seu nome. Você será uma mulher casada. Uma viscondessa. Depois de amanhã, não será a
mesma mulher, Kate, e depois de amanhã à noite...
– Chega, Edwina.
– Mas...
– Você não está fazendo nada para me tranquilizar.
– Ah. – Edwina deu um sorriso sem graça. – Desculpe.
– Tudo bem – garantiu Kate.
Edwina conseguiu manter a boca fechada por alguns segundos antes de perguntar:
– Mamãe já esteve aqui para conversar com você?
– Ainda não.
– Ela deve vir, não acha? Amanhã você vai se casar, e tenho certeza de que há uma
infinidade de coisas que precisa saber. – Edwina tomou um grande gole de leite, ficando com
um inadequado bigode branco, em seguida empoleirou-se na beira da cama, virada para
Kate. – Sei que há uma infinidade de coisas que eu não sei. E, a menos que você tenha
aprontado alguma coisa e não tenha me contado, não vejo como você poderia saber.
Kate refletiu se seria falta de educação calar a boca da irmã com uma das peças de lingerie
que Lady Bridgerton escolhera. Parecia haver uma bela justiça poética em tal manobra.
– Kate? – chamou Edwina, piscando com curiosidade. – Kate? Por que você está olhando
para mim de modo tão estranho?
Kate se lembrou da lingerie com ar sonhador.
– Você não vai querer saber.
– Humpf. Bem, eu...
Os resmungos de Edwina foram interrompidos por uma batida de leve na porta.
– Deve ser a mamãe – disse a caçula com um sorriso malicioso. – Mal posso esperar.
Kate revirou os olhos para Edwina quando se levantou para abrir a porta. De fato, Mary
estava parada no corredor, com duas canecas fumegantes na mão.
– Achei que você pudesse querer um pouco de leite quente – disse ela com um leve sorriso.
Kate ergueu a caneca em resposta.
– Edwina teve a mesma ideia.
– O que ela está fazendo aqui? – perguntou Mary, entrando no quarto.
– Desde quando preciso de uma razão para vir conversar com minha irmã? – retrucou
Edwina.
Mary lançou-lhe um olhar irritado antes de voltar a atenção para Kate.
– Hum – murmurou. – Parece que temos um excesso de leite quente.
– Este aqui já está morno – comentou Kate, apoiando a caneca em um dos baús já fechados
e substituindo-a depois pela que estava na mão de Mary. – Edwina pode levar a outra para a
cozinha quando sair.
– Como? – perguntou Edwina, um pouco distraída. – Ah, claro, fico feliz em ajudar.
Mas não fez menção de se levantar. Na verdade, seu único movimento foi olhar de Mary
para Kate e de volta para Mary.
– Preciso falar com Kate – disse Mary.
Edwina concordou, entusiasmada.
– Sozinha – completou Mary.
Edwina piscou.
– Tenho que sair?
Mary aquiesceu e estendeu-lhe a caneca morna.
– Agora?
A jovem parecia abatida, então sua expressão se desanuviou em um sorriso cauteloso.
– Vocês estão brincando, não é? Posso ficar, certo?
– Errado – retrucou Mary.
Edwina virou os olhos suplicantes para Kate.
– Não tenho nada a ver com isso – disse Kate, mal conseguindo disfarçar o sorriso. – Ela é
quem decide, afinal é ela quem vai falar. Eu só vou ficar ouvindo.
– E fazendo perguntas – observou Edwina. – E eu também tenho dúvidas. – Virou-se para
a mãe. – Um monte delas.
– Tenho certeza disso – retrucou Mary –, e ficarei feliz em respondê-las na véspera do seu
casamento.
Edwina se levantou de má vontade.
– Não é justo – resmungou, pegando a caneca da mão de Mary.
– A vida não é justa – comentou Mary com um sorriso.
– Eu que o diga – reclamou Edwina, arrastando os pés ao cruzar o quarto.
