raciocínio geográfico
, uma maneira de exercitar o pensamento
espacial, aplica determinados princípios (Quadro 1) para compreen-
der aspectos fundamentais da realidade: a localização e a distribuição
dos fatos e fenômenos na superfície terrestre, o ordenamento ter-
ritorial, as conexões existentes entre componentes físico-naturais e
as ações antrópicas.
46
46 Essa concepção, que valoriza a capacidade dos jovens de pensar espacialmente por meio
do raciocínio geográfico, é compartilhada por propostas curriculares de diversos países, como
o Reino Unido, Portugal, Estados Unidos da América, Chile e Austrália.
BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
360
QUADRO 1 – DESCRIÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO RACIOCÍNIO GEOGRÁFICO
PRINCÍPIO
DESCRIÇÃO
Analogia
Um fenômeno geográfico sempre é comparável a outros. A
identificação das semelhanças entre fenômenos geográficos é
o início da compreensão da unidade terrestre.
Conexão
Um fenômeno geográfico nunca acontece isoladamente, mas
sempre em interação com outros fenômenos próximos ou
distantes.
Diferenciação*
É a variação dos fenômenos de interesse da geografia pela
superfície terrestre (por exemplo, o clima), resultando na
diferença entre áreas.
Distribuição
Exprime como os objetos se repartem pelo espaço.
Extensão
Espaço finito e contínuo delimitado pela ocorrência do
fenômeno geográfico.
Localização
Posição particular de um objeto na superfície terrestre. A
localização pode ser absoluta (definida por um sistema de
coordenadas geográficas) ou relativa (expressa por meio de
relações espaciais topológicas ou por interações espaciais).
Ordem**
Ordem ou arranjo espacial é o princípio geográfico de maior
complexidade. Refere-se ao modo de estruturação do espaço
de acordo com as regras da própria sociedade que o produziu.
Fontes: FERNANDES, José Alberto Rio; TRIGAL, Lourenzo López; SPÓSITO, Eliseu Savério.
Dicionário de Geografia
aplicada. Porto: Porto Editora, 2016.
* MOREIRA, Ruy. A diferença e a geografia: o ardil da identidade e a representação da diferença na geografia.
GEOgraphia, Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, p. 41-58, 1999.
** MOREIRA, Ruy. Repensando a Geografia. In: SANTOS, Milton (Org.).
Novos rumos da Geografia brasileira.
São Paulo: Hucitec, 1982, p. 35-49.
Essa é a grande contribuição da Geografia aos alunos da Educação
Básica: desenvolver o pensamento espacial, estimulando o raciocínio
geográfico para representar e interpretar o mundo em permanente
transformação e relacionando componentes da sociedade e da natu-
reza. Para tanto, é necessário assegurar a apropriação de conceitos
para o domínio do conhecimento fatual (com destaque para os acon-
tecimentos que podem ser observados e localizados no tempo e no
espaço) e para o exercício da cidadania.
CIÊNCIAS HUMANAS – GEOGRAFIA
ENSINO FUNDAMENTAL
361
Ao utilizar corretamente os conceitos geográficos, mobilizando o pen-
samento espacial e aplicando procedimentos de pesquisa e análise
das informações geográficas, os alunos podem reconhecer: a desi-
gualdade dos usos dos recursos naturais pela população mundial;
o impacto da distribuição territorial em disputas geopolíticas; e a
desigualdade socioeconômica da população mundial em diferentes
contextos urbanos e rurais. Desse modo, a aprendizagem da Geografia
favorece o reconhecimento da diversidade étnico-racial e das diferen-
ças dos grupos sociais, com base em princípios éticos (respeito à
diversidade e combate ao preconceito e à violência de qualquer
natureza). Ela também estimula a capacidade de empregar o racio-
cínio geográfico para pensar e resolver problemas gerados na vida
cotidiana, condição fundamental para o desenvolvimento das com-
petências gerais previstas na BNCC.
