cromatina sexual
(Figura 3.11 ). A cromatina sexual é um dos dois cromossomos X que se mantém
condensado no núcleo interfásico. No homem, cujos cromossomos sexuais são um X e um Y, o
cromossomo X único não está condensado, expressa seus genes e não é visível como cromatina
sexual.
Figura 3.9
Esquema de um nucleossomo. Na parte central há quatro tipos de histonas, H2A, H2B, H3 e H4 (duas moléculas de cada). Uma molécula de H1 ou H5
se localiza por fora e em associação com o filamento de DNA.
Nas células do epitélio bucal a cromatina sexual aparece sob a forma de um pequeno grânulo,
geralmente ligado à membrana nuclear, e esfregaços desse epitélio podem ser usados para verificar o
sexo genético. Outro material muito empregado é o esfregaço sanguíneo, no qual a cromatina sexual
aparece como um apêndice em forma de raquete nos núcleos dos leucócitos neutrófilos (Figura 3.11
).
Histologia aplicada
O estudo da cromatina sexual torna possível a determinação do sexo genético, particularmente útil quando os órgãos
genitais deixam dúvida quanto ao sexo, como no hermafroditismo e no pseudo-hermafroditismo. Auxilia também no
estudo de outros casos de doenças decorrentes de anomalias no número de cromossomos sexuais. Por exemplo, na
síndrome de Klinefelter, os pacientes têm lesões testiculares, azoospermia (ausência de espermatozoides) e outros
sintomas, associados à existência de 2 cromossomos X e 1 Y (XXY) nas suas células.
O estudo dos cromossomos progrediu consideravelmente com os métodos para induzir a divisão
celular, bloquear as mitoses em metáfase e depois imergi-las em solução hipotônica e achatá-las
entre lâmina e lamínula. A membrana plasmática se rompe, e os cromossomos ficam dispostos em um
mesmo plano, o que facilita seu estudo. Em fotomicrografias se podem ordenar os cromossomos, de
acordo com sua morfologia e na ordem decrescente do tamanho, em pares numerados de 1 a 22,
acrescidos dos cromossomos sexuais, XX no sexo feminino ou XY no sexo masculino (Figura 3.12 ).
O estudo das faixas transversais tornou possível reconhecer com segurança cromossomos muito
parecidos e possibilitou também o estudo mais preciso de certos fenômenos genéticos, como
deleções e translocações. As faixas são evidenciadas por técnicas nas quais os cromossomos são
tratados com soluções salinas ou enzimáticas e corados com corantes fluorescentes ou com o corante
de Giemsa, que é usado rotineiramente para a coloração das lâminas de sangue.
Figura 3.10
Este desenho esquemático mostra o grau crescente de complexidade da estrutura do cromossomo. De cima para baixo, aparece, primeiro, a hélice
dupla de DNA, com 2 nm de espessura; em seguida, a associação do DNA com histonas forma nucleossomos em filamentos de 10 nm e de 30 nm. Esses filamentos
se condensam em filamentos mais espessos, com cerca de 300 nm e 700 nm. Finalmente, o último desenho mostra um cromossomo metafásico, no qual o DNA
exibe sua condensação máxima.
Figura 3.11
Este desenho ilustra a morfologia da cromatina sexual (pessoas do sexo feminino). Nas células do epitélio bucal a cromatina sexual aparece como
uma pequena massa densa aderida à membrana nuclear; no neutrófilo, tem o aspecto de uma raquete saliente e presa a um lobo do núcleo, que é irregular nesse
tipo de célula (ver Capítulo 12).
Figura 3.12
Cariótipo humano preparado pela técnica que mostra as faixas dos cromossomos. Cada cromossomo tem um padrão típico de faixas, o que facilita
sua identificação e também as relações das faixas com anomalias genéticas. Os cromossomos são agrupados e numerados em pares, de acordo com suas
características morfológicas e seu tamanho.
Histologia aplicada
Chama-se cariótipo o conjunto dos cromossomos de uma célula, organizados de acordo com a forma e o tamanho
que apresentam (Figura 3.12 ). O estudo do cariótipo fornece resultados de grande interesse, revelando alterações
cromossômicas observadas em tumores, leucemias e em várias doenças hereditárias.
Nucléolos
Os
nucléolos
são as fábricas para produção de ribossomos. Nas lâminas coradas, aparecem como
formações intranucleares arredondadas, geralmente basófilas (Figura 3.13 ), constituídas
principalmente por RNA ribossomal (rRNA) e proteínas. Em humanos, os genes que codificam os
rRNA localizam-se em cinco cromossomos, e, por isso, as células podem apresentar vários
nucléolos, mas geralmente há uma fusão, e a maioria das células têm apenas um ou dois nucléolos.
