Projeto Revisoras
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CAPITULO III
Nas semanas que se seguiram, Sebastian e Roxanne encontraram-se muitas
vezes. Ele a levava para casa, ou iam ao cinema e depois jantavam. O passeio
preferido era pela orla, apreciando o azul do mar de um lado e as montanhas
verdes do outro.
O vinco de preocupação no rosto de Owen Challis diminuiu, e Bettina só faltava
cantar, tão satisfeita estava. Até Rhonda comentou que ele era legal, um cara e
tanto, não é?
Só Mark não aprovava. Já enfiara na cabeça que Roxanne era propriedade dele
e, de repente, a segurança lhe fugia bem debaixo dos pés. Passou pelo ciúme,
pela dor, pela indiferença fingida e, um dia, explodiu. Não agüentou mais, fez
malcriação e deixou de telefonar por uns tempos, magoado.
Sebastian escolheu uma casa linda, perto da cidade e debruçada sobre o mar,
com vista de cartão postal. Pouquíssimos vizinhos, escondidos atrás da
vegetação tropical e exuberante. O verde ali parecia indomável, surgindo por
entre as pedras, nos caminhos tortuosos que levavam à praia.
Do terraço da casa, descia-se para um pátio cercado de hibiscos e de manukas
vermelhas. Depois, por uma encosta íngreme e selvagem, chegava-se ao mar.
Era o único modo de se ter privacidade em uma praia tão bonita.
A família Challis, em peso, foi visitar a casa nova. Bettina deu palpites a mais
não poder de como decorar aqui e ali, nadaram bastante e, alguns dias mais
tarde, Sebastiarn fez questão de que Roxanne fosse lá com ele, sozinha.
— Andei comprando alguns móveis e quero que você os aprove — disse,
casualmente.
— É especialidade de mamãe — respondeu, marota.
— Mas é você que eu quero que vá.
Aquilo poderia significar muita coisa, e Roxanne ignorou as implicações. Ou
melhor, às possíveis complicações.
Daphne Clair – Por um corpo de mulher
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— E se eu não gostar da sua escolha?
— Mudo tudo.
Ela não acreditou, nem ele esperava que acreditasse. Depois do primeiro
encontro, o relacionamento deles não se transformara em nada profundo, mas
num namorico sem conseqüências com alguns beijos, momentos agradáveis,
tudo muito sensato é acomodado. Era assim que devia ser, era assim que
haveria de continuar sendo, pensava Roxanne, segura de si.
Os móveis novos eram bonitos, discretos, coisa de muita classe. A moça
aprovou sem restrições.
— Sebastian, você me arranja alguma coisa para beber? Estou morrendo de
sede.
— É pra já. Tenho uma grande cozinha, com tudo o que se possa imaginar.
Levou-a até uma pequena geladeira quase vazia de onde tirou uma garrafa de
vinho e duas taças. Ela se surpreendeu.
— Então é isso, vinho espumante, a primeira coisa que o senhor compra? Muito
prático, mesmo. — Os olhos dela caçoavam, zombeteiros, maliciosos.
Com um sorriso inocente, Sebastian mostrou que tinha entendido o comentário.
— Nada de maus pensamentos. Só queria comemorar. Vou dormir aqui, hoje,
pela primeira vez.
Alguma coisa estremeceu dentro dela. Sentiu o ambiente mudado, disfarçou,
virou o rosto para o outro lado e bebericou o vinho como se não existissem
insinuações no ar, pedidos, desejos.
A cozinha era pequena demais e foi para a sala, sem pressa. Olhou o Pacífico
pelas portas de vidro, tão tranqüilo, mas convidativo.
Acabou o vinho, e Sebastian pegou o copo.
— Quer mais?
— Não, obrigada. Vamos dar um passeio pela praia? Parece fresco e gostoso lá
fora.
— Ótimo. Quer nadar?
Negou com a cabeça. Nem roupa de banho tinha. A não ser que ele fosse
colecionador de biquínis, o que era até possível. Saiu primeiro, enquanto ele
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lavava e guardava os copos, mas Sebastian a alcançou logo e andaram em
silêncio por entre as árvores, escutando os grilos, o grito das gaivotas, o bater
das ondas. A típica mistura do cheiro das manukas e da maresia era boa, entrava
pelo nariz, refrescava a cabeça. Chegaram à areia, pararam à sombra de alguns
arbustos, quase molhando os pés na água que vinha correndo lamber quem
chegasse perto.
