segundos, de forma ritmada, até Mary dizer num impulso:
– Meu Deus, Kate, fique quieta!
– A senhora sabe que não posso – respondeu ela.
Mary apenas suspirou.
Após outro longo silêncio, pontuado somente pela batida de seu pé, Kate acrescentou:
– Edwina ficará solitária sem nós.
Mary nem se deu o trabalho de olhar para ela ao falar:
– Edwina tem um romance para ler. O último daquela tal Jane Austen. Nem perceberá que
saímos.
Isso era verdade. Se a cama pegasse fogo enquanto ela lia, talvez Edwina nem percebesse.
Kate disse, então:
– A música provavelmente será terrível. Depois daquela história dos Smythe-Smiths...
– Quem se apresentou no recital dos Smythe-Smiths foram as filhas deles – retrucou Mary,
soando um pouco impaciente. – Lady Bridgerton contratou um cantor de ópera profissional,
vindo da Itália. É uma honra termos sido convidadas.
Kate sabia, sem dúvida, que o convite fora para Edwina. Decerto ela e Mary haviam sido
incluídas apenas por uma questão de educação. Mas a madrasta tinha começado a ficar
nervosa, por isso Kate decidiu segurar a língua pelo restante da viagem.
Isso não seria tão difícil, porque já estavam quase diante da Casa Bridgerton.
Kate ficou boquiaberta ao olhar pela janela.
– É imensa – observou.
– Não é? – disse Mary, recolhendo suas coisas. – O que sei é que lorde Bridgerton não
mora aqui. Embora a casa pertença a ele, o visconde permanece em aposentos de solteiro
para que a mãe e os irmãos possam residir na mansão. Não é muita consideração da parte
dele?
Consideração e lorde Bridgerton eram duas expressões que Kate não conseguia imaginar na
mesma frase. No entanto, ela assentiu, impressionada demais com o tamanho e a beleza da
construção de pedra para fazer um comentário inteligente.
Quando a carruagem parou, Mary e Kate receberam a ajuda de um dos criados dos
Bridgertons, que correu para abrir a porta. Um mordomo pegou o convite e esperou que elas
entrassem. Depois, recolheu suas capas e apontou para o salão de música, que ficava no fim
do corredor.
Kate já estivera em mansões londrinas suficientes para não se espantar com o luxo e a
beleza óbvios da mobília, mas mesmo assim ficou impressionada com a elegância e a
sobriedade da decoração da Casa Bridgerton. Até os tetos eram obras de arte – em tons
claros de verde e azul, com as cores separadas por uma sanca branca tão intricada que
parecia quase uma renda.
O salão de música também era adorável, com suas paredes de uma agradável tonalidade de
amarelo-limão. Havia fileiras de cadeiras dispostas para os participantes e Kate logo conduziu
a madrasta para uma das últimas. Na verdade, não havia motivo para querer ficar em um
lugar de destaque. Sem dúvida, lorde Bridgerton estaria presente – se todas as histórias sobre
sua devoção à família fossem reais –, e, se Kate tivesse sorte, talvez ele nem notasse sua
presença.
Mas, ao contrário, Anthony soube exatamente quando Kate desceu da carruagem e entrou
na casa de sua família. Estava no escritório, degustando um drinque solitário antes de se
dirigir ao recital anual da mãe. Por uma questão de privacidade, preferira não morar na Casa
Bridgerton enquanto fosse solteiro, mas mantinha um escritório ali. Sua posição de chefe da
família trazia grandes responsabilidades, e Anthony achava mais fácil cuidar dessas
atribuições na própria mansão.
As janelas do escritório davam para a Grosvenor Square e ele se divertia observando as
carruagens chegarem trazendo os convidados. Quando Kate Sheffield desceu da sua, ergueu
os olhos para a fachada da Casa Bridgerton e inclinou a cabeça de maneira muito
semelhante à que fizera ao desfrutar do calor do sol no Hyde Park. A luz dos candeeiros, de
ambos os lados da porta principal, banhou sua pele com um brilho tremeluzente.