Existe uma porção de heterocromatina presa ao nucléolo, que é chamada
cromatina associada
ao
nucléolo
(Figuras 3.1 e 3.14 ).
Figura 3.13
Fotomicrografia de dois ovócitos primários. Essas células têm citoplasmas claros e núcleos bem corados. Os nucléolos são bem visíveis, e os
cromossomos que estão um tanto condensados aparecem cortados em pedaços pequenos. Essas células estão em meiose. (Pararrosanilina e azul de toluidina.
Grande aumento.)
Figura 3.14
Esta micrografia eletrônica de parte de uma célula mostra um nucléolo. Estão visíveis o DNA organizador do nucléolo (NO), a pars fibrosa do nucléolo
(PF), a pars granulosa do nucléolo (PG), a cromatina associada ao nucléolo (NAC), o envelope nuclear (NE) e o citoplasma (C).
Para saber mais
Microscopia eletrônica dos nucléolos
Ao microscópio eletrônico (Figura 3.14 ), distinguem-se três porções no nucléolo: (1) a
região granular
, formada
essencialmente por grânulos de RNA; (2) a
região fibrilar
, que também é constituída por RNA, mas se admite que o
aspecto granular ou fibrilar depende do grau de maturação dos ribossomos; e (3) filamentos de DNA, dispersos pelas
outras porções. Esses filamentos de DNA constituem as
regiões cromossômicas
organizadoras do nucléolo
. No interior
do núcleo o RNA ribossomal sintetizado sofre modificações complexas e, nos nucléolos, associa-se a proteínas
provenientes do citoplasma, para formar subunidades que vão constituir os ribossomos, durante a síntese de moléculas
proteicas.
As células secretoras de proteínas e as células que estão em intensa atividade mitótica, como as embrionárias e as
células de tumores malignos, apresentam nucléolos muito grandes, devido à intensa síntese de RNA ribossomal e à
montagem de grande número de subunidades ribossomais.
Matriz nuclear
A extração bioquímica dos componentes solúveis de núcleos isolados deixa uma estrutura fibrilar
chamada
matriz nuclear
, que forneceria um esqueleto para apoiar os cromossomos interfásicos,
determinando sua localização dentro do núcleo celular. Segundo os pesquisadores que admitem a
existência dessa matriz, a lâmina nuclear seria uma parte dela. Todavia, não tendo sido possível
isolar as moléculas que constituiriam a matriz, exceto as da lâmina nuclear, muitos pesquisadores
negam sua existência na célula viva, admitindo que a matriz nuclear vista ao microscópio eletrônico
nos núcleos isolados é uma estrutura artificial, criada pelas técnicas de preparação.
Para saber mais
Nucleoplasma
O
nucleoplasma
é um soluto com muita água, íons, aminoácidos, metabólitos e precursores diversos, enzimas para a
síntese de RNA e DNA, receptores para hormônios, moléculas de RNA de diversos tipos e outros componentes. Sua
caracterização ao microscópio eletrônico é impossível, sendo o nucleoplasma definido como o componente granuloso
que preenche o espaço entre os elementos morfologicamente bem caracterizados no núcleo, como a cromatina e o
nucléolo.
Divisão celular
A divisão celular é observável ao microscópio óptico no processo denominado
mitose
(Figura
3.15 ), durante o qual uma célula (célula-mãe) se divide em duas (Figuras 3.16 e 3.17 ), recebendo
cada nova célula (célula-filha) um jogo cromossômico igual ao da célula-mãe. Esse processo
consiste, essencialmente, na duplicação dos cromossomos e na sua distribuição para as células-
filhas. Quando não está em mitose, a célula está na
intérfase
. A mitose é um processo contínuo que é
dividido em fases por motivos didáticos (Figura 3.15 ).
A
prófase
caracteriza-se pela condensação gradual da cromatina (o DNA foi duplicado na
intérfase), que irá constituir os
cromossomos mitóticos
. O envoltório nuclear se fragmenta no final
da prófase em virtude da fosforilação (adição de PO
4
3–
) da lâmina nuclear, originando vesículas que
permanecem no citoplasma e reconstituem o envelope nuclear no final da mitose. Os
centrossomos
e
seus
centríolos
, que se duplicaram na intérfase, separam-se, migrando um par para cada polo da
célula. Começam a aparecer microtúbulos entre os dois pares de centríolos, iniciando-se a formação
do fuso mitótico. Durante a prófase o nucléolo se desintegra.
