ou duas coisas sobre as mulheres com o passar do tempo.
– É mesmo? – indagou Kate, fascinada.
Ele assentiu e curvou-se, como se prestes a compartilhar um importante segredo de Estado.
– Elas se tornam muito mais fáceis de manipular quando deixamos que acreditem que são
mais espertas e intuitivas que nós. E – acrescentou, lançando um olhar arrogante à esposa –
nossas vidas são muito mais tranquilas quando fingimos saber apenas metade do que elas
fazem.
Colin aproximou-se, balançando um taco em um arco baixo.
– Eles estão brigando? – indagou a Kate.
– Conversando – corrigiu Daphne.
– Deus me livre de tais conversas – resmungou Colin. – Vamos escolher as cores.
Kate acompanhou-o de volta ao conjunto do jogo, tamborilando na coxa.
– Que horas são? – perguntou.
Colin pegou o relógio de bolso.
– Passa um pouco das três e meia. Por quê?
– Só achei que Edwina e o visconde já deveriam estar aqui a esta hora. Só isso – disse ela,
tentando não parecer muito preocupada.
Colin deu de ombros.
– Deveriam. – Então, esquecendo-se totalmente da aflição de Kate, apontou para o
conjunto do jogo e falou: – Tome. A senhorita é nossa convidada, por isso será a primeira a
escolher. Que cor deseja?
Sem pensar duas vezes, Kate esticou a mão e pegou um taco. Apenas quando ele já estava
em sua mão, ela percebeu que era preto.
– O taco da morte – comentou Colin em tom de aprovação. – Eu sabia que ela daria uma
excelente jogadora.
– Deixe o cor-de-rosa para Anthony – orientou Daphne, pegando o verde.
O duque retirou o taco laranja do conjunto, virou-se para Kate e disse:
– A senhorita é testemunha de que eu não tive nada a ver com o taco cor-de-rosa de
Anthony, não é?
Kate deu um sorriso astucioso.
– Eu percebi que o senhor não escolheu o cor-de-rosa.
– Claro que não – retrucou ele, com um sorriso ainda mais astucioso que o dela. – Minha
esposa já o escolheu para ele, e eu não poderia contrariá-la, não é?
– Para mim, o amarelo – interrompeu Colin – e, para a Srta. Edwina, o azul, não acha?
– Ah, sem dúvida – respondeu Kate. – Edwina adora azul.
Os quatro olharam para os dois tacos que restavam: cor-de-rosa e roxo.
– Ele não vai gostar de nenhum dos dois – comentou Daphne.
Colin assentiu.
– Mas vai gostar ainda menos do cor-de-rosa.
Então, pegou o taco roxo e foi jogá-lo dentro do galpão. Depois, fez o mesmo com a bola
que combinava com ele.
– E, por falar nisso – comentou o duque –, onde está Anthony?
– Essa é uma ótima pergunta – murmurou Kate, tamborilando na coxa.
– Suponho que a senhorita queira saber as horas – disse Colin dissimuladamente.
Kate enrubesceu. Ela já lhe pedira que checasse o relógio de bolso duas vezes.
– Não precisa, obrigada – retrucou, por falta de uma resposta mais espirituosa.
– Muito bem. É só que aprendi que assim que a senhorita começa a mexer a mão dessa
maneira...
Kate interrompeu o movimento.
– ... é porque está prestes a me perguntar que horas são.
– O senhor aprendeu um bocado sobre mim na última meia hora – falou Kate de modo
áspero.
Ele sorriu.
– Sou um homem observador.
– Decerto que sim – murmurou ela.
– Mas, se a senhorita quiser saber, faltam quinze minutos para as quatro.
– Eles estão bastante atrasados – observou Kate.
Colin inclinou-se para a frente e cochichou:
– Duvido que meu irmão esteja violentando sua irmã.
– Sr. B-B-Bridgerton! – gaguejou Kate.
– Sobre o que vocês estão conversando? – indagou Daphne.
Colin sorriu.