Nessa direção, a BNCC está organizada com base nos
principais
conceitos
da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis
de complexidade. Embora o
espaço seja o conceito mais amplo
e complexo da Geografia, é necessário que os alunos dominem
outros conceitos mais operacionais e que expressam aspectos
diferentes do espaço geográfico:
território, lugar, região, natureza
e
paisagem.
O conceito de espaço é inseparável do conceito de tempo e ambos
precisam ser pensados articuladamente como um processo. Assim
como para a História, o tempo é para a Geografia uma constru-
ção social, que se associa à memória e às identidades sociais dos
sujeitos. Do mesmo modo, os tempos da natureza não podem ser
ignorados, pois marcam a memória da Terra e as transformações
naturais que explicam as atuais condições do meio físico natural.
Assim, pensar a temporalidade das ações humanas e das socieda-
des por meio da relação tempo-espaço representa um importante
e desafiador processo na aprendizagem de Geografia.
Para isso, é preciso superar a aprendizagem com base apenas na
descrição de informações e fatos do dia a dia, cujo significado
restringe-se apenas ao contexto imediato da vida dos sujeitos.
A ultrapassagem dessa condição meramente descritiva exige
o domínio de conceitos e generalizações. Estes permitem novas
formas de ver o mundo e de compreender, de maneira ampla e
crítica, as múltiplas relações que conformam a realidade, de acordo
com o aprendizado do conhecimento da ciência geográfica.
Para dar conta desse desafio, o componente Geografia da BNCC foi
dividido em cinco
unidades temáticas
comuns ao longo do Ensino
Fundamental, em uma progressão das habilidades.
BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
362
Na unidade temática
O sujeito e seu lugar no mundo, focalizam-se
as noções de pertencimento e identidade. No Ensino Fundamental
– Anos Iniciais, busca-se ampliar as experiências com o espaço e
o tempo vivenciadas pelas crianças em jogos e brincadeiras na
Educação Infantil, por meio do aprofundamento de seu conhe-
cimento sobre si mesmas e de sua comunidade, valorizando-se
os contextos mais próximos da vida cotidiana. Espera-se que as
crianças percebam e compreendam a dinâmica de suas relações
sociais e étnico-raciais, identificando-se com a sua comunidade e
respeitando os diferentes contextos socioculturais. Ao tratar do
conceito de espaço, estimula-se o desenvolvimento das relações
espaciais topológicas, projetivas e euclidianas, além do raciocínio
geográfico, importantes para o processo de alfabetização carto-
gráfica e a aprendizagem com as várias linguagens (formas de
representação e pensamento espacial).
Além disso, pretende-se possibilitar que os estudantes construam
sua identidade relacionando-se com o outro (sentido de alteridade);
valorizem as suas memórias e marcas do passado vivenciadas em
diferentes lugares; e, à medida que se alfabetizam, ampliem a sua
compreensão do mundo. Em continuidade, no Ensino Fundamental
– Anos Finais, procura-se expandir o olhar para a relação do sujeito
com contextos mais amplos, considerando temas políticos, econô-
micos e culturais do Brasil e do mundo. Dessa forma, o estudo da
Geografia constitui-se em uma busca do lugar de cada indivíduo
no mundo, valorizando a sua individualidade e, ao mesmo tempo,
situando-o em uma categoria mais ampla de sujeito social: a de
cidadão ativo, democrático e solidário. Enfim, cidadãos produtos
de sociedades localizadas em determinado tempo e espaço, mas
também produtores dessas mesmas sociedades, com sua cultura e
suas normas.
Em
Conexões e escalas, a atenção está na articulação de dife-
rentes espaços e escalas de análise, possibilitando que os alunos
compreendam as relações existentes entre fatos nos níveis local
e global. Portanto, no decorrer do Ensino Fundamental, os alunos
precisam compreender as interações multiescalares existentes
entre sua vida familiar, seus grupos e espaços de convivência e
as interações espaciais mais complexas. A conexão é um princípio
da Geografia que estimula a compreensão do que ocorre entre os
componentes da sociedade e do meio físico natural. Ela também
analisa o que ocorre entre quaisquer elementos que constituem
um conjunto na superfície terrestre e que explicam um lugar na sua
totalidade. Conexões e escalas explicam os arranjos das paisagens,
a localização e a distribuição de diferentes fenômenos e objetos
técnicos, por exemplo.
