–
S
abe o que eu acho? – perguntou Kate ao sentar-se na penteadeira mais tarde naquela
noite, para escovar os cabelos.
Anthony estava de pé, apoiado na moldura da janela, e olhava lá para fora.
– Hum? – disse ele, muito distraído com os próprios pensamentos para formular uma
resposta mais coerente.
– Acho que da próxima vez que houver uma tempestade, vou ficar bem – falou animada.
Ele se virou devagar.
– É mesmo?
Kate assentiu.
– Não sei por que acho isso. Intuição, suponho.
– As maiores certezas vêm da intuição – comentou ele com uma voz que soou estranha e
inexpressiva aos próprios ouvidos.
– Estou sentindo um otimismo esquisito – disse ela, balançando a escova de cabelo
prateada no ar ao falar. – Durante toda a vida, tive uma sensação terrível pairando acima de
mim. Eu nunca lhe contei... a ninguém, na verdade... mas sempre que havia uma
tempestade e eu tremia de medo, pensava... bem, eu não pensava apenas. De algum modo,
eu sabia...
– O que, Kate? – indagou ele, temendo a resposta sem nem imaginar o porquê.
– De alguma maneira – continuou ela, pensativa –, enquanto eu tremia e soluçava,
simplesmente sabia que ia morrer. Não havia como passar por aquele horror e sobreviver até
o dia seguinte.
Ela inclinou a cabeça ligeiramente para o lado e seu rosto assumiu uma leve expressão de
tensão, como se ela não soubesse muito bem como dizer o que queria.
Mas Anthony entendeu. E isso fez seu sangue gelar.
– Você deve estar achando isso a coisa mais idiota que alguém já imaginou – falou ela,
dando de ombros com constrangimento. – Você é tão racional, inteligente e prático... Não
acho que poderia entender uma coisa dessas.
Se ela soubesse... Anthony esfregou os olhos, sentindo uma estranha sensação de
embriaguez. Caminhou com dificuldade até uma cadeira, torcendo para que Kate não
percebesse seu desequilíbrio, e sentou-se.
Felizmente, a atenção dela estava concentrada nos vários vidros e adornos na penteadeira.
Ou talvez ela estivesse muito envergonhada para fitá-lo, achando que ele desprezaria seus
medos irracionais.
– Sempre que a chuva passava – continuou Kate, virada para o móvel –, eu sabia que tinha
agido como uma tola e que a ideia era ridícula. Afinal, eu passara por tempestades antes e
nenhuma delas havia me matado. Mas essa racionalização nunca parecia me ajudar. Entende
o que quero dizer?
Anthony tentou concordar, embora não soubesse de fato se entendia.
– Quando chovia – disse ela –, nada realmente existia a não ser a tempestade. E, claro, meu
medo. Então o sol saía e eu percebia mais uma vez que tinha sido uma boba. Mas era só
chover de novo para eu ter certeza de que morreria.
Anthony ficou nauseado. Seu corpo parecia estranho, como se não pertencesse a ele.
Mesmo que tentasse, não conseguiria dizer nada.
– Na verdade – prosseguiu ela, virando a cabeça para fitá-lo –, a única vez que senti que
sobreviveria foi na biblioteca em Aubrey Hall. – Ela se levantou, foi até ele, ajoelhou-se à sua
frente e apoiou o rosto em seu colo. – Com você – murmurou.
Anthony afagou seus cabelos. Agiu mais por reflexo que por qualquer outra coisa. Não
estava consciente de suas ações.
Não fazia ideia de que Kate tinha noção da própria mortalidade. A maioria das pessoas não
tem. Isso dera a Anthony uma estranha sensação de isolamento ao longo dos anos, como se
ele entendesse uma verdade terrível e fundamental que se ocultava do restante da
sociedade.