Nesse momento, Anthony perdeu imediatamente o fôlego.
Apoiou o copo de vidro no amplo peitoril com um baque surdo. Aquilo estava ficando
ridículo. Ele não enganaria a si mesmo dizendo que a tensão em seus músculos não tinha
nada a ver com desejo.
Droga. Ele nem sequer gostava daquela mulher. Ela era muito mandona, muito teimosa, e
tirava conclusões rápido demais. E não era nem bonita – ao menos quando comparada a
algumas das damas que estavam em Londres para a temporada, principalmente a própria
irmã.
O rosto de Kate era comprido demais, o queixo, muito pontudo, e os olhos, enormes. Tudo
nela era excessivo. Até a boca, que o matara de constrangimento com seu fluxo infinito de
insultos e opiniões, era carnuda demais. Nas raras ocasiões em que ela a fechava e lhe
proporcionava um abençoado instante de silêncio (já que decerto não conseguia ficar calada
por mais que apenas um instante), tudo o que ele via eram os lábios, cheios, carnudos e –
desde que ela os mantivesse fechados, sem dizer uma palavra – eminentemente beijáveis.
Beijáveis?
Anthony estremeceu. A ideia de beijar Kate Sheffield era assustadora. Na verdade, o
simples fato de pensar nisso deveria ser suficiente para mandá-lo para o manicômio.
Ainda assim...
Anthony deixou-se cair numa cadeira.
... ainda assim, sonhara com ela.
Acontecera após o fiasco no lago Serpentine. Ele havia ficado tão furioso com ela que mal
podia falar. Foi surpreendente que, no fim das contas, tivesse conseguido dizer alguma coisa
a Edwina durante o rápido percurso de volta à casa dela. Tudo o que conseguira produzir
fora uma conversa educada: palavras irrefletidas banais que saíam de sua boca sem que ele se
desse conta.
Com certeza, fora uma bênção, pois sua mente definitivamente não estava onde deveria:
em Edwina, a futura esposa.
Ah, ela não havia aceitado se casar com ele. Ele não tinha nem pedido. Mas Edwina
satisfazia todos os pré-requisitos que ele estabelecera para que uma mulher se tornasse sua
esposa. Anthony já havia decidido que ela seria a pessoa com quem se casaria. Era bonita,
inteligente e tranquila. Atraente sem fazer o sangue dele ferver. Os dois passariam anos
agradáveis juntos, mas ele nunca se apaixonaria por ela.
Ela era exatamente o que ele precisava.
E ainda assim...
Anthony estendeu a mão para o copo e acabou a bebida em um único gole.
... Ainda assim, ele havia sonhado com a irmã dela.
Tentou não se lembrar dos detalhes do sonho – do calor e do suor –, mas havia bebido
apenas um drinque naquela noite e isso certamente não fora capaz de apagar suas
lembranças. Embora não tivesse intenção de beber mais, a ideia de se entregar ao
esquecimento começava a lhe parecer atraente.
Qualquer coisa seria atraente se significasse que ele não se lembraria.
Mas ele não tinha vontade de beber. Havia anos que não se embriagava. Parecia coisa de
jovens, nem um pouco atraente para um homem de quase 30 anos. Além disso, mesmo que
decidisse buscar a amnésia temporária em uma garrafa, ela não viria rápido o suficiente para
afastar a lembrança dela.
Lembrança? Rá. Nem era uma lembrança real. Fora apenas um sonho, recordou-se. Apenas
um sonho.
Naquela noite, ele adormecera depressa ao retornar para casa. Tirara as roupas e
mergulhara em uma banheira de água quente por quase uma hora, tentando afastar o frio
que ia até os ossos. Não tinha mergulhado por completo no lago Serpentine, como Edwina,
mas suas pernas haviam ficado encharcadas, assim como uma das mangas, e a sacudida
estratégica de Newton garantira que nem um centímetro de seu corpo permanecesse quente
durante a volta à casa das Sheffields no cabriolé emprestado.