CIÊNCIAS HUMANAS – GEOGRAFIA
ENSINO FUNDAMENTAL
363
Dessa maneira, desde o Ensino Fundamental – Anos Iniciais, as
crianças compreendem e estabelecem as interações entre socie-
dade e meio físico natural. No decorrer desse processo, os alunos
devem aprender a considerar as escalas de tempo e as periodiza-
ções históricas, importantes para a compreensão da produção do
espaço geográfico em diferentes sociedades e épocas.
Em
Mundo do trabalho, abordam-se, no Ensino Fundamental – Anos
Iniciais, os processos e as técnicas construtivas e o uso de diferen-
tes materiais produzidos pelas sociedades em diversos tempos. São
igualmente abordadas as características das inúmeras atividades e
suas funções socioeconômicas nos setores da economia e os pro-
cessos produtivos agroindustriais, expressos em distintas cadeias
produtivas. No Ensino Fundamental – Anos Finais, essa unidade
temática ganha relevância: incorpora-se o processo de produ-
ção do espaço agrário e industrial em sua relação entre campo e
cidade, destacando-se as alterações provocadas pelas novas tec-
nologias no setor produtivo, fator desencadeador de mudanças
substanciais nas relações de trabalho, na geração de emprego e
na distribuição de renda em diferentes escalas. A Revolução Indus-
trial, a revolução técnico-científico-informacional e a urbanização
devem ser associadas às alterações no mundo do trabalho. Nesse
sentido, os alunos terão condição de compreender as mudanças
que ocorreram no mundo do trabalho em variados tempos, escalas
e processos históricos, sociais e étnico-raciais.
Por sua vez, na unidade temática
Formas de representação e pen-
samento espacial, além da ampliação gradativa da concepção do
que é um mapa e de outras formas de representação gráfica, são
reunidas aprendizagens que envolvem o raciocínio geográfico. Espe-
ra-se que, no decorrer do Ensino Fundamental, os alunos tenham
domínio da leitura e elaboração de mapas e gráficos, iniciando-
-se na alfabetização cartográfica. Fotografias, mapas, esquemas,
desenhos, imagens de satélites, audiovisuais, gráficos, entre outras
alternativas, são frequentemente utilizados no componente cur-
ricular. Quanto mais diversificado for o trabalho com linguagens,
maior o repertório construído pelos alunos, ampliando a produção
de sentidos na leitura de mundo. Compreender as particularidades
de cada linguagem, em suas potencialidades e em suas limitações,
conduz ao reconhecimento dos produtos dessas linguagens não
como verdades, mas como possibilidades.
No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, os alunos começam, por meio
do exercício da localização geográfica, a desenvolver o pensamento
espacial, que gradativamente passa a envolver outros princípios meto-
dológicos do raciocínio geográfico, como os de localização, extensão,
BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
364
correlação, diferenciação e analogia espacial. No Ensino Fundamental
– Anos Finais, espera-se que os alunos consigam ler, comparar e elabo-
rar diversos tipos de mapas temáticos, assim como as mais diferentes
representações utilizadas como ferramentas da análise espacial. Essa,
aliás, deve ser uma preocupação norteadora do trabalho com mapas
em Geografia. Eles devem, sempre que possível, servir de suporte para
o repertório que faz parte do raciocínio geográfico, fugindo do ensino
do mapa pelo mapa, como fim em si mesmo.