E, embora a percepção de Kate não fosse semelhante à dele – a dela era passageira, causada
por uma rajada temporária de vento, chuva e raios, enquanto a dele nunca o deixava e
estaria com ele até o dia de sua morte –, ela conseguira superá-la.
Kate lutara contra seus demônios e vencera.
Anthony sentiu muita inveja dela.
Não era uma reação nobre, ele sabia. Gostando dela como gostava, estava satisfeito,
aliviado e feliz por ela ter vencido seus temores mais profundos, mas ainda assim a invejava.
Muito.
Kate vencera.
E ele, que sabia quais eram seus demônios mas se recusava a temê-los, estava petrificado de
terror. Tudo isso por causa da única coisa que jurara que nunca aconteceria.
Ele se apaixonara pela esposa.
Agora, a ideia de morrer, de deixá-la, de saber que seus momentos juntos formariam um
curto poema, em vez de um romance longo e apaixonado, era mais do que ele podia
suportar.
Não sabia em quem pôr a culpa. Queria apontar o dedo para o pai, por ter morrido jovem e
o deixado como portador dessa terrível maldição. Queria censurar Kate, por entrar em sua
vida e fazê-lo temer o próprio fim. Ora, ele poderia culpar até um estranho na rua se achasse
que isso adiantaria alguma coisa.
Mas a verdade era que ninguém era culpado, nem mesmo ele. Sentiria-se muito melhor se
pudesse acusar alguém – qualquer um. Era uma necessidade infantil, mas todos tinham o
direito de ser infantis de vez em quando, não é?
– Estou tão feliz... – murmurou Kate, com a cabeça apoiada em seu colo.
Anthony também queria ser feliz. Desejava, com todas as forças, que tudo fosse mais
simples, que a felicidade fosse apenas felicidade e nada mais. Gostaria de desfrutar das
vitórias recentes sem ter que pensar nas próprias preocupações. Queria perder-se no
momento, esquecer o futuro, tomar Kate em seus braços e...
De forma abrupta, não premeditada, ele se pôs de pé e ergueu Kate.
– Anthony? – disse ela, piscando, surpresa.
Em resposta, ele a beijou. Seus lábios tomaram os dela numa explosão de paixão e desejo
que confundiu sua mente até que apenas seu corpo estivesse no controle. Ele não queria
pensar, não queria ser capaz de pensar. Tudo o que queria era aquele momento.
E ele queria que o momento durasse para sempre.
Pegou Kate no colo e caminhou com dificuldade até a cama. Então deitou-a no colchão e
cobriu o corpo dela com o seu meio segundo depois. Ela estava deslumbrante debaixo dele,
suave e forte a um só tempo, consumida pelo mesmo fogo que ardia nele. Ela podia não
compreender o que detonara aquela necessidade súbita, mas se sentia da mesma maneira.
Kate já estava vestida para dormir, e Anthony abriu facilmente seu penhoar com dedos
experientes. Precisava tocá-la, senti-la, ter certeza de que ela estava ali, sob o corpo dele, e
que ele estava ali para fazer amor com ela. Ela vestia uma camisola de seda azul-clara, de
alcinhas, que envolvia suas curvas. Era o tipo de roupa capaz de fazer qualquer homem
incendiar de paixão, e Anthony não era exceção.
Havia algo muito erótico em sentir a pele morna dela através da seda, e as mãos dele
percorreram sem parar o corpo de Kate, tocando, apertando, fazendo qualquer coisa que a
unisse a ele.
Se ele pudesse arrastá-la para dentro dele, faria isso e a manteria ali para sempre.
– Anthony – arfou Kate no breve instante em que ele afastou os lábios do dela –, está tudo
bem?
– Eu quero você – grunhiu ele, puxando a camisola até as coxas dela. – Quero você agora.
Ela arregalou os olhos de choque e excitação, e ele se sentou sobre ela com as pernas
abertas, apoiando o peso do corpo nos joelhos para não esmagá-la.
– Você é tão linda... – sussurrou. – Tão inacreditavelmente linda...