Após o banho, ele se metera na cama sem se importar com o fato de que ainda era cedo
para dormir e que ainda seria ao menos por uma hora. Estava exausto e sua intenção era
adormecer profundamente, sem sonhar com nada, até os primeiros sinais da aurora.
Mas, em algum momento durante a noite, seu corpo fora tomado pela inquietude e avidez.
E a mente traiçoeira se enchera de imagens terríveis. Ele as observava como se flutuassem
próximo ao teto, e ainda assim sentia tudo: seu corpo nu movendo-se sobre uma forma
feminina flexível, as mãos acariciando e apertando a carne quente, a confusão agradável de
braços e pernas, o aroma almiscarado de dois corpos apaixonados – tudo isso estivera ali,
quente e vívido em sua cabeça.
E então ele se movera. Um pouco apenas, talvez para beijar a orelha da mulher cujo rosto
estava oculto. No entanto, quando se afastara para o lado, a fisionomia dela aos poucos ficara
evidente. Primeiro, apareceu uma mecha densa de cabelos castanho-escuros, encaracolando-
se suavemente e fazendo cócegas em seu ombro. Então ele se afastou mais ainda...
E a viu.
Kate Sheffield.
Anthony acordara no mesmo instante e sentara-se muito ereto na cama, tremendo
horrorizado. Fora o sonho erótico mais vívido que já tivera.
E seu pior pesadelo.
Tateou os lençóis com uma das mãos, de forma frenética, temendo encontrar a prova de
sua paixão. Que Deus tivesse piedade se ele realmente houvesse ejaculado enquanto
sonhava com a mais terrível das mulheres que conhecia.
Graças ao Senhor, os lençóis estavam limpos. Assim, com o coração disparado e a respiração
ofegante, ele voltou a se reclinar nos travesseiros com movimentos lentos e cautelosos, como
se isso, de alguma maneira, pudesse evitar a repetição do sonho.
Fitara o teto durante horas, primeiro conjugando verbos em latim e depois contando até
mil, numa tentativa de manter o cérebro concentrado em algo que não fosse Kate Sheffield.
E, para sua surpresa, conseguira exorcizar a imagem da mente e adormecer.
Mas agora ela voltara. Estava ali. Em sua casa.
Era um pensamento terrível.
E onde diabo estava Edwina? Por que não acompanhara a mãe e a irmã?
Os primeiros acordes de um quarteto de cordas passaram por debaixo da porta, dissonantes
e confusos. Sem dúvida, era o aquecimento dos músicos que a mãe contratara para
acompanhar Maria Rosso, a última soprano que tomara Londres de assalto.
Anthony com certeza não dissera isso à mãe, mas ele e Maria haviam tido um agradável
interlúdio da última vez que ela viera à cidade. Talvez ele devesse considerar renovar a
amizade dos dois. Se a beleza italiana exuberante não curasse o que o afligia, nada poderia.
Ele se levantou e empertigou os ombros, consciente de que parecia se preparar para uma
batalha. Droga, era assim que se sentia. Talvez, se tivesse sorte, conseguisse evitar qualquer
contato com Kate Sheffield. Imaginava que ela não teria interesse em interromper o que quer
que estivesse fazendo para entabular uma conversa com ele. Já ficara muito claro que a
opinião que ele tinha dela era recíproca.
Sim, era isso que faria. Evitaria Kate Sheffield. Não podia ser difícil, não é?
CAPÍTULO 6
O recital de Lady Bridgerton mostrou ser, decididamente, um evento musical (esta autora
garante que nem sempre essa é a regra nos recitais). A artista convidada era ninguém
menos que Maria Rosso, a soprano italiana que fez sua estreia em Londres há dois anos e
voltou agora depois de um breve período nos palcos de Viena.