Na
metáfase
os cromossomos migram graças à participação dos microtúbulos e se dispõem no
plano equatorial da célula (Figuras 3.18 e 3.19 ). Cada cromossomo, cujo DNA já está duplicado,
divide-se longitudinalmente em duas
cromátides
, que se prendem aos microtúbulos do fuso mitótico
por meio de uma região especial, o
cinetocoro
localizado próximo ao
centrômero
.
Na
anáfase
, por um processo complexo, os cromossomos-filhos separam-se e migram para os
polos da célula, seguindo a direção dos microtúbulos do fuso. Nesse deslocamento os centrômeros
seguem na frente e são acompanhados pelo restante do cromossomo. O centrômero é uma região mais
estreita (constrição) do cromossomo, que mantém as cromátides juntas até o início da anáfase.
Figura 3.15
Fases da mitose.
A
telófase
caracteriza-se pela reconstrução dos envoltórios nucleares das células-filhas, em
consequência da desfosforilação (remoção dos radicais PO
4
3–
) dos filamentos da lâmina nuclear e da
fusão das vesículas originadas do envoltório nuclear no final da prófase. Os cromossomos se tornam
gradualmente menos condensados, o que leva ao reaparecimento da cromatina. À medida que o
núcleo interfásico se refaz, os nucléolos se reconstituem.
A divisão do material nuclear é acompanhada pela divisão do citoplasma por um processo
denominado
citocinese
, que se inicia na anáfase e termina após a telófase. A citocinese consiste no
aparecimento de um anel que contém actina e miosina, abaixo da membrana celular, na zona
equatorial da célula. A diminuição gradual do diâmetro desse anel acaba dividindo o citoplasma em
duas partes iguais, cada uma com um núcleo novo, originando as duas células-filhas.
A maioria dos tecidos está em constante renovação celular, por divisão mitótica para substituição
das células que morrem. Essa renovação é muito variável de um tecido para outro. Todavia, há
exceções, como o tecido nervoso e o músculo do coração, cujas células perderam a capacidade de
realizar a mitose. Uma vez destruídos, esses tecidos não se regeneram.
Ciclo celular
Sendo a mitose a manifestação visível da divisão celular, existem outros processos que não são
facilmente evidenciáveis ao microscópio e que têm um papel fundamental na multiplicação das
células, como a duplicação do DNA e dos centríolos, que têm lugar na intérfase.
A síntese de DNA tem sido estudada com precursores radioativos (timidina-H
3
) e métodos
bioquímicos e radioautográficos. Verificou-se, então, que a duplicação do DNA ocorre na
intérfase
,
período em que não são observados fenômenos visíveis da divisão celular. Intérfase e mitose
constituem as duas fases do
ciclo celular
, que é o conjunto de modificações por que passa uma
célula, desde seu aparecimento até sua própria duplicação (Figuras 3.20 e 3.21 ). A intérfase se
subdivide em três fases chamadas G
1
, S e G
2
. A fase G
1
é a que vem logo depois da mitose. Nela
ocorre a síntese de RNA e de proteínas, com recuperação do volume da célula, que foi reduzido à
metade na mitose. Nos tecidos de renovação rápida, a fase G
1
é curta. As células dos tecidos que não
se renovam saem do ciclo celular na fase G
1
e entram na chamada fase
G-zero
(Figura 3.21 ). Na
fase G
1
localiza-se o
ponto de restrição
, que impede a passagem de células com DNA danificado ou
então que ainda não acumularam uma quantidade crítica de proteínas importantes para a continuação
do ciclo. Durante a fase S ocorre a síntese do DNA e a duplicação dos centrossomos e centríolos. Na
fase G
2
as células acumulam energia para ser usada durante a mitose e sintetizam tubulina para
formar os microtúbulos do fuso mitótico.
Figura 3.16
Estas fotomicrografias de células cultivadas mostram várias fases da mitose. A.
Núcleos em intérfase.
Observe a cromatina e os nucléolos. B.
Prófase.
Ausência de nucléolos, cromossomos condensados. C.
Metáfase.
Os cromossomos, muito condensados, formam uma placa no equador da célula. D.
Anáfase
(próximo a seu fim). Os cromossomos se localizam nos polos celulares, o que distribui o DNA igualmente entre as duas novas células. (Coloração pelo
picrosirius-hematoxilina. Grande aumento.)
Figura 3.17
Células cultivadas e fotografadas em microscópio confocal de varredura a laser. Em vermelho, DNA. Em azul, microtúbulos, indicando o citoplasma. A.
Intérfase.
Célula que não está em divisão mitótica. B.
Prófase.
A estrutura azul sobre o núcleo é o centrossomo. Os cromossomos estão tornando-se visíveis,
devido à sua condensação. O citoplasma está tomando a forma globosa, típica da célula em mitose. C.
