzes, e estava fazendo café, quando ele entrou.
Parou com uma colher de pó de café solúvel encostada na beirada da xícara,
escutando. Percebeu que ele entrava no quarto de casal com as malas. Depois
saiu de novo. Ouviu seus passos se aproximando da cozinha e, sem querer,
suspirou de alívio. Ele não tinha entrado no quarto menor, aquele com a cama
de solteiro.
Deixou o café cair na xícara e não olhou para Sebastian, mas seus dedos
tremiam ao pegar o açucareiro e colocá-lo na mesa.
— Quer comer alguma coisa?
— Posso esperar. Deixei alguns ovos e temos as verduras que compramos de
manhã. Quer cozinhar, ou cozinho eu?
— Pode deixar. — Jogou água quente no café e pôs as xícaras em cima da
mesinha.
Sentaram-se frente à frente, bebendo aos golinhos, porque estava muito quente.
Roxanne mantinha os olhos fixos na xícara, como se estivesse lendo sua sorte lá
no fundo.
— O que é que há? — perguntou ele. Fazendo força para levantar a cabeça, ela
disse:
— Nada.
Olhou-a, desconfiado, acabou de tomar o café de um só gole e levantou-se.
— Vou arrumar minhas coisas. Há bastante lugar para as suas: seis gavetas e
metade do guarda-roupa.
Os olhos dele zombavam.
— Está bem. Arrumo minhas malas depois.
Tinham comprado alguns legumes, carne e leite, concordando tacitamente que
não passariam em Waimiro para as compras. Roxanne fez uma salada de
repolho temperada com mostarda e pimenta-do-reino, que parecia apetitosa e
dava água na boca só com o cheiro picante.
Grelhou bifes e um tomate cortado ao meio, colocando em cima de cada bife um
ovo frito de gema mole e clara muito branca. Arrumou a mesinha da cozinha
em vez da grande, de mogno, que ficava no centro do living e chamou
Sebastian.
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
72
Já estava escuro lá fora e o brilho da luz da cozinha era tão forte que
incomodava os olhos. Sebastian deu uma olhada para a mesa, depois para
Roxanne (como se não acreditasse em seus talentos culinários) e pegou copos e
uma garrafa de vinho tinto no armário.
Quando ela se sentou, ele imediatamente colocou um copo cheio à sua frente.
— Obrigada.
— Você não acha que velas seriam uma boa pedida?
— Achei que você gostaria de ver o que está comendo. Além disso, onde eu
arranjaria velas?
— Pois achou errado, mocinha.
Foi até o armário e pegou dois castiçais de cerimônia e duas velas brancas,
arranjou-as simetricamente em cada canto da mesa e apagou a luz.
Imediatamente, o ambiente ficou acolhedor e simpático.
Assim que ele voltou a se sentar diante dela, Roxanne falou, rapidamente, para
quebrar aquela intimidade:
— Nunca pensei que fosse tão romântico, Sebastian.
— Você tem uma porção de idéias erradas sobre mim, não é, mocinha? Não
acerta uma.
Meio nervosa, começou a comer.
— Não tocou no vinho, Roxanne. Não gostou? Ela deu uma provadinha.
— Está bom, mas muito seco para o meu gosto.
— Tem vinho branco, se preferir. Roxanne não queria.
— Aceita sobremesa? Tem sorvete e frutas em calda.
— Não, eu me arranjo por aqui mesmo. — Ele pegou uma maçã na fruteira e
um pedaço de queijo cheddar. — Quer?
— Só a metade — disse ela, empurrando o prato para o lado dele. Sebastian
cortou a maçã ao meio, depois em quatro, tirando as sementes com a faca, e
colocou dois pedaços no prato dela.
A fruta estava ácida e refrescante, contrastando com o gosto suave do queijo.
Foi um fim gostoso para um jantar agradável. Ela tomou mais um gole de
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
73
vinho, enquanto Sebastian enchia o copo e bebia tudo de uma vez só.
— Café?
— Para mim, não. Obrigado.
— Então, também não quero.
Roxanne tirou os pratos sujos, pôs na pia e foi limpando a mesa, observando
Sebastian esvaziar o terceiro copo. Então, ele se levantou, dizendo:
— Vou abrir uma garrafa de vinho branco para você.
— Não, muito obrigada. Quero ficar sóbria.
Silêncio elétrico, e sentiu o olhar dele procurando o dela. Por que tinha dito logo
aquela palavra?, pensou. Afinal, Sebastian falou pausadamente.
— Humm, isso pode significar muita coisa interessante.
— Significa o que eu disse. Nada mais, nada menos — garantiu, um pouco
rouca. — Bebi demais, ontem.