Com cabelos volumosos e negros e olhos escuros reluzentes, a Srta. Rosso mostrou ser tão
graciosa nas formas quanto na voz, e mais de um (na verdade, mais de uma dúzia) dos
chamados cavalheiros da sociedade teve muita dificuldade em afastar os olhos de sua
pessoa, mesmo depois do fim da apresentação.
C
27
K
ate soube o minuto exato em que ele entrou na sala.
Tentou dizer a si mesma que não tinha nada a ver com uma percepção exaltada do sujeito.
Ele era lindo, e isso era um fato, não uma opinião. Kate tinha certeza de que todas as
mulheres tomavam conhecimento de sua presença imediatamente.
Ele chegou atrasado. Só um pouco – a soprano ainda não tinha avançado muito na
apresentação. Mas atrasado o suficiente para tentar não fazer barulho ao se sentar em uma
cadeira na primeira fila, perto da família. Kate permaneceu imóvel em seu lugar na parte de
trás, quase certa de que ele não a vira ao se acomodar para assistir à apresentação. Não
olhara na direção dela e, além disso, várias velas tinham sido apagadas, deixando a sala
banhada por um brilho pálido e romântico. As sombras decerto obscureciam seu rosto.
Kate tentou se concentrar na Srta. Rosso durante toda a apresentação. Não adiantou muito,
porém, porque a cantora não tirava os olhos de lorde Bridgerton. De início, Kate pensara que
o fascínio da mulher pelo visconde fosse fruto de sua imaginação, mas, no meio da
performance, não teve mais como duvidar. Maria Rosso estava fazendo ao visconde um
convite com os olhos.
Kate não sabia por que isso a incomodava tanto. Afinal, era apenas mais uma prova de que
ele era o libertino que ela sempre soubera que era. Devia se sentir orgulhosa. Vingada.
Em vez disso, tudo o que sentia era decepção. Experimentava uma sensação aguda,
incômoda em seu coração, que a fazia afundar um pouco na cadeira.
Quando a apresentação acabou, ela não pôde deixar de notar que a soprano, depois de
receber os aplausos da forma mais graciosa, caminhou descaradamente até o visconde e lhe
ofereceu um daqueles sorrisos sedutores que Kate nunca aprenderia a dar, mesmo que uma
dúzia de cantoras de ópera tentasse lhe ensinar. Não havia como confundir o que a cantora
queria dizer com aquele sorriso.
Por Deus, o sujeito nem precisava ir atrás das mulheres. Elas praticamente caíam a seus pés.
Era nojento. Muito nojento.
Ainda assim, Kate não conseguia parar de olhar.
Lorde Bridgerton dirigiu à Srta. Rosso um daqueles seus meio sorrisos misteriosos. Então
esticou a mão e colocou um cacho dos cabelos negros atrás da orelha dela.
Kate estremeceu.
Ele tinha se inclinado e murmurava algo em seu ouvido. Kate sentiu as próprias orelhas
esticando-se na direção deles, embora fosse obviamente impossível ouvir qualquer coisa
daquela distância.
Mas, ainda assim, era um crime ser tão curiosa? E...
Por Deus, será que ele tinha beijado o pescoço dela? Por certo não faria algo assim na casa
da própria mãe. Bem, ela sabia que a Casa Bridgerton pertencia, tecnicamente, a ele, mas a
mãe morava ali, bem como muitos de seus irmãos. Na verdade, o sujeito deveria ter um
pouco mais de consideração. Algum decoro na presença da família não seria demais.
– Kate? Kate?
Fora um beijo breve, apenas uma roçada dos lábios leve como pena sobre a pele da Srta.
Rosso, mas ainda assim um beijo.
– Kate!
– Sim! Pois não?