Kate se iluminou ao ouvir essas palavras. Levou as mãos ao rosto de Anthony e passou os
dedos sobre a barba por fazer. Ele pegou uma das mãos dela e beijou-lhe a palma, enquanto
ela fazia a outra descer pelo pescoço dele.
Os dedos de Anthony encontraram as delicadas alças da camisola nos ombros dela,
amarradas em laços frouxos. Só foi necessário um leve puxão para desfazê-los, e assim que
eles se soltaram Anthony puxou a peça de roupa até os pés dela, deixando-a completamente
nua diante de seus olhos.
Com um gemido entrecortado, ele arrancou a camisa, fazendo os botões voarem pelos ares,
e só levou alguns segundos para tirar a calça. E então, quando não havia mais nada na cama
além da pele gloriosa de Kate, ele voltou a cobri-la, abrindo as pernas dela com suas coxas
musculosas.
– Não consigo esperar – disse ele com a voz rouca. – Não vou conseguir fazer isto ser bom
para você.
Kate deu um gemido febril ao agarrá-lo pelos quadris, dirigindo-o para sua abertura.
– É bom para mim – arfou. – Não quero que você espere.
Nesse momento, as palavras cessaram. Anthony soltou um grito gutural, primitivo, ao se
lançar dentro dela, enterrando-se completamente em um longo e poderoso golpe. Kate
arregalou os olhos enquanto sua boca formava um gemido de choque pela rápida invasão.
Mas ela já estava pronta para ele – mais do que pronta. Havia algo no ritmo incansável dele
ao fazer amor que despertava uma paixão profunda nela, até que precisasse dele com um
desespero que a deixava sem fôlego.
Eles não foram delicados nem sutis. Estavam quentes, suados, necessitados, e seguravam
um ao outro como se pudessem fazer o tempo durar para sempre só pela força de vontade.
Quando chegaram ao clímax, foi selvagem e simultâneo, ambos os corpos arqueando-se com
os gritos de liberação que se misturaram à noite.
Assim que terminaram, aninharam-se nos braços um do outro, lutando para normalizar a
respiração. Nesse momento, Kate fechou os olhos, satisfeita e rendida à exaustão.
Anthony, não.
Ele a observou se afastar, e então adormecer. Fitou o modo como seus olhos, às vezes, se
moviam sob as pálpebras fechadas. Mediu o ritmo de sua respiração, contando quantas vezes
o peito dela subia e descia. Ouviu com atenção cada suspiro, cada murmúrio.
Havia certas recordações que um homem queria gravar no próprio cérebro, e aquela era
uma delas.
Mas, quando ele teve certeza de que ela tinha adormecido, Kate fez um barulho estranho
ao se aninhar mais profundamente em seu abraço e enfim abriu os olhos, bem devagar.
– Você ainda está acordado – sussurrou com a voz rouca e suave por ter acabado de
acordar.
Ele admitiu, perguntando-se se a estava segurando com força demais. Não queria soltá-la.
Nunca iria querer soltá-la.
– Você deveria dormir – disse ela.
Anthony assentiu mais uma vez, mas não fechou os olhos.
Kate bocejou.
– Isso é bom.
Ele beijou sua testa, fazendo um som de concordância.
Ela levantou a cabeça, deu-lhe um beijo nos lábios, então ajeitou-se no travesseiro.
– Espero que fiquemos sempre assim – murmurou ela, bocejando de novo enquanto o sono
a dominava. – Para sempre.
Anthony ficou paralisado.
Sempre.
Ela não podia saber o que essa palavra significava para ele. Cinco anos? Seis? Talvez sete ou
oito.
Para sempre.
Essas palavras, juntas, não lhe diziam nada, eram algo que ele simplesmente não conseguia
compreender.
De repente, Anthony não conseguiu respirar.
A coberta era como uma parede de tijolos sobre ele, e o ar ficou mais denso.