— E de que você se arrepende? De sua reação tão inesperada? Ou da minha
recusa à sua oferta generosa?
Evitando os olhos dele, Roxanne se dirigiu para a sala, respondendo friamente.
— Talvez tenha me arrependido da dor de cabeça que senti de manhã.
Ele riu, como se duvidasse.
— Talvez...
Apagou as velas e a seguiu, acendendo, um abajur de canto e deixando o resto
do living na penumbra. Pegou o braço dela e sentaram-se no sofá grande,
acomodando-se lado a lado. Ele segurava um copo de vinho e, com o outro
braço, enlaçava seus ombros.
A lua estava grande e gorda, tomando conta de metade do mar. O ar pesava um
pouco e um besouro atarantado bateu no vidro, procurando a luz. Não desistiu
e zumbiu de novo, querendo entrar. Hipnotizado. Como a própria Roxanne,
que fechou os olhos e deixou que o barulho das ondas a embalasse.
— Quer ouvir música?
Ela sacudiu a cabeça, dizendo que não.
Tinha preguiça até de falar. O bater das ondas era o suficiente. Então, lembrou-
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
74
se.
— Ai, preciso desfazer as malas! — e fez menção de se levantar.
— Não se mexa. — Sebastian a segurou, apertando seus ombros e puxando-a
para muito perto, de modo que seus cabelos macios acariciavam o queixo dele.
— Você pode arrumar as coisas depois. Agora, relaxe. Sossegue.
Continuou a bebericar o vinho e, depois de alguns minutos, ela começou a
sentir que a tensão diminuía. Obedeceu, ficando muito quieta, olhos fechados.
O polegar dele acariciava a seda de sua blusa e ela sentia um calor agradável.
Os lábios dele roçavam sua testa, Sebastian pôs o copo no chão para poder
segurar seu queixo, fazendo com que ela se virasse e o encarasse.
Os olhos dele estavam escuros, exigentes e fixos em sua boca. Sentiu um arrepio
na espinha.
— Você está quase dormindo, Roxanne.
— Foi um dia cansativo.
Beijou-a, demoradamente, os dedos em seu pescoço, subindo até o rosto, quase
machucando, experimentando, passeando por sua pele.
Roxanne fechou os olhos, abandonando-se à carícia. Quando a largou, ela só
respirou fundo.
Ainda com o rosto bem junto, Sebastian perguntou:
— Muito cansada para brigar comigo? Abriu os olhos devagar e o encarou:
— Quer que eu brigue com você?
— Não, sua boba! Quero que me responda. Quero sentir você! A voz era macia,
mas havia frustração nos olhos pretos.
Roxanne riu intimamente, satisfeita com a pequena vingança pela noite
anterior. Vendo a sua rejeição e seu desafio, Sebastian começou a se impacientar
perigosamente.
Olhos nos olhos, começou a abrir os botões da blusa dela, um por um...
Descobriu os seios morenos, num sutiã de renda branca. A mão dele escorregou
por suas costas e a outra tocou seus lábios, descendo até o pescoço e depois
escorregou por entre os seios.
Por um longo momento, ela esperou que ele desabotoasse o sutiã. Mas os dedos
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
75
continuaram acompanhando a curva dos seios, enviando pequenas ondas de
prazer para os seus nervos.
Roxanne suspirou, arrepiada:
— Sebastian...
— O quê?
A voz dele era suave, e a mão exploradora parou no fecho do sutiã.
Olhou dentro dos olhos dele, escuros, indecifráveis, procurando achar a
resposta para a pergunta que não ousava fazer. Só viu desejo e interrogação
divertida. Fechando os olhos, vencida, disse:
— Nada. Não é nada.
Virou a cabeça para que ele não visse a sua decepção e seu corpo cedeu nos
braços do marido. Sentia-se profundamente cansada.
Por muito tempo, Sebastian não se mexeu. Depois, encostou-a no sofá e
começou a abotoar sua blusa.
Levou um susto, quando ele a puxou com força, fazendo com que ficasse de pé.
— Vamos — disse. — Vamos passear na praia. Alguma coisa tem que acordar
você.
— Mas está tão escuro — protestou. — Não quero passear na praia nesta
escuridão.
— Conheço o caminho como a palma da minha mão. E é noite de lua cheia.
Abriu a porta do terraço e fez com que ela caminhasse a seu lado, segurando-
lhe o braço.
As árvores começaram a cochichar com a brisa que vinha do mar e um grilo
solitário gritou no meio do mato. O canto agudo de uma ave noturna quebrou o
ruído monótono das ondas.