Ela deu um pulo quando girou na cadeira para encarar Mary, que a observava com uma
expressão irritada.
– Pare de olhar para o visconde – sussurrou a madrasta.
– Eu não estava olhando para ele. Ora, está bem, eu estava, mas você viu? – cochichou
Kate. – É um descarado.
Ela virou a cabeça para ele, que ainda flertava com Maria Rosso e, obviamente, não se
importava com os olhares que atraía.
Mary ficou bem séria e então disse:
– Tenho certeza de que o comportamento dele não é problema nosso.
– Claro que é problema nosso. Ele quer se casar com Edwina.
– Não sabemos se isso é verdade.
Kate lembrou-se de suas conversas com lorde Bridgerton.
– Eu diria que há uma grande probabilidade de ser.
– Bem, pare de vigiá-lo. Com certeza ele não quer nada com você depois do fiasco no Hyde
Park. Além disso, há um bom número de cavalheiros disponíveis aqui. Você faria um bem
enorme se parasse de pensar em Edwina o tempo todo e começasse a olhar ao redor.
Kate sentiu os ombros se arquearem. A mera ideia de tentar atrair um admirador era
desgastante. Todos queriam Edwina, de qualquer forma. E, mesmo que ela não estivesse
nem um pouco interessada no visconde, se incomodou ao ouvir Mary dizer que tinha certeza
de que ele não queria nada com ela.
Mary agarrou o braço da enteada com uma firmeza que não dava abertura a nenhum
protesto.
– Vamos, Kate – falou em voz baixa. – Vamos cumprimentar nossa anfitriã.
Kate engoliu em seco. Lady Bridgerton? Ela teria que falar com Lady Bridgerton? A mãe do
visconde? Já era difícil acreditar que uma criatura como ele tivesse uma mãe.
Contudo, educação era educação, e, por mais que Kate quisesse se dirigir ao saguão e sair
dali, sabia que devia agradecer à anfitriã por preparar uma apresentação tão agradável.
E fora mesmo agradável. Ainda que relutasse em admitir, especialmente pelo fato de a
mulher em questão estar pendurada no visconde, Maria Rosso tinha a voz de um anjo.
Conduzida com determinação por Mary, Kate chegou à frente do salão e aguardou a vez de
cumprimentar a viscondessa. Ela parecia uma mulher adorável, com cabelos louros e olhos
claros, e muito baixinha para gerar filhos tão altos. O falecido visconde devia ter sido um
homem grande, concluiu.
Enfim elas chegaram à frente da pequena multidão e Lady Bridgerton segurou a mão de
Mary.
– Sra. Sheffield – falou com a voz branda –, que prazer vê-la mais uma vez. Gostei tanto de
nosso encontro no baile de Hartside, na última semana... Fico muito feliz que a senhora
tenha aceitado meu convite.
– Nem sonharíamos em passar a noite em outro lugar – retrucou Mary. – Gostaria de lhe
apresentar minha filha.
Ela apontou para Kate, que deu um passo à frente e inclinou-se numa mesura respeitosa.
– É um prazer conhecê-la, Srta. Sheffield – disse Lady Bridgerton.
– Sinto-me igualmente honrada – respondeu Kate.
Lady Bridgerton fez um gesto para uma jovem a seu lado.
– E essa é minha filha Eloise.
Kate sorriu de modo afetuoso para a garota, que parecia ter a idade de Edwina. Os cabelos
eram da mesma cor dos de seus irmãos mais velhos e o rosto estava iluminado por um
sorriso largo e simpático. Kate gostou dela de imediato.
– Como vai, Srta. Bridgerton? – falou Kate. – É sua primeira temporada?
Eloise assentiu.
– Oficialmente, deveria ser apenas no ano que vem, mas minha mãe me permitiu participar
de alguns eventos aqui na Casa Bridgerton.
– Que sorte a sua – comentou Kate. – Eu adoraria ter ido a algumas festas no ano passado.