Ele tinha que sair dali. Tinha que ir embora. Tinha que...
Levantou-se da cama e então, tropeçando e sufocando, pegou as próprias roupas, jogadas
de qualquer maneira no chão, e começou a enfiar as pernas nos buracos apropriados.
– Anthony?
Ele deu um pulo. Kate se esforçava para se erguer na cama, bocejando. Mesmo na
escuridão, ele viu que os olhos dela revelavam sua confusão. E sua mágoa.
– Você está bem? – perguntou ela.
Ele fez um aceno rápido com a cabeça.
– Então por que está enfiando a perna na manga da camisa?
Anthony olhou para baixo e disse um palavrão que nunca imaginara pronunciar na frente
de uma mulher. Praguejou mais uma vez, então enrolou a irritante peça de linho, formando
uma bola enrugada, e jogou-a no chão, fazendo uma pausa de menos de um segundo antes
de começar a vestir a calça.
– Aonde você vai? – perguntou Kate, ansiosa.
– Tenho que sair – resmungou ele.
– Agora?
Ele não respondeu, porque não sabia o que dizer.
– Anthony?
Ela se levantou e esticou a mão para tocá-lo, mas, um instante antes de alcançar-lhe o rosto,
Anthony recuou, cambaleando para trás até se chocar contra uma das barras da cama de
dossel. Ele viu a mágoa no rosto dela, a dor causada pela rejeição, porém sabia que, se ela o
tocasse, ele estaria perdido.
– Mas que droga! – praguejou. – Onde estão minhas camisas?
– Em seu quarto de vestir – disse ela, nervosa. – Onde sempre ficaram.
Ele saiu para pegar outra camisa, incapaz de suportar o tom de voz dela. Não importava o
que ela dissesse, Anthony só ouvia sempre e para sempre.
E isso o estava matando.
Quando saiu do quarto de vestir, com o casaco e os sapatos nas partes apropriadas do
corpo, Kate andava sem parar pelo quarto, puxando a fita azul do penhoar com nervosismo.
– Tenho que sair – repetiu ele com a voz inexpressiva.
Ela não respondeu, e ele achava que era isso que queria, mas em vez de sair, ficou parado
ali, sem conseguir se mover, esperando que ela falasse alguma coisa.
– Quando você volta? – perguntou Kate, por fim.
– Amanhã.
– Isso é... bom.
Ele aquiesceu.
– Não posso ficar aqui – anunciou. – Tenho que sair.
Ela engoliu em seco.
– Sim – retrucou, e o som de sua voz era dolorosamente baixo –, você já disse isso.
E então, sem olhar para trás e sem ter ideia de onde iria, ele partiu.
Kate foi devagar até a cama e fitou-a. Por alguma razão, parecia errado deitar sozinha, se
cobrir e afofar as cobertas a seu redor. Achou que deveria chorar, mas não havia lágrimas em
seus olhos. Em seguida caminhou até a janela, abriu as cortinas e olhou lá para fora,
surpreendendo-se ao dizer uma oração em voz baixa, pedindo uma tempestade.
Anthony se fora, e, embora ela tivesse certeza de que seu corpo retornaria, não estava tão
confiante a respeito do espírito. Então compreendeu que precisava de algo – da tempestade –
para provar a si mesma que podia ser forte, que conseguiria se virar por si só.
Não queria ficar sozinha, mas talvez não tivesse escolha. Anthony parecia determinado a
manter distância. Ele tinha seus demônios, e ela temia que fosse preferir não encará-los em
sua presença.
Porém, se ela estava destinada a ficar sozinha, mesmo com um marido ao lado, então, por
Deus, enfrentaria isso e seria forte.
A fraqueza, pensou, ao apoiar a cabeça contra o vidro frio da janela, não levava a lugar
algum.