Na unidade temática
Natureza, ambientes e qualidade de vida,
busca-se a unidade da geografia, articulando geografia física e
geografia humana, com destaque para a discussão dos processos
físico-naturais do planeta Terra. No Ensino Fundamental – Anos
Iniciais, destacam-se as noções relativas à percepção do meio
físico natural e de seus recursos. Com isso, os alunos podem reco-
nhecer de que forma as diferentes comunidades transformam a
natureza, tanto em relação às inúmeras possibilidades de uso ao
transformá-la em recursos quanto aos impactos socioambientais
delas provenientes. No Ensino Fundamental – Anos Finais, essas
noções ganham dimensões conceituais mais complexas, de modo
a levar os estudantes a estabelecer relações mais elaboradas, con-
jugando natureza, ambiente e atividades antrópicas em distintas
escalas e dimensões socioeconômicas e políticas. Dessa maneira,
torna-se possível a eles conhecer os fundamentos naturais do
planeta e as transformações impostas pelas atividades humanas
na dinâmica físico-natural, inclusive no contexto urbano e rural.
Em todas essas unidades, destacam-se aspectos relacionados ao
exercício da cidadania e à aplicação de conhecimentos da Geogra-
fia diante de situações e problemas da vida cotidiana, tais como:
estabelecer regras de convivência na escola e na comunidade; dis-
cutir propostas de ampliação de espaços públicos; e propor ações
de intervenção na realidade, tudo visando à melhoria da coletivi-
dade e do bem comum.
No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, as crianças devem ser desa-
fiadas a reconhecer e comparar as realidades de diversos lugares de
vivência, assim como suas semelhanças e diferenças socioespaciais,
e a identificar a presença ou ausência de equipamentos públicos e
serviços básicos essenciais (como transporte, segurança, saúde e
educação). No Ensino Fundamental – Anos Finais, espera-se que os
alunos compreendam os processos que resultaram na desigualdade
social, assumindo a responsabilidade de transformação da atual
realidade, fundamentando suas ações em princípios democráticos,
solidários e de justiça. Dessa maneira, possibilita-se o entendimento
do que é Geografia, com base nas práticas espaciais, que dizem
CIÊNCIAS HUMANAS – GEOGRAFIA
ENSINO FUNDAMENTAL
365
respeito às ações espacialmente localizadas de cada indivíduo, con-
siderado como agente social concreto. Ao observar e analisar essas
ações, visando a interesses individuais (práticas espaciais), espera-
-se que os alunos estabeleçam relações de alteridade e de modo de
vida em diferentes tempos.
Assim, com o aprendizado de Geografia, os estudantes têm a opor-
tunidade de trabalhar com conceitos que sustentam ideias plurais
de natureza, território e territorialidade. Dessa forma, eles podem
construir uma base de conhecimentos que incorpora os segmentos
sociais culturalmente diferenciados e também os diversos tempos
e ritmos naturais.
Essa dimensão conceitual permite que os alunos desenvolvam apro-
ximações e compreensões sobre os saberes científicos – a respeito
da natureza, do território e da territorialidade, por exemplo – presen-
tes nas situações cotidianas. Quanto mais um cidadão conhece os
elementos físico-naturais e sua apropriação e produção, mais pode
ser protagonista autônomo de melhores condições de vida. Trata-
-se, nessa unidade temática, de desenvolver o conceito de ambiente
na perspectiva geográfica, o que se fundamenta na transforma-
ção da natureza pelo trabalho humano. Não se trata de transferir o
conhecimento científico para o escolar, mas, por meio dele, permitir
a compreensão dos processos naturais e da produção da natureza
na sociedade capitalista. Nesse sentido, ao compreender o contexto
da natureza vivida e apropriada pelos processos socioeconômicos
e culturais, os alunos constroem criticidade, fator fundamental de
autonomia para a vida fora da escola.
Para tanto, a abordagem dessas unidades temáticas deve ser realizada
integradamente, uma vez que a
situação geográfica
não é apenas um
pedaço do território, uma área contínua, mas um conjunto de relações.