Nesta primavera, quando cheguei a Londres, tudo era tão novo... Minha cabeça dá um nó só
de tentar lembrar o nome de todos.
Eloise sorriu.
– Na verdade, minha irmã Daphne debutou há dois anos, e descreveu a tudo e a todos com
tantos detalhes que sinto como se já conhecesse praticamente todo mundo.
– Daphne é sua filha mais velha? – perguntou Mary a Lady Bridgerton.
A viscondessa assentiu.
– Casou-se com o duque de Hastings no ano passado.
Mary sorriu.
– A senhora deve ter ficado encantada.
– Decerto que sim. Ele é um duque, e, mais importante, é um bom homem, que ama
minha filha. Espero apenas que meus outros rebentos tenham casamentos tão maravilhosos
quanto o dela. – Lady Bridgerton inclinou a cabeça levemente para o lado e virou-se para
Kate. – Ouvi dizer, Srta. Sheffield, que sua irmã não pôde vir esta noite.
Kate tentou conter um gemido. Era evidente que Lady Bridgerton já imaginava Anthony e
Edwina caminhando para o altar.
– Infelizmente, ela pegou um resfriado na semana passada.
– Nada sério, espero – disse a viscondessa para Mary, num tom de mãe para mãe.
– Não, de forma alguma – respondeu Mary. – Na verdade, ela está quase curada. Mas
achei que deveria convalescer por mais um dia antes de sair ao ar livre. Não seria bom ter
uma recaída.
– Não, claro que não. – Lady Bridgerton fez uma pausa e em seguida sorriu. – Bem, é uma
pena. Eu estava ansiosa para conhecê-la. Edwina, não é?
Kate e Mary assentiram.
– Ouvi dizer que ela é adorável.
Ao mesmo tempo que Lady Bridgerton dizia essas palavras, lançava um olhar para o filho –
que flertava enlouquecidamente com a cantora de ópera italiana – e franzia a testa.
Kate sentiu um embrulho no estômago. De acordo com os números recentes do
Whistledown, Lady Bridgerton estava em uma missão para casar o filho. E, embora o
visconde não parecesse o tipo de homem que satisfizesse a vontade da mãe (ou de qualquer
pessoa, aliás), Kate tinha a sensação de que a senhora conseguiria exercer alguma pressão, se
quisesse.
Após alguns instantes conversando sobre amenidades, Mary e Kate deixaram Lady
Bridgerton à vontade para cumprimentar o restante dos convidados. Em pouco tempo, a Sra.
Featherington – que, como mãe de três filhas solteiras, sempre tinha muito a dizer a Mary
sobre uma ampla variedade de assuntos – se aproximou das duas. Mas, enquanto a mulher
gorducha avançava na direção delas, seus olhos pousaram em Kate.
Kate na mesma hora começou a avaliar possíveis rotas de fuga.
– Kate! – gritou a mulher. Havia muito ela se considerava íntima dos Sheffields. – Que
surpresa vê-la por aqui!
– E por que razão, Sra. Featherington? – indagou Kate, confusa.
– Com certeza você leu o Whistledown de hoje.
Kate sorriu sem graça. Ou fazia isso ou se encolhia.
– Ah, a senhora se refere ao pequeno incidente envolvendo meu cachorro?
A Sra. Featherington ergueu as sobrancelhas.
– Pelo que ouvi dizer, foi mais que um “pequeno incidente”.
– Não foi nada de mais – retrucou Kate com firmeza, embora, para dizer a verdade, achasse
difícil não rosnar diante daquela mulher indiscreta. – E devo dizer que fiquei ressentida com
Lady Whistledown por se referir a Newton como um cão de raça indeterminada. Pois saiba a
senhora que ele é um Corgi de raça pura.
– Isso era o menos importante – comentou Mary, enfim tomando a defesa de Kate. – Fico
Compartilhe com seus amigos: |