Metáfase.
Nessa fase os cromossomos se organizam
constituindo uma placa na região do equador da célula. D.
Anáfase.
Graças principalmente à atividade dos microtúbulos, os cromossomos começam a se deslocar
para os polos da célula. E.
Telófase
(inicial). Os dois conjuntos de cromossomos já atingiram os polos da célula original, para formar as duas células-filhas, cada
uma com um conjunto de cromossomos igual ao da célula-mãe. F.
Telófase
(mais adiantada). O citoplasma está se dividindo (citocinese) para formar as duas
células-filhas, que serão menores do que a célula-mãe. Logo as células-filhas entrarão em crescimento, até alcançarem o mesmo tamanho da célula-mãe.
(Cortesia de R. Manelli-Oliveira, R. Cabado e G. M. Machado-Santelli.)
Figura 3.18
Micrografia eletrônica de uma célula em metáfase. A micrografia mostra os pares de centríolos nos polos da célula, o fuso mitótico constituído por
microtúbulos e os cromossomos no equador da célula. As setas indicam a inserção dos microtúbulos nos centrômeros. (Redução de 19.000×. Cortesia de R.
McIntosh.)
Figura 3.19
Micrografia eletrônica de uma célula humana cultivada, em metáfase. As setas apontam a inserção dos microtúbulos nos centrômeros dos
cromossomos, que aparecem escuros. (Redução de 50.000×. Cortesia de R. McIntosh.)
Figura 3.20
Fases do ciclo celular. A duração da fase G
1
(pré-síntese) varia muito dependendo de diversos fatores, como a duração do total do ciclo. No tecido
ósseo em formação, G
1
dura 25 h. A fase S (síntese de DNA) dura aproximadamente 8 h e G
2
, cerca de 2,5 a 3 h. (Os tempos indicados são cortesia de R.W. Young.)
Figura 3.21
As quatro fases sucessivas do ciclo de divisão de uma célula eucariótica típica. No início da fase G
1
, em resposta a sinais externos, a célula “decide”
se continua em ciclo ou se assume um estado quiescente chamado G
0
, cuja duração é extremamente variável. Desse estado, ela pode voltar ao ciclo mediante
estímulo. Certas células cultivadas, por exemplo, se estimuladas, podem voltar ao ciclo, entrando novamente na fase G
1
e começando a sintetizar DNA 12 h depois.
No final de G
1
, existe um importante ponto de controle do ciclo, chamado ponto de restrição (R), que impede a progressão do ciclo em condições desfavoráveis ou
insatisfatórias. Quando o ponto R é ultrapassado, a célula passa pelas demais fases do ciclo celular até que duas células-filhas idênticas sejam formadas ao final
da mitose (M).
Figura 3.22
Corte de um tumor maligno (epitelioma) originado do tecido epitelial, mostrando aumento no número de mitoses e grande diversidade no
tamanho e na estrutura dos núcleos celulares. (Hematoxilina-eosina. Médio aumento.)
Histologia aplicada
O organismo tem complexos sistemas para estimular ou inibir a proliferação celular. Foi demonstrado que a
proliferação e a diferenciação normal das células são influenciadas por um grupo de genes denominados
proto-
oncogenes
. Essa denominação decorre da descoberta de que esses mesmos genes, quando ativados incorretamente e
fora do momento certo, dão origem a vários tipos de câncer (
onco
, câncer) passando a ser chamados de
oncogenes
.
Os defeitos no funcionamento dos proto-oncogenes podem ser induzidos por modificação acidental na sequência de
bases do DNA (mutação), aumento do número desses genes (amplificação gênica) ou por alteração na sua posição,
quando eles passam para a proximidade de um
gene
promotor
ativo. Foi demonstrado também que certos vírus contêm
proto-oncogenes, provavelmente derivados de células, e são capazes de introduzir esses proto-oncogenes virais no DNA
das células por eles invadidas. Na gênese do câncer intervêm outros fatores além dos mencionados aqui, mas a
participação dos proto-oncogenes foi demonstrada na origem de diversos tipos de câncer e de leucemias.
Foram identificadas diversas substâncias proteicas (
fatores de crescimento
) que estimulam a multiplicação de
determinados tipos celulares, como o
fator neuronal
de crescimento
, o
fator de crescimento epitelial
e a
eritropoetina
,
que estimula a formação de hemácias.
As proliferações celulares anormais, que não obedecem aos mecanismos de controle, originam tumores. A expressão
tumor
foi inicialmente usada para designar qualquer aumento de volume localizado, independentemente de sua causa.