Portanto, a análise de situação resulta da busca de características fun-
damentais de um lugar na sua relação com outros lugares. Assim, ao
se estudarem os objetos de aprendizagem de Geografia, a ênfase do
aprendizado é na posição relativa dos objetos no espaço e no tempo, o
que exige a compreensão das características de um lugar (localização,
extensão, conectividade, entre outras), resultantes das relações com
outros lugares. Por causa disso, o entendimento da situação geográ-
fica, pela sua natureza, é o procedimento para o estudo dos objetos
de aprendizagem pelos alunos. Em uma mesma atividade a ser desen-
volvida pelo professor, os alunos podem mobilizar, ao mesmo tempo,
diversas habilidades de diferentes unidades temáticas.
Cumpre destacar que os critérios de organização das habilidades na
BNCC (com a explicitação dos objetos de conhecimento aos quais
BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
366
COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE GEOGRAFIA PARA O
ENSINO FUNDAMENTAL
1.
Utilizar os conhecimentos geográficos para entender a interação sociedade/
natureza e exercitar o interesse e o espírito de investigação e de resolução
de problemas.
2.
Estabelecer conexões entre diferentes temas do conhecimento geográfico,
reconhecendo a importância dos objetos técnicos para a compreensão das
formas como os seres humanos fazem uso dos recursos da natureza ao
longo da história.
3.
Desenvolver autonomia e senso crítico para compreensão e aplicação
do raciocínio geográfico na análise da ocupação humana e produção do
espaço, envolvendo os princípios de analogia, conexão, diferenciação,
distribuição, extensão, localização e ordem.
4.
Desenvolver o pensamento espacial, fazendo uso das linguagens cartográ-
ficas e iconográficas, de diferentes gêneros textuais e das geotecnologias
para a resolução de problemas que envolvam informações geográficas.
5.
Desenvolver e utilizar processos, práticas e procedimentos de investigação
para compreender o mundo natural, social, econômico, político e o meio
técnico-científico e informacional, avaliar ações e propor perguntas
e soluções (inclusive tecnológicas) para questões que requerem
conhecimentos científicos da Geografia.
6.
Construir argumentos com base em informações geográficas, debater e
defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam a consciência
socioambiental e o respeito à biodiversidade e ao outro, sem preconceitos
de qualquer natureza.
7.
Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade,
flexibilidade, resiliência e determinação, propondo ações sobre as questões
socioambientais, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis
e solidários.
se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades temá-
ticas) expressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os
agrupamentos propostos não devem ser tomados como modelo
obrigatório para o desenho dos currículos.
Considerando esses pressupostos, e em articulação com as com-
petências gerais da Educação Básica e com as competências
específicas da área de Ciências Humanas, o componente curricular
de Geografia também deve garantir aos alunos o desenvolvimento
de
competências específicas
.
CIÊNCIAS HUMANAS – GEOGRAFIA
ENSINO FUNDAMENTAL
367
4.4.1.1.
GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL – ANOS INICIAIS:
UNIDADES TEMÁTICAS, OBJETOS DE CONHECIMENTO E
HABILIDADES
No contexto da aprendizagem do Ensino Fundamental – Anos Ini-
ciais, será necessário considerar o que as crianças aprenderam na
Educação Infantil.
Em seu cotidiano, por exemplo, elas desenham familiares, enumeram
relações de parentesco, reconhecem-se em fotos (classificando-as
como antigas ou recentes), guardam datas e fatos, sabem a hora de
dormir, de ir para a escola, negociam horários, fazem relatos orais, revi-
sitam o passado por meio de jogos, cantigas e brincadeiras ensinadas
pelos mais velhos, posicionam-se criticamente sobre determinadas
situações, e tantos outros.
Tendo por referência esses conhecimentos das próprias crianças,
o estudo da Geografia no Ensino Fundamental – Anos Iniciais, em
articulação com os saberes de outros componentes curriculares e
áreas de conhecimento, concorre para o processo de alfabetização
e letramento e para o desenvolvimento de diferentes raciocínios.