A noite chegava devagar, cheia de vermelhos no céu e verdes-escuros no mar.
Roxanne sentiu um arrepio de frio.
— E melhor irmos indo. Está começando a ventar.
No caminho de volta, como se fosse para aquecê-la, Sebastian tomou-a nos
braços e beijou-a. Primeiro, de mansinho; depois, com uma intimidade a que
nunca se atrevera antes. Descia a ponta dos dedos por seus ombros, esquentava
os braços com o vaivém da palma da mão. Eram movimentos de procura, de
paixão, que pediam resposta. Resposta que ela não deu. Continuou passiva, até
que ele a puxou para a areia e curvou-se sobre ela, dizendo: — Não resista. Não
tenha medo de mim, vai ser bom, Roxanne. Bem que ela queria resistir àquela
sedução toda, mas, aos poucos, foi se soltando, ficando calma, vazia, pronta
para aceitar as exigências daquele corpo quente, dos beijos que a deixavam
trêmula e sem vontade própria. Quase sem perceber, foi mostrando que
gostava. Fechou os olhos, mas continuou vendo o brilho das primeiras estrelas.
Seu coração batia no mesmo ritmo das Ondas barulhentas. Ele beijou seu
pescoço e, com a voz rouca de desejo, pediu:
— Roxanne, venha para casa comigo.
Ela morreu de vergonha porque os minutos pareceram horas, antes que
conseguisse ter forças para dizer não.
— Não — repetiu ele, com um toque de humor resignado. — Pelo amor de
Deus, ela disse não!
Levantou-se, ajudou-a a se levantar também e foram de mãos dadas até a casa.
Mas agora ele estava frio, distante.
— Vou viajar neste fim de semana. Tenho coisas a fazer em Auckland.
Roxanne não respondeu porque não sabia que tipo de comentário fazer. "Vou
sentir sua falta"? Ou: "Que pena"? Na verdade, a tentação era tanta que até
preferia assim: ele bem longe. Será que arruinara as chances do pai? Ele não
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pedira sacrifícios, mas o pior de tudo é que descobrira que o tal sacrifício seria
um imenso prazer. Voltar para a casa de Sebastian e dormir com ele seria a
glória, não o inferno.
Mark telefonou convidando para uma festa na casa de Max. Aceitou
imaginando que ele já soubesse da partida de Sebastian. O ex-namorado
caprichou no charme, na delicadeza e na atenção. Uma ótima companhia, como
sempre tinha sido. A turma da festa era a de sempre, e alguém perguntou,
rindo, pela "divina Delia",
— Tentei convidá-la — Max explicou —, mas fui informado de que ontem, ao
soar das cinco horas, qual donzela escolhida, foi embora com Sebastian Blair, de
malinha e tudo, em direção ao horizonte perdido!
Na mesma hora, começou a fofoca, as mulheres aos risinhos, os homens com
cara de "aquele sujeito é que sabe viver".
Roxanne simplesmente gelara. Depois, sentiu como se seu corpo pegasse fogo,
teve enjôo, vontade de morrer ou, pelo menos, cair no choro. Mas o olhar
observador de Mark estava fixo nela, e resolveu esconder aquele: desgosto
inexplicável. Sorriu, meio engasgada, e pensou que, se tivesse sido mais
cordata, ele a teria levado, e não Delia. Lembrou-se também de que Sebastian
aceitara sua recusa sem muito drama. Com certeza, tanto fazia, para ele. Mas
logo Delia! Fingiu que estava feliz, bebendo e dançando até as duas da manhã.
No dia seguinte, na igreja, amaldiçoou toda e qualquer bebida. As têmporas
martelavam e a náusea queimava a boca do estômago. Diabo de Sebastian Blair!
Que fosse para o inferno, que era o melhor lugar para ele!
Credo! Pensar uma coisa daquelas na igreja! Perdão, meu Deus. E concentrou-se
no sermão.
No fim de semana, as notícias estouraram. Delia voltara dos feriados como um
gato empanturrado de leite e só ouviam comentários sobre o carro de Sebastian,
o apartamento dele, sua admiração por ela, os sofás, as cadeiras de couro (e não
de vinil) caríssimas!
Tanto falatório por causa de umas míseras cadeiras deixou Roxanne com
vontade de descrever a cama dele, nada menos do que a cama, para calar a boca
de todo mundo. Mas desde quando estava envolvida em rivalidades com Delia?