A areia estava branca e fria à luz da lua, e o vento soprava uma nuvem fina de
água das beiradas das ondas inquietas.
Os borrifos molharam o rosto de Roxanne e ela lambeu o sal dos lábios. A areia
sob seus pés cedia, macia, e a brisa varria até os seus pensamentos. Tirou sua
confusão, sua dúvida, fez com que confrontasse suas próprias emoções.
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
76
O vento aumentou, e ela estremeceu, sob a sua carícia gelada. Sebastian
perguntou:
— Está com frio? — e abraçou-a pelos ombros.
Mas ela respondeu que não, fugindo dele. Tirou os sapatos e correu para o mar.
Uma onda se ergueu, prateada, e ela segurou a saia acima dos joelhos, deixando
a água fria bater nas pernas e sentindo a areia fugir de seus pés, junto com a
maré.
Sabia que Sebastian a observava e escutou a voz dele, quando uma onda maior
alcançou suas coxas.
— Vai nadar?
Ele parecia de divertir.
Estava frio para nadar, mas sentia-se desinibida e corajosa. Saiu da água e
correu para longe dele. Deixou a saia cair na areia e tirou a blusa, depressa.
Sebastian continuou quieto, só observando, enquanto ela entrou na água, sem
olhar para trás. Mergulhou, ficou cega com a espuma que entrava na boca, no
nariz. Enfiou a cabeça de novo na água e sacudiu os cabelos, jogando-os para
trás. Fez concha com as mãos e molhou o rosto uma, duas vezes. Sentiu-se leve
como que batizada, a primeira mulher no mundo, sem culpas, sem remorsos.
Quando ele se juntou a ela, os corpos nus brilhando ao luar, percebeu-se viva,
vitoriosa, e nadou para mais longe, o coração batendo forte. Sebastian alcançou-
a e prendeu-a num abraço. Mas Roxanne conseguiu se desvencilhar, furou uma
onda e riu, pois a onda estourou sobre a cabeça dele.
Estava rindo ainda, quando sentiu a mão forte segurando-a pelo calcanhar.
Prendeu a respiração antes que ele a puxasse para o fundo e depois a largasse.
Agarrou-a pelos cabelos e deu-lhe um beijo salgado. Depois, foi a vez dela de
empurrar a cabeça dele para a água. Brincaram como duas crianças. O corpo nu
de Sebastian era muito moreno, bonito, e a excitava. Mas, pela primeira vez, o
desejo não fazia com que se sentisse culpada. Parecia tão natural estarem ali...
Como se aquilo já tivesse acontecido.
Que gostoso acariciá-lo dentro da água! Que delícia o contato das peles
molhadas. Estavam juntos de verdade, coração com coração, no coração do mar.
Voltaram para a praia, com as ondas que os empurravam de leve, para que
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Projeto Revisoras
77
saíssem. Tinha acabado o ritual. Eram dois seres limpos e bons.
Tremeram de frio. Sebastian vestiu a calça e Roxanne pôs a blusa. Não
conseguia encontrar os sapatos e a saia estava molhada; enrolou-a na cintura e
foram caminhando para casa,
Ela chegou ofegante lá em cima, os braços e as pernas arrepiados. Encolheu-se
de frio e tentou parar de bater os dentes.
— Sua maluquinha! — ele se zangou, quando a viu, depois de fechar a porta. —
Está congelando.
Roxanne riu.
— Mas acordada. Acordadíssima.
Ficou olhando para ela, quase nua, toda molhada, e ela o encarou também, com
os olhos sorrindo em convite e desafio.
— Para o banheiro, mocinha. Agora mesmo!
Seguiu-a, pegou uma toalha felpuda que entregou a ela e começou a se enxugar
também, vigorosamente.
Roxanne enxugou o rosto e esfregou a cabeça, distraída, admirando seu corpo
musculoso. Até se assustou, quando ele colocou a toalha de lado e se
aproximou, tocando seus cabelos ainda molhados, que escorria água pelas
costas.
Sebastian disse:
— É melhor tirar essa blusa encharcada.
— Vou ter que desfazer a mala para vestir alguma coisa.
— E precisa se vestir?
Olhou para ele, depressa, percebendo o tom diferente, e o que viu em seus
olhos a fez corar.
Chegou perto dela, e, pela segunda vez naquele dia, começou a desabotoá-la. Só
que, dessa vez, não parou. Tirou a blusa e jogou no chão. Arrancou a toalha de
suas mãos e colocou-a sobre seus ombros molhados, deixando que os cabelos
caíssem por cima.
— Então, está acordada?
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
(Sabrina 196)
Compartilhe com seus amigos: |