O estudo da Geografia permite atribuir sentidos às dinâmicas das
relações entre pessoas e grupos sociais, e desses com a natureza,
nas atividades de trabalho e lazer. É importante, na faixa etária
associada a essa fase do Ensino Fundamental, o desenvolvimento
da capacidade de leitura por meio de fotos, desenhos, plantas,
maquetes e as mais diversas representações. Assim, os alunos
desenvolvem a percepção e o domínio do espaço.
Nessa fase, é fundamental que os alunos consigam saber e respon-
der algumas questões a respeito de si, das pessoas e dos objetos:
Onde se localiza? Por que se localiza? Como se distribui? Quais são as
características socioespaciais? Essas perguntas mobilizam as crian-
ças a pensar sobre a localização de objetos e das pessoas no mundo,
permitindo que compreendam seu lugar no mundo.
“Onde se localiza?” é uma indagação que as leva a mobilizar o pen-
samento espacial e as informações geográficas para interpretar as
paisagens e compreender os fenômenos socioespaciais, tendo na
alfabetização cartográfica um importante encaminhamento.
BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
368
“Por que se localiza?” permite a orientação e a aplicação do pensa-
mento espacial em diferentes lugares e escalas de análise.
“Como se distribui?” é uma pergunta que remete ao princípio geo-
gráfico de diferenciação espacial, que estimula os alunos a entender
o ordenamento territorial e a paisagem, estabelecendo relações entre
os conceitos principais da Geografia.
“Quais são as características socioespaciais?” permite que reconhe-
çam a dinâmica da natureza e a interferência humana na superfície
terrestre, conhecendo os lugares e estabelecendo conexões entre
eles, sejam locais, regionais ou mundiais, além de contribuir para a
percepção das temáticas ambientais.
A ênfase nos lugares de vivência, dada no Ensino Fundamental – Anos
Iniciais, oportuniza o desenvolvimento de noções de pertencimento,
localização, orientação e organização das experiências e vivências
em diferentes locais.
Essas noções são fundamentais para o trato com os conhecimen-
tos geográficos. Mas o aprendizado não deve ficar restrito apenas
aos lugares de vivência. Outros conceitos articuladores, como pai-
sagem, região e território, vão se integrando e ampliando as escalas
de análise.
De maneira geral, na abordagem dos objetos de conhecimento, é
necessário garantir o estabelecimento de relações entre concei-
tos e fatos que possibilitem o conhecimento da dinâmica do meio
físico, social, econômico e político. Dessa forma, deve-se garantir
aos alunos a compreensão das características naturais e culturais
nas diferentes sociedades e lugares do seu entorno, incluindo a
noção espaço-tempo.
Assim, é imprescindível que os alunos identifiquem a presença e a
sociodiversidade de culturas indígenas, afro-brasileiras, quilombolas,
ciganas e dos demais povos e comunidades tradicionais para com-
preender suas características socioculturais e suas territorialidades.
Do mesmo modo, é necessário que eles diferenciem os lugares de
vivência e compreendam a produção das paisagens e a inter-relação
entre elas, como o campo/cidade e o urbano/rural, no que tange aos
aspectos políticos, sociais, culturais, étnico-raciais e econômicos.
CIÊNCIAS HUMANAS – GEOGRAFIA
ENSINO FUNDAMENTAL
369
Essas aprendizagens servem de base para o desenvolvimento de
atitudes, procedimentos e elaborações conceituais que poten-
cializam o reconhecimento e a construção das identidades e a
participação em diferentes grupos sociais.
Esse processo de aprendizado abre caminhos para práticas de
estudo provocadoras e desafiadoras, em situações que estimulem
a curiosidade, a reflexão e o protagonismo. Pautadas na obser-
vação, nas experiências diretas, no desenvolvimento de variadas
formas de expressão, registro e problematização, essas práticas
envolvem, especialmente, o trabalho de campo.
BASE NACIONAL
COMUM CURRICULAR
370
GEOGRAFIA – 1º ANO
UNIDADES TEMÁTICAS
OBJETOS DE CONHECIMENTO
HABILIDADES
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