Seria descer muito baixo. Preferiu desviar a conversa para outros assuntos.
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Esquecer...
Ele provavelmente também já a esquecera. E onde! Nos braços da loira mais
oxigenada da cidade.
Naquela noite, Sebastian a esperava em frente à loja.
— Estou esperando meu pai — disse, friamente.
— É que me ofereci para pegar você e ele aceitou.
— Então... vamos embora.
No caminho, não perguntou pela viagem a Auckland. Na verdade, falou muito
pouco. Ao chegar em casa, sentiu-se obrigada a dizer:
— Com certeza, papai gostaria de ver você. Entre, por favor.
— Obrigado. Realmente ele quer falar comigo.
Roxanne percebeu que ele estava irritado com a frieza com que o tratava.
Sentiu-se vingada. Mas... de quê?
Owen Challis foi mais efusivo do que de costume, Bettina fez café e serviu com
bombinhas recheadas de ricota e enfeitadas com tomates e picles de pepino.
Para completar, fatias de bolo de chocolate com creme. Roxanne quase
derrubou o café, quando Blair mencionou que havia voltado de Auckland
naquele dia mesmo.
Quando foi levá-lo até a porta, ele perguntou cerimoniosamente:
— Por que a surpresa ao saber que voltei hoje? E por que está me botando no
gelo? Gostaria que me dissesse.
Sua voz era baixa, quente... e ela o odiava. Só isso.
— Não faço idéia do que você está falando. Sebastian segurou-a pelos pulsos,
com força.
— Eu sei. Está com raiva pelo que aconteceu na semana passada, não é? E
espera que eu me desculpe. Não posso dizer que me arrependo. Adorei. —
Depois de uma pequena pausa: — E você também gostou. Só me arrependo do
que não fiz. Do que não fizemos.
Roxanne puxou as mãos, furiosa.
— E logo, logo achou companhia mais simpática, mais oferecida, mais... mais...
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Todo mundo sabe que foi para Auckland com Delia. Não esperava que fosse
um segredo de Estado, esperava?
— Então, é isso? — A expressão dele era séria. — Ahn, então a cidade inteira
chegou à conclusão de que uma carona e um caso de amor são a mesma coisa.
De repente, ele viu o ridículo da situação e o riso aflorou, solto.
— Roxanne, Roxanne, você me surpreende...
Ela até o perdoaria, se confessasse. Mas mentir assim era demais. E com aquela
cara de santo, de sonso...
— Não adianta esconder. Delia pôs a boca no mundo, com descrições
completas. Passou o fim de semana no seu apartamento...
— Não passou, não senhora.
E Sebastian começou a rir de verdade, divertido com a confusão.
— Meu Deus! Alguém deveria ter me avisado de quem é Delia. Nunca vi nada
parecido. Encontrei com ela na sexta-feira e mencionou, de passagem que ia a
Auckland visitar a tia no fim de semana. Ofereci uma carona na frente de todo
mundo, à luz do dia... A tia mora em Auckland do Sul; meu apartamento é em
Parnell, e eu linha uns papéis a entregar em Epsom. Parei no meu apartamento.
Não podia deixar a moça esperando no carro, ou podia? Ela ficou espiando da
porta, em pé!
De repente Roxanne teve pena de Delia, de sua necessidade de afirmação, de
carinho.
— Ah! Então, foi só isso?
— É bom acreditar em mim. E como castigo por ter uma cabeça tão cheia de
minhocas, você vai, amanhã, me ajudar a dar uma reunião na casa nova.
Aperitivos e um banho de mar. Depois do almoço, está bem?
Roxanne ficou procurando uns restos de raiva e ressentimento. Era difícil. Só
havia um grande alívio porque Delia e Sebastian não tinham passado o fim de
semana juntos.
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CAPÍTULO IV
Quando Roxanne entrou em casa, o pai estava andando de lá para cá, no
vestíbulo. Ela lhe deu um beijo estalado na bochecha e, carinhosamente,
perguntou:
— Como vão as coisas? Conte pra mim.
— Não se preocupe, querida. Mas vão mal. Não faço idéia de quanto tempo
ainda agüentaremos nossas cabeças fora d’água. Preciso saber com certeza
quais são as intenções de Sebastian. E enquanto isso...
— Enquanto isso, é melhor que andemos no mesmo passo que ele, não é?
O velho suspirou.