– E não fique ouvindo atrás da porta! – gritou Mary.
– Eu nem sonharia em fazer isso – disse Edwina. – Não que vocês fossem falar alto o
suficiente para que eu ouvisse alguma coisa, de qualquer forma.
Mary suspirou quando a filha saiu para o corredor e fechou a porta, proferindo uma
torrente constante de resmungos ininteligíveis.
– Vamos ter que sussurrar – falou para Kate.
Ela assentiu, mas era leal o suficiente à irmã para dizer:
– Talvez ela não tente ouvir.
Mary lhe lançou um olhar bastante duvidoso.
– Você quer abrir a porta para descobrir?
Kate deu um sorriso involuntário.
– Tudo bem, a senhora ganhou.
Mary sentou-se na cama e encarou Kate.
– Com certeza, você sabe por que estou aqui.
Kate admitiu que sim.
Mary tomou um grande gole de leite e ficou em silêncio por um longo instante antes de
dizer:
– Quando eu me casei pela primeira vez, não tinha ideia do que esperar no leito nupcial.
Não era... – Ela fechou os olhos por um momento e fez uma careta de sofrimento. – Minha
falta de conhecimento tornou tudo mais difícil – concluiu, e a vagarosidade com que disse
essas palavras cuidadosamente escolhidas deixou claro a Kate que “difícil” devia ser um
eufemismo.
– Entendo – murmurou Kate.
Mary olhou fixamente para ela.
– Não, não entende. E espero que nunca entenda. Mas não é essa a questão. Sempre jurei
que nenhuma filha minha se casaria sem saber o que ocorre entre o marido e a mulher.
– Já tenho uma ideia básica – admitiu Kate.
Claramente surpresa, Mary perguntou:
– Tem?
Kate concordou.
– Não deve ser muito diferente dos animais.
Mary balançou a cabeça e contraiu os lábios em um sorriso um pouco divertido.
– Sim, não é.
Kate imaginou qual seria a melhor maneira de fazer a próxima pergunta. Pelo que vira na
fazenda de um vizinho em Somerset, o ato de procriação não parecia, de modo algum,
agradável. Porém, quando Anthony a beijara, teve a sensação de que estava perdendo o
juízo. E quando ele a beijou mais uma vez, ela nem mesmo tinha certeza se queria o juízo de
volta! Todo o seu corpo estremeceu, e ela suspeitava que, se os últimos encontros tivessem
acontecido em locais mais apropriados, ela teria deixado que ele prosseguisse sem nem um
protesto sequer.
Mas então ela se lembrou da pobre égua gritando na fazenda... Sinceramente, as peças do
quebra-cabeça não se encaixavam.
Enfim, depois de pigarrear várias vezes, ela comentou:
– Não parece muito prazeroso.
Mary fechou os olhos de novo e seu rosto assumiu a mesma expressão de antes. Era como
se ela estivesse se lembrando de algo muito bem-guardado nos recantos obscuros da própria
mente. Quando os abriu, afirmou:
– O prazer de uma mulher só depende do marido.
– E o de um homem?
– O ato de amor – prosseguiu Mary, corando – pode e deve ser uma experiência prazerosa
para ambos. No entanto... – disse ela, depois tossiu e tomou um gole do leite – eu não me
perdoaria se não lhe contasse que uma mulher nem sempre tem prazer.
– Mas um homem tem?
Mary fez que sim com a cabeça.
– Não parece justo – comentou Kate.
Mary deu um sorriso amargo.
– Você lembra que acabei de dizer a Edwina que a vida nem sempre é justa?
Kate franziu a testa, fitando o leite.
– Bem, isso realmente não parece justo.
– Mas não significa – acrescentou Mary bem rápido – que a experiência precise ser
desagradável para a mulher. E tenho certeza de que não será desagradável para você.
Imagino que o visconde já a tenha beijado.
Kate assentiu, sem erguer os olhos.