Anthony não tinha nenhuma lembrança do caminho cheio de tropeços que percorrera para
sair de casa, mas, de alguma maneira, ele se viu descendo a escada principal, cujos degraus
estavam escorregadios por causa do leve nevoeiro. Atravessou a rua sem ter ideia de para
onde ia, sabendo apenas que tinha que ficar longe. No entanto, quando chegou à calçada
oposta, algum demônio o obrigou a erguer os olhos na direção da janela do quarto.
Eu não devia tê-la visto foi o único pensamento que lhe ocorreu. Ela deveria estar deitada,
ou as cortinas deveriam estar fechadas, ou então ele deveria estar a caminho do clube
naquele momento.
Mas Anthony a viu e a dor atordoante em seu peito ficou cada vez mais forte. Era como se
seu coração estivesse sendo arrancado do peito – e ele teve a mais terrível sensação de que a
mão que segurava a faca era a sua.
Ele a observou por um minuto – ou, talvez, por uma hora. Não achou que ela o tivesse visto
– nada em sua postura indicava isso. Estava longe demais para que ele visse seu rosto, mas
imaginou que os olhos dela estavam fechados.
Provavelmente, está torcendo para que não haja uma tempestade, pensou ele, erguendo os
olhos para o céu nublado. Achava que as preces dela não seriam atendidas. A neblina já se
transformava em gotas de umidade em sua pele e parecia apenas uma breve transição para a
chuva forte.
Anthony sabia que devia ir embora, mas algo o impedia. Mesmo depois que Kate se afastou
da janela, ele permaneceu no mesmo lugar, olhando para a casa. A vontade de retornar era
quase impossível de negar. Queria correr de volta, cair de joelhos diante dela e implorar seu
perdão. Queria levá-la para a cama e fazer amor com ela até os primeiros raios da aurora
tocarem o céu. Mas tinha a consciência de que não podia fazer nada disso.
Ou, talvez, todas essas coisas fossem algo que ele não devia fazer. Não sabia mais.
Então, depois de ficar paralisado por quase uma hora, depois que a chuva começou a cair e
o vento, a soprar rajadas de ar frio, Anthony enfim partiu.
Foi embora sem se dar conta do frio ou da chuva, que desabava com força surpreendente.
Partiu sem sentir coisa alguma.
CAPÍTULO 21
Tem sido comentado que lorde e Lady Bridgerton foram obrigados a se casar, mas, mesmo
que isso seja verdade, esta autora se recusa a acreditar que sua união não foi por amor.
C
15
E
ra estranho, pensou Kate, enquanto fitava o café da manhã servido na mesinha lateral da
pequena sala de jantar, como podia estar, ao mesmo tempo, morrendo de fome e sem
apetite. Seu estômago exigia alimento e, ainda assim, tudo – dos ovos aos bolinhos, dos
pedaços de peixe defumado à carne de porco assada – adquirira uma aparência horrível.
Com um suspiro deprimido, pegou uma torrada e afundou na cadeira com uma xícara de
chá. Anthony não voltara para casa na noite anterior.
Ela deu uma pequena mordida na torrada e se forçou a engolir. Tinha esperanças de que
ele ao menos aparecesse para o café da manhã. Kate esperara o máximo que pudera – já
eram quase onze horas, e ela costumava comer às nove –, mas o marido não retornara.
– Lady Bridgerton?
Kate ergueu o olhar e piscou. Havia um criado de pé diante dela segurando um pequeno
envelope bege.
– Isto chegou para a senhora há alguns minutos – disse ele.
Kate murmurou um agradecimento e pegou o envelope, fechado com um pouco de cera
rosa-clara. Olhando mais de perto, ela distinguiu as iniciais EOB. Seria alguém da família de
Anthony? A letra E deveria ser de Eloise, claro, já que os primeiros nomes de todos os
Bridgertons correspondiam a uma letra diferente, em ordem alfabética.
Kate rompeu o selo com cuidado e puxou o conteúdo – uma única folha de papel dobrada
com cuidado pela metade.