Mas, atualmente, tumor geralmente significa
neoplasia
, isto é, massa de tecido originada pela proliferação celular
descontrolada (neoplasma). As neoplasias podem ser
benignas
ou
malignas
. As benignas têm crescimento lento e
permanecem localizadas. As neoplasias malignas (Figura 3.22 ) crescem rapidamente e se espalham para outros
tecidos e órgãos, às vezes distantes, gerando as
metástases
. Entre os extremos de benignidade e de alta malignidade
há muitas neoplasias com características intermediárias.
Câncer
é o termo geralmente utilizado para designar as
neoplasias malignas.
Apoptose
A multiplicação mitótica para o crescimento e a renovação dos tecidos é um processo de
significado fisiológico evidente; porém o processo de
apoptose
, que é rápido e não deixa vestígios,
também tem grande importância para as funções normais do organismo, como mostram os exemplos a
seguir, em Histologia aplicada.
Histologia aplicada
A maioria dos linfócitos T produzidos no timo são capazes de atacar e destruir componentes dos tecidos do corpo e
causariam grandes danos se entrassem na circulação sanguínea. Em contrapartida, esses linfócitos recebem sinais
moleculares que ativam o programa apoptótico codificado em seus cromossomos e são destruídos por apoptose, antes
de saírem do timo carregados pelo sangue circulante (Capítulo 14). Outro exemplo são as modificações que ocorrem
nas glândulas mamárias em cada ciclo menstrual. Há um discreto crescimento dessas glândulas, e as células que se
formam são destruídas por apoptose. Na glândula mamária pós-lactação existe apoptose muito mais intensa, porque,
durante a gestação, as células da glândula proliferaram-se, preparando a glândula para a secreção de leite. Terminada a
amamentação, as células excedentes acionam o programa apoptótico (Figura 3.23 ) e morrem, sem causar inflamação
nas glândulas mamárias.
Qualquer célula pode ativar seu programa de autodestruição quando acontecem grandes modificações em seu DNA,
como ocorre durante o surgimento de um câncer. O câncer se origina do clone de uma única célula que se multiplica e
vai acumulando mutações, até tornar-se maligna. Assim, para formar o clone maligno, a célula pré-cancerosa tem de,
além de outros obstáculos, vencer seu programa apoptótico. Muitas vezes elas conseguem isso desativando os genes
que controlam a apoptose, mas outras vezes não conseguem, e o processo apoptótico impede que se forme o clone
canceroso. Não é somente na destruição de células cancerosas que a apoptose atua como mecanismo de defesa. As
células que são invadidas por vírus, que são parasitas intracelulares, também muitas vezes entram em apoptose. O
ácido nucleico do vírus é o fator que põe em andamento o processo apoptótico. Como os vírus só se multiplicam no
meio intracelular, a morte da célula significa a destruição dos vírus que a invadiram.
A apoptose foi descoberta durante estudos sobre o desenvolvimento embrionário, no qual sua importância para a
formação dos órgãos é muito clara. Posteriormente, foi observado que também no adulto saudável típico a apoptose é
um fenômeno muito frequente.
Na apoptose, a célula e seu núcleo se tornam compactos, diminuindo de tamanho. Nesta fase, a célula apoptótica é
facilmente identificada ao microscópio óptico, porque apresenta o núcleo com a cromatina muito condensada e corando-
se fortemente (
núcleo picnótico
). Em seguida, a cromatina é cortada em pedaços por endonucleases do DNA. O
microscópio eletrônico mostra que o citoplasma da célula em apoptose forma saliências que se separam da superfície
celular (Figura 3.24 ). Os fragmentos que se destacam dessa maneira estão envolvidos por membrana plasmática
modificada e são rapidamente fagocitados pelos macrófagos (ver Capítulo 5). Todavia, os fragmentos apoptóticos não
induzem os macrófagos a produzir as moléculas sinalizadoras que desencadeiam a resposta inflamatória nos tecidos
adjacentes.
A morte acidental de células, um processo patológico, chama-se
necrose
. Pode ser causado por microrganismos,
vírus, agentes químicos e outros. As células necróticas incham, suas organelas também aumentam de volume e,
finalmente, a célula se rompe, lançando seu conteúdo no espaço extracelular. Na apoptose, ao contrário, os fragmentos
celulares estão sempre envoltos por membrana plasmática. O conteúdo das células que morrem por necrose também é
fagocitado pelos macrófagos, mas nesse caso os macrófagos secretam moléculas que vão ativar outras células de
defesa, que promovem a inflamação. Por isso, a necrose, processo patológico, é seguida de inflamação, o que não
ocorre na apoptose.
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