Quando Mary falou, ela sentiu que a madrasta sorria.
– Pelo seu rubor – disse Mary –, acho que você gostou.
Kate voltou a anuir, e agora suas bochechas ardiam.
– Se você gostou do beijo – prosseguiu a mais velha –, então tenho certeza de que outros
carinhos não a incomodarão. Decerto ele será gentil e atencioso com você.
“Gentil” não capturava a essência dos beijos de Anthony, mas Kate não acreditava que esse
fosse o tipo de coisa que deveria compartilhar com Mary. Na verdade, a conversa já estava
constrangedora o suficiente sem isso.
– Homens e mulheres são muito diferentes – continuou Mary, como se isso não fosse óbvio
–, e os homens, mesmo aqueles fiéis à esposa, o que sem dúvida o visconde será, podem ter
prazer com praticamente qualquer mulher.
Isso era perturbador, e não era o que Kate queria ouvir.
– E uma mulher? – perguntou de forma abrupta.
– Com a mulher é diferente. Já ouvi falar que algumas mulheres maliciosas têm prazer
como se fossem homens, nos braços de qualquer um, mas não acredito nisso. Creio que uma
mulher precise gostar do marido para desfrutar do leito nupcial.
Kate ficou em silêncio por um instante.
– Você não amava seu primeiro marido, não é?
Mary balançou a cabeça.
– Isso faz toda a diferença, querida. Isso e o cuidado de um marido com a esposa. Mas já vi
o visconde com você. Entendo que seu casamento foi súbito e inesperado, mas ele a trata
com carinho e respeito. Você não terá nada a temer. Ele vai tratá-la bem.
Depois de dizer isso, Mary beijou Kate na testa e deu-lhe boa-noite. Em seguida, recolheu
as canecas de leite vazias e saiu do quarto. Kate continuou sentada na cama, fitando a parede
por alguns minutos com o olhar vazio.
Mary estava errada, ela não tinha dúvida. Tinha muito a temer, sim.
Odiava não ser a primeira opção de Anthony, mas era prática, pragmática, e sabia que
certas coisas na vida simplesmente deveriam ser encaradas como um fato. Consolava-a com a
lembrança do desejo que sentira – e que achara que Anthony também experimentara –
quando estava nos braços dele.
Agora parecia que o desejo dele não estava necessariamente ligado a ela, sendo, em vez
disso, algum tipo de necessidade primitiva que todo homem sente por qualquer mulher.
E Kate nunca saberia se, quando Anthony soprasse as velas e a levasse para a cama, fecharia
os olhos...
E imaginaria o rosto de outra mulher.
O casamento, realizado na Casa Bridgerton, foi uma cerimônia simples, para poucos
convidados. Bem, tão poucos quanto possível, com toda a família Bridgerton presente, desde
Anthony até a pequena Hyacinth, de 11 anos, que assumiu o papel de dama de honra com
muita seriedade. Quando seu irmão Gregory, de 13 anos, tentou virar sua cesta de pétalas de
rosas, ela o acertou direto no queixo, atrasando a cerimônia em cerca de dez minutos mas
acrescentando um ar muito bem-vindo de leveza e graça.
Bem, pelo menos essa foi a opinião de todos, exceto Gregory, que ficou ofendido com o
episódio e decerto não estava rindo, muito embora tivesse sido ele quem começara, como
Hyacinth logo deixara claro a quem estivesse ouvindo – e sua voz era alta o suficiente para
que não houvesse de fato a opção de não ouvir.
Kate viu tudo de sua posição privilegiada no saguão, onde espiava através de uma
rachadura na porta. Isso a fez rir, o que foi ótimo, considerando que seus joelhos estavam
tremendo havia mais de uma hora. Ela agradecia à própria sorte pelo fato de Lady
Bridgerton não ter insistido numa cerimônia grandiosa, para muitas pessoas. Kate, que
nunca tinha se considerado uma pessoa ansiosa, provavelmente teria morrido de nervosismo.