— Ajudaria muito. Queria uma decisão, mas não posso colocá-lo contra a
parede. Se ele descobrir a fragilidade da minha posição, terá uma vantagem
enorme. Especialmente no fim, se acabar se recusando a fazer a fusão.
— Acha que ele seria capaz disso?
Owen sorriu, amargo.
— Filha, Sebastian Blair é, simplesmente, um dos negociantes mais astutos de
todo o país e...
— Ora, é uma surpresa. Ele me disse que conseguiu o emprego porque a firma
era da família!
— Verdade. Mas quem colocaria um incompetente na direção? É só dar uma
olhada no balanço do último ano e ver do que é capaz. Parece um rapaz
bonzinho, mas é duro como aço.
Rapaz bonzinho não seria bem a descrição que ela faria de Sebastian Blair. Não,
de jeito nenhum. Era uma personalidade muito forte, para um adjetivo tão
fraco. Deixe pra lá. E murmurou:
— É, posso imaginá-lo sendo desumano e cruel. Talvez... Rhonda apareceu na
sala, de ouvido em pé.
— Oi, o que é que vocês estão cochichando aí?
— Menina, não é hora de estar na cama? — disse Roxanne. Rhonda lançou-lhe o
olhar mais furioso de seu repertório, e a irmã comentou, rindo:
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— Desculpe. Sempre me esqueço de que você já saiu da escola e virou uma
mocinha. Mas, com esse cabelo de Maria Chiquinha, parece que tem no máximo
doze anos.
— É que, quando passo a loção de sardas, tenho que prender os cabelos para
não ficarem todos gosmentos.
— Para meu gosto — disse o pai —, Doris Day é uma das mulheres mais
bonitas que conheço.
Rhonda não disse nada, mas, ao ver a cara dela, Roxanne caiu na risada.
— Já vi que dei um fora outra vez.
O velho fez uma careta e saiu para procurar a mulher.
— Doris Day, pelo amor de Deus! — murmurou Rhonda, no auge do desgosto.
— Ela é muito atraente. — Ao ver o olhar de "eu te mato" da irmã, corrigiu: —
Melhor do que King Kong, afinal.
— King Kong? — Rolou os olhos e começou a rir. — Você é uma tonta mesmo,
Roxanne.
Foram dormir, ainda brincando. Mas, depois de apagarem a luz, a preocupação
começou a atormentar Roxanne de novo. Era difícil conservar um homem a
distância, sem rejeitá-lo de uma vez. Por outro lado, ele aceitara a recusa dela
sem grandes protestos e voltara como amigo...
Quando Sebastian veio buscá-la no dia seguinte, ela o avisou de que iria voltar
cedo, pois tinha combinado sair com Mark. Depois de uns minutos de silêncio,
Sebastian disse:
— Não quero você saindo com esse rapaz.
— Como é? Eu, recebendo ordens suas? Desde quando?
— Não é uma ordem. Simplesmente uma constatação. Não, e pronto.
Ficou calada, sem saber o que pensar. Ciúme? Seria sinal de que gostava dela.
Mas não dava grandes mostras disso. Será que gostava mesmo?
Pelo menos naquela tarde, não aparentou grandes paixões. Na casa dele, levou-
a até a cozinha onde ela o ajudou a fazer os sanduíches, preparou patês para as
bolachas salgadas e batatas fritas. Achou duas bisnagas de pão francês,
preparou manteiga de alho, besuntou-as por dentro e por fora, embrulhou em
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alumínio e pôs no forno.
Os doze convidados foram chegando lá pelas três e meia e já se encaminharam
para a praia. Nadaram por mais ou menos uma hora e voltaram para os
aperitivos e sanduíches. Roxanne conhecia todo mundo e, enquanto servia a
comida, sentia que a olhavam com curiosidade, querendo saber a quantas
andava o relacionamento dela com Blair.
Max Ansell, sempre maldoso, piscou e perguntou:
— Onde está a bela Delia?
— Nem imagino — respondeu Roxanne, sem se abalar. — Por que não
pergunta a Sebastian?
— Acha que devo? — Ergueu as sobrancelhas em interrogação e foi puxar a
manga do outro.
Começaram a conversar, mas não era possível escutar o que diziam, pois
estavam de costas, admirando a vista. Será que Max teria coragem de perguntar
sobre o tal fim de semana?
Roxanne foi se aproximando dos dois e pediu a Max para lhe dar uma carona,
na volta.
— Eu vou levar você — disse Sebastian.
