Mudança Estrutural e especialização regressiva no Brasil entre 1998 e 2014
Este item analisa se está ocorrendo mudança estrutural na performance do comércio internacional brasileiro que se expressa via alteração do conteúdo tecnológico da pauta de exportação. Os indicadores utilizados nessa abordagem são referentes ao total exportado, exportação segundo o conteúdo tecnológico (OCDE, 2011), importação por intensidade tecnológica (OCDE, 2011), saldo comercial e a complexidade econômica (ECI).
Os dados de comércio exterior brasileiro – disponibilizados pela “United Nations Comference on Trade and Development” (UNCTAD2) – revelam que ao longo da década de 2000 houve um acelerado crescimento das exportações brasileiras, com um crescimento médio anual de 13,2% entre 1998 e 2014. Contudo evidenciam, também, que há uma diminuição da participação das exportações de manufaturas sobre o total exportado, principalmente após a crise de 2008. O gráfico 2 mostra que, em 1998, 76,9% das exportações eram provenientes da indústria de transformação, mas, em 2014, essa porcentagem se reduziu para 55,6%. Uma queda significativa que, em grande medida, foi influenciada pelo Boom de commodities da década de 2000, o que melhorou os preços relativos da indústria extrativa (Serrano e Summa, 2016; Bresser Pereira, Nassif e Feijó, 2015).
Gráfico 2: Crescimento das exportações brasileiras e a participação da manufatura no total exportado
Fonte: Elaboração própria a partir de UNCTADStat.
O rápido crescimento das exportações nos anos 2000, permitiu a geração de um superávit comercial anual superior a US$ 40 bilhões em meados da década, que foi acompanhado por um crescente e expressivo superávit do saldo comercial da indústria de transformação. Este último, contudo, não se sustentou; após alcançar um ápice em 2006, passou a cair, se tornando deficitário em 2010, registrando déficits superiores a US$ 60 bilhões em 2013 e 2014 (Gráfico 3).
Gráfico 3: Evolução do saldo da Balança Comercial e do saldo comercial da Indústria de Transformação* (IT) – Brasil, 1998-2014
Fonte: Elaboração própria a partir da FUNCEX e UNCTADStat
*Não incluí os valores referentes ao setor de refino de petróleo.
Além disso, o perfil das exportações brasileiras de manufatura, se alterou, evidenciando uma reprimarização do conteúdo exportado. O gráfico 4 ilustra o valor exportado da indústria de transformação nacional por intensidade tecnológica3, segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2011) que classifica os setores industriais de acordo com a intensidade tecnológica dos produtos, notadamente pela participação do investimento em pesquisa e desenvolvimento médio de cada atividade da manufatura. Observa-se que há uma dominância das exportações de bens de baixa intensidade tecnológica, sobretudo após a crise de 2008.
Gráfico 4: Evolução do valor da pauta de exportação de bens manufaturados segundo intensidade tecnológica – Brasil, 1998-2013 (US$ Milhões)
Fonte: Elaboração própria a partir da FUNCEX e OCDE (2011).
Dentre os produtos manufatureiros, os bens de baixo valor agregado representavam 29% das exportações brasileiras em 1998 e em 2014 contribuem com 38% do total. Um crescimento de nove pontos percentuais (FUNCEX; OCDE, 2011). Para Bresser Pereira, Nassif e Feijó (2015, p. 50):
A regressão tecnológica da composição da pauta de exportações é inequívoca, uma vez que, em igual período, observou-se queda expressiva na participação exportadora tanto de manufaturados intensivos em engenharia, ciência e conhecimento (de 18,7% para 9,9%) e manufaturados intensivos em escala (de 32,2% para 23,2%).
Já as importações brasileiras caminham no sentido inverso; os setores de alta e média alta tecnologia dominam a pauta de importações dos produtos manufaturados e representaram, em 2014, 38,2% e 40,3% respectivamente, enquanto os produtos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica representaram somados, apenas 21%. O gráfico 5 demonstra como a pauta de importações de manufatura é calcada em produtos de maior valor adicionado.
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