Violet mencionara a possibilidade de um grande evento como meio de combater os
rumores que circulavam a respeito de Kate, Anthony e o casamento inesperado. A Sra.
Featherington mantivera a promessa e não revelara os detalhes do assunto, mas fizera
insinuações suficientes para que todos soubessem que o noivado não ocorrera do modo
tradicional.
Por isso, todos estavam comentando, e Kate sabia que era apenas uma questão de tempo até
que a Sra. Featherington não conseguisse mais se controlar. Quando isso acontecesse, a
verdadeira história de sua ruína nas mãos – ou melhor, no ferrão – de uma abelha seria de
conhecimento público.
Entretanto, no fim, Violet decidira que um casamento rápido seria a melhor opção, e, como
seria impossível preparar uma grande festa em uma semana, a lista de convidados ficara
restrita à família. Kate fora acompanhada por Edwina, Anthony contara com o irmão
Benedict e eles foram declarados marido e mulher.
Era estranho, Kate pensou no fim da tarde, ao fitar a aliança que se juntara ao anel de
diamante na mão esquerda, como tudo podia mudar tão depressa. A cerimônia fora breve,
passando por sua mente feito um borrão confuso, e ainda assim sua vida se modificara para
sempre. Edwina estava certa. Tudo era diferente. Agora ela era uma mulher casada, uma
viscondessa.
Lady Bridgerton.
Mordeu o lábio inferior. Aquele nome parecia ser de outra pessoa. Quanto tempo levaria
para que alguém dissesse “Lady Bridgerton” e ela entendesse que falavam com ela, não com
a mãe de Anthony?
Tinha se tornado esposa dele, com responsabilidades de esposa.
Isso a apavorou.
Depois que a cerimônia terminou, Kate pensou nas palavras de Mary na noite anterior e
percebeu que ela tinha razão. Em muitos aspectos, ela era a mulher mais sortuda do mundo.
Anthony a trataria bem. Trataria qualquer mulher bem. Esse era o problema.
Agora ela estava numa carruagem, percorrendo a curta distância entre a mansão dos
Bridgertons, onde a recepção ocorrera, e a casa de Anthony, que não poderia mais ser
chamada de “residência de solteiro”.
Ela lançou um olhar ao novo marido. Ele olhava fixamente para a frente, com o rosto sério
de uma forma curiosa.
– Você planeja a mudança para a Casa Bridgerton agora que nos casamos? – perguntou ela
em voz baixa.
Anthony assustou-se, quase como se tivesse se esquecido de que ela estava ali.
– Sim – retrucou, virando-se para encará-la –, embora prefira esperar alguns meses. Achei
que poderíamos ter um pouco de privacidade no início do casamento, não concorda?
– Claro – murmurou Kate.
Ela baixou os olhos para as mãos, que estavam agitadas em seu colo. Tentou deixá-las
paradas, mas era impossível. Era de admirar que ainda não tivesse tirado as luvas.
Anthony acompanhou o olhar dela e colocou a mão sobre as suas. Ela ficou imóvel no
mesmo instante.
– Está nervosa? – indagou.
– Você pensou que eu não estaria? – retrucou ela, tentando manter a voz áspera e irônica.
Ele sorriu em resposta.
– Não há o que temer.
Kate quase irrompeu numa risada nervosa. Pelo jeito, estava destinada a ouvir aquela
bobagem muitas vezes.
– Talvez – disse –, mas ainda há muito para me deixar nervosa.
O sorriso dele se alargou.
– Touché, minha querida esposa.
Kate engoliu em seco de forma convulsiva. Era estranho ser a esposa de alguém, sobretudo
daquele homem.
– E você está nervoso? – perguntou.
Ele se inclinou para ela, com os olhos escuros ardentes pela promessa do que viria.