— Não precisa. Max vai para aqueles lados e...
— Não há problema mesmo — confirmou o outro. Blair olhou-o e, firme mas
cordialmente, agradeceu:
— Obrigado, mas eu vou levá-la.
Max afastou-se com ar de "bem que eu estava desconfiado" e foi conversar com
outro grupo.
— Sebastian, não há mesmo necessidade. Vai deixar as visitas e eu...
— Eu trouxe você. A responsabilidade é minha. E não se preocupe. Vai estar em
casa às sete para o passeio com Mark.
Passou o braço pela cintura dela e começou a andar de grupo em grupo. As
pessoas olhavam, curiosas, e a moça sussurrou, entredentes:
— Pare com isso, o que é que vão pensar?
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Uma centelha de irritação brilhou no olhar dele, mas largou-a, apesar da cara
feia.
Quando todos tinham ido, Roxanne começou a limpar os cinzeiros e lavar os
copos. Ele entrou na cozinha, depois de se despedir dos últimos convidados.
— Deixe tudo isso e vamos à praia. Cinco minutinhos, só. — Tirou o cinzeiro da
mão dela e o pôs em cima da mesa mais perto.
— É melhor eu ir para casa.
— Temos muito tempo. Você não vai chegar atrasada, prometo. Ela fez a
pergunta que estava na ponta da língua:
— Max perguntou por Delia?
— Conversamos sobre ela. Por quê?
— Ele disse que ia perguntar e eu achei que talvez estivesse só me provocando.
— Com o nome de Delia? Pensou que você ficaria com ciúme?
— Não sei. Você passou o dia fazendo o possível para que pensassem que sou
propriedade sua, não passou?
— Ótimo que tenha notado. Mas se, por isso, você ficou exposta às brincadeiras
de Max, peço desculpas.
Aproximou-se dela, mas Roxanne nem percebeu, distraída que estava com a
brisa refrescante que agitava as folhas de manuka e de ponga. Sebastian disse:
— Não contei nada sobre Delia a Max. Quer que conte?
— Não tenho nada com isso. Não é da minha conta.
— É da sua conta. Quer saber por que me comportei como seu dono, o dia
inteiro?
Ela o olhou friamente.
— Não aceita competição, não é? A cidade é pequena, Mark ficaria sabendo que
fui anfitriã em sua casa...
— Isto é só uma pequena parte do motivo real. Você leva Mark a sério?
— Tanto quanto levo você — respondeu, rápido. Alguma coisa brilhou nos
olhos dele, por segundos.
— Já o beijou como me beijou na praia?
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— Isso não é da sua conta. Você não tem nada, nada a ver com a minha vida. —
E apertou os lábios com raiva.
— Mas eu quero que seja da minha conta. Quero saber da sua vida.
Puxou-a para si, abraçou-a e procurou sua boca, num beijo apaixonado. Ela
ficou surpresa e depois excitada com o calor do seu corpo musculoso. Esforçou-
se fracamente para se desvencilhar, mas ele não a deixava mesmo; talvez, nem
percebesse. Sentiu que não sossegaria, enquanto ela não retribuísse aquele beijo.
Abriu um pouco os lábios e ele agradeceu, com a força de sua boca úmida e
ávida.
— Quero que se case comigo, Roxanne. Aceita?
Ela engoliu em seco. O que dizer? Agora estava perdida de vez. Não posso,
pensou, tonta. As preocupações do pai apareceram na sua frente. Era um
momento de crise, e ela tinha que reconhecer. Um dos piores. Outro beijo para
ajudar a resolver, dizia ele, e outro e outro.
— Pare! — Quase sufocou.
— Por quê? Você nunca recusou antes...
— E nem você me pediu em casamento antes!
— Isso é verdade. Nem a você nem a nenhuma outra mulher.
Sinais cruzavam a cabeça dela como néon. Não podia dizer que não,
atrapalharia a fusão com a firma do pai. O danado daquele homem tinha o
poder de arruinar a vida de sua família!
— É que... é que eu não esperava uma coisa dessas. Não posso pensar um
pouco?
— Enquanto namora Mark? Não.
— Eu jamais faria isso. Você não tem o direito de fazer essa insinuação maldosa.
— É Mark que você quer?
— Não!
— Ei, não fique tão furiosa! Só me ocorreu que poderia estar me usando, para
fazer ciúme a ele.
— E claro que não estava. Ele relaxou um pouco.
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