Kate,
Anthony está aqui e a aparência dele é péssima. Sem dúvida, isso não é assunto meu, mas
achei que você gostaria de saber.
Eloise
Kate contemplou o bilhete por alguns segundos, então empurrou a cadeira para trás e se
levantou. Era hora de visitar a casa dos Bridgertons.
Para sua surpresa, quando ela bateu na porta da Casa Bridgerton, quem a abriu não foi o
mordomo, mas Eloise, que disse no mesmo instante:
– Você veio rápido!
Kate olhou ao redor do saguão, esperando que um ou dois dos irmãos de Anthony
pulassem sobre ela.
– Você estava me esperando?
Eloise assentiu.
– Você não precisa bater antes de entrar. A Casa Bridgerton pertence a Anthony, afinal. E
você é a mulher dele.
Kate deu um sorriso sem graça. Não se sentia uma esposa naquela manhã.
– Espero que você não me ache uma grande intrometida – continuou Eloise, dando o braço
a Kate e conduzindo-a para dentro –, mas Anthony está com uma aparência horrível e
imaginei que você não soubesse que ele estava aqui.
– Por que você pensou isso? – perguntou Kate, sem conseguir evitar.
– Bem – retrucou Eloise –, ele não contou que estava aqui nem para nós.
Kate fitou a cunhada com um olhar desconfiado.
– E isso significa...?
Eloise corou.
– Significa que... hã... que só sei que ele está aqui porque andei espionando. Acho que nem
minha mãe sabe que ele veio para cá.
Kate começou a piscar depressa.
– Você andou nos espionando?
– Não, claro que não. Mas, por acaso, eu estava acordada e ouvi alguém entrar, aí saí para
investigar e vi a luz acesa por baixo da porta do escritório de Anthony.
– Então, como sabe que ele está com uma aparência horrível?
Eloise deu de ombros.
– Imaginei que uma hora ele sairia para comer ou se aliviar, por isso fiquei esperando nos
degraus por mais de uma hora...
– Mais de uma hora? – repetiu Kate.
– Três horas, na verdade – admitiu Eloise. – Não parece muito tempo quando se está
interessada na questão. Além disso, eu tinha um livro para me ajudar a passar o tempo.
Kate balançou a cabeça com admiração relutante.
– A que horas ele chegou?
– Por volta de quatro da manhã.
– E o que você fazia acordada tão tarde?
Eloise deu de ombros mais uma vez.
– Não consegui dormir. Muitas vezes, não consigo. Eu tinha descido para pegar um livro na
biblioteca quando ele chegou. Então, finalmente, por volta das sete horas... na verdade, acho
que foi um pouco antes das sete, logo eu não esperei por três horas...
Kate começou a ficar tonta.
–... ele saiu. Não foi na direção do salão de café da manhã, portanto imagino que tenha
saído por outras razões. Depois de um minuto ou dois, apareceu de novo e voltou ao
escritório. Onde – Eloise terminou com um floreio – está desde então.
Kate olhou para ela por uns dez segundos.
– Você já pensou em oferecer seus serviços ao Departamento de Guerra?
A jovem deu um sorriso tão parecido com o de Anthony que Kate quase chorou.
– Como espiã? – indagou.
Kate confirmou.
– Eu seria ótima, você não acha?
– Sensacional.
Eloise deu um abraço repentino em Kate.
– Estou tão feliz por você ter se casado com meu irmão... Agora vá ver o que está errado.
Kate assentiu, empertigando os ombros, e deu um passo na direção do escritório. Então se
virou, apontou um dedo para Eloise e disse:
– Não vá ficar ouvindo atrás da porta.
– Eu nem sonharia em fazer isso – retrucou ela.
– Estou falando sério!
Eloise suspirou.
– É melhor eu ir para a cama, de qualquer forma. Um cochilo vai cair bem, depois de ter
Compartilhe com seus amigos: |