– Ah, desesperadamente – murmurou. Então diminuiu o espaço entre eles, com os lábios
encontrando a cavidade sensível da orelha dela. – Meu coração está esmurrando o peito.
O corpo de Kate pareceu tensionar-se e derreter-se ao mesmo tempo. E então ela arriscou:
– Acho que deveríamos esperar.
Ele mordiscou sua orelha.
– Esperar o quê?
Kate tentou afastar-se. Ele não compreendeu. Se tivesse entendido, teria ficado furioso, e
não parecia furioso.
Ainda.
– P-pelo casamento – gaguejou.
Isso pareceu diverti-lo e ele brincou com os anéis dela, que agora repousavam por cima da
luva.
– É um pouco tarde para isso, não acha?
– Pela noite de núpcias – explicou ela.
Ele recuou, com uma expressão talvez um pouco irritada.
– Não – respondeu apenas.
Mas não fez nenhum gesto para se aproximar dela de novo.
Kate tentou pensar em como o faria entender, mas não era fácil – não tinha certeza de que
ela mesma entendia. E estava quase certa de que Anthony não acreditaria se ela lhe dissesse
que não tinha pretendido pedir isso – a pergunta simplesmente escapara, movida por um
pânico que ela nem soubera que existia até aquele momento.
– Não peço que seja para sempre – falou, detestando o fato de estar quase gaguejando. –
Apenas por uma semana.
Isso chamou a atenção de Anthony e ele ergueu uma das sobrancelhas em um ar irônico de
dúvida.
– E o que, pelo amor de Deus, você espera ganhando uma semana?
– Não sei – respondeu ela, com sinceridade.
Ele a encarou com olhos severos, ardentes e sarcásticos.
– Você vai ter que se explicar melhor que isso – disse.
Kate não queria fitá-lo. Não queria a intimidade com que ele a oprimia quando fixava os
olhos escuros nela. Era fácil disfarçar os sentimentos quando podia olhar para seu queixo ou
seus ombros, mas quando precisava fitá-lo direto nos olhos...
Ela temia que ele pudesse enxergar sua alma.
– Foi uma semana de grandes mudanças na minha vida – começou ela, torcendo para saber
onde queria chegar com essa frase.
– Na minha também – interrompeu ele em voz baixa.
– Nem tanto – retrucou Kate. – As intimidades do casamento não são novidade para você.
Ele deu um sorriso enviesado e ligeiramente arrogante.
– Pois saiba, minha senhora, que nunca fui casado.
– Não foi isso que eu quis dizer, e você sabe disso.
Ele não a contradisse.
– Eu só gostaria de um tempo para me preparar – prosseguiu ela, cruzando as mãos no colo
de forma rígida, porém sem conseguir parar de mexer os polegares, que demonstravam seu
estado de nervos.
Anthony a observou por um longo momento, em seguida reclinou-se e apoiou o tornozelo
esquerdo de forma despreocupada no joelho direito.
– Está bem – falou.
– Mesmo?
Ela retesou-se, surpresa. Não esperava que Anthony fosse concordar com tanta facilidade.
– Desde que... – continuou ele.
Ela afundou no banco. Deveria ter imaginado que haveria uma condição.
–... que você me explique uma coisa.
Ela engoliu em seco.
– E o que seria, milorde?
Ele se inclinou para a frente e a fitou com olhos muito diabólicos.
– Como exatamente você planeja se preparar?
Kate olhou pela janela, então praguejou baixinho ao perceber que eles nem sequer haviam
chegado à rua de Anthony. Não havia meio de evitar sua pergunta: ela ainda estaria presa na
carruagem por, pelo menos, mais cinco minutos.
– B-b-b-b-bem – gaguejou –, não entendi o que você quer dizer.
Ele deu uma risada.
– Tenho certeza de que não.
Kate olhou para ele com uma careta. Nada era pior que servir de piada para outra pessoa,
sobretudo sendo uma noiva no dia do próprio casamento.
– Agora você está se divertindo à minha custa – acusou ela.
– Não – disse ele de forma maliciosa. – Eu gostaria de me divertir com você. Existe uma
grande diferença.
– Gostaria que não falasse assim – resmungou ela. – Você sabe que eu não entendo.
Os olhos dele se concentraram nos lábios dela enquanto a língua umedecia os próprios
lábios.
– Você saberia – murmurou – se apenas cedesse ao inevitável e esquecesse seu pedido
ridículo.
– Não gosto de ser tratada com condescendência – disse Kate, com firmeza.
Os olhos dele brilharam.
– E eu não gosto que me neguem meus direitos – replicou, com a voz fria.
Seu rosto era uma representação de poder aristocrático.
– Não estou lhe negando nada – insistiu ela.
– Ah, é mesmo?
A pergunta era desprovida de humor.
– Só estou pedindo um adiamento. Um adiamento breve, temporário, breve... – Ela repetiu
a palavra, caso o cérebro dele estivesse entorpecido demais pelo orgulho masculino para
compreendê-la da primeira vez. – Decerto você não me negaria um pedido tão simples.
– Não acho que seja eu quem está negando algo por aqui – retrucou ele com a voz
entrecortada.
Droga, ele tinha razão, e Kate não soube o que mais poderia dizer. Estava consciente de
que não tinha o direito de pedir aquilo – ele poderia jogá-la sobre o ombro, arrastá-la para a
cama e trancá-la no quarto durante uma semana, se assim desejasse.
Ela agira feito uma tola, presa à própria insegurança – sentimento que nem sabia ter até
conhecer Anthony.
Durante toda a vida, ela fora aquela a receber o segundo olhar, a segunda saudação, o
segundo beijo na mão. Como irmã mais velha, deveria ser cumprimentada antes da irmã
mais nova, mas a beleza de Edwina era tão impressionante, e o azul puro e perfeito de seus
olhos tão surpreendente, que as pessoas simplesmente se esqueciam de todo o restante em
sua presença.
Quando qualquer pessoa era apresentada a Kate, costumava murmurar um “Muito prazer”
sem graça enquanto os olhos se fixavam no rosto radiante da irmã.
Kate nunca ligara muito para isso. Se Edwina tivesse sido mimada ou fosse geniosa, poderia
ter sido difícil, e também, para falar a verdade, a maioria dos homens que ela conhecera era
superficial e ridícula, então ela não se importava muito que eles só se dignassem a olhar para
ela depois de conhecer a mais nova.
Até agora.
Ela queria que os olhos de Anthony se iluminassem quando ela entrasse no aposento.
Queria que ele procurasse seu rosto na multidão. Não precisava que ele a amasse – ou, pelo
menos, era o que dizia a si mesma –, mas queria desesperadamente ser a primeira em seus
afetos, a primeira em seus desejos.
Tinha a desagradável e terrível sensação de que tudo isso significava que ela estava se
apaixonando.
Apaixonar-se pelo marido – quem pensaria que isso poderia ser um desastre?
– Vejo que você ficou sem argumento – comentou Anthony em voz baixa.
A carruagem parou, felizmente liberando-a da necessidade de resposta. Contudo, quando
um lacaio de libré se adiantou para abrir a porta, Anthony voltou a fechá-la com força, sem
desviar os olhos do rosto dela.
– Como, milady? – insistiu ele, repetindo a pergunta.
– Como o quê? – retrucou ela.
Já tinha se esquecido do que ele indagara.
– Como – repetiu ele com a voz áspera mas, ao mesmo tempo, muito ardente – você
planeja preparar-se para a noite de núpcias?
– Eu... Eu não pensei nisso – admitiu Kate.
– Achei que não.
Ele soltou a maçaneta da porta e ela se abriu, revelando os rostos de dois lacaios que
claramente faziam um grande esforço para não demonstrar curiosidade. Kate permaneceu
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