– A Srta. Sheffield teme que Anthony esteja desrespeitando a outra Srta. Sheffield.
– Colin! – exclamou Daphne. – Isso não é nem um pouco engraçado.
– E, com certeza, não é verdade – protestou Kate.
Bem, não era verdade até certo ponto. Ela não achava que o visconde estivesse
desrespeitando Edwina, mas era bem provável que se esforçasse ao máximo para deixá-la
encantada. E isso já era perigoso por si só.
Kate balançou o taco, sentindo o peso, e tentou imaginar como poderia baixá-lo sobre a
cabeça de lorde Bridgerton e fazer com que parecesse um acidente.
O taco da morte, de fato.
Anthony deu uma olhada no relógio sobre a prateleira no escritório. Quase três e meia. Eles
iam se atrasar.
Sorriu. Ora, bem, nada podia ser feito quanto a isso.
Em geral, ele prezava pela pontualidade, mas quando o atraso levava à tortura de Kate
Sheffield, não se importava em chegar mais tarde.
E Kate sem dúvida se contorcia em agonia naquele momento, horrorizada com a ideia da
preciosa irmã em suas garras malignas.
Anthony baixou os olhos para as garras malignas – isto é, para as mãos, recordou-se; para as
mãos – e sorriu mais uma vez. Havia muito tempo não se divertia tanto, e tudo o que estava
fazendo era perambular pelo escritório, imaginando Kate trincando os dentes e soltando fogo
pelas ventas.
Era uma imagem muito divertida.
Não que isso fosse culpa dele, claro. Teria saído pontualmente se não tivesse que esperar
por Edwina. Ela enviara um recado pela criada dizendo que iria encontrar-se com ele em dez
minutos, e isso ocorrera vinte minutos antes. Não podia fazer nada se ela estava atrasada.
Anthony teve uma visão súbita do restante de sua vida: esperando por Edwina. Será que ela
era do tipo que se atrasava sempre? Isso poderia tornar-se irritante depois de algum tempo.
Como em resposta a seus pensamentos, ele ouviu uma sucessão de passos no corredor e,
quando ergueu os olhos, viu as formas encantadoras da jovem emolduradas pelo vão da
porta.
Pensou, com objetividade, que ela era perfeita, absolutamente adorável. As feições não
tinham qualquer defeito, a postura era a mais graciosa e os olhos tinham um tom de azul tão
radiante, tão vívido, que era impossível não se surpreender com os matizes sempre que ela
piscava.
Anthony esperou que algum tipo de reação se desencadeasse dentro dele. Sem dúvida,
nenhum homem poderia ser imune à beleza dela.
Nada. Nem mesmo a mais leve vontade de beijá-la. Parecia quase um crime contra a
natureza.
Mas talvez isso fosse bom. Afinal, não queria uma esposa por quem se apaixonasse. Desejo
podia ser ótimo, mas também era perigoso. Desejo certamente tinha uma chance maior de
acabar em amor.
– Lamento muito pelo atraso, milorde – falou Edwina de forma encantadora.
– Não foi nenhum transtorno – respondeu ele, sentindo-se animado por sua mais recente
conclusão. Edwina ainda serviria muito bem. Não precisaria procurar outra noiva. – Mas
agora devemos nos apressar. Os outros já devem ter montado o percurso.
Pegou o braço dela e saíram da casa. Anthony fez uma observação sobre o tempo. Ela
também. Então ele comentou sobre o tempo do dia anterior. Ela concordou com alguma
coisa que ele dissera (um minuto depois, ele já nem se lembrava do quê).
Depois de esgotar todos os assuntos possíveis relacionados ao clima, ficaram em silêncio e,
por fim, após três longos minutos em que nenhum dos dois tinha nada a dizer, Edwina
arriscou:
– O que o senhor estudou na faculdade?
Anthony lançou-lhe um olhar curioso. Nenhuma jovem lhe fizera aquela pergunta antes.
– Ora, o de sempre – retrucou.
– Mas o que é “o de sempre”? – insistiu ela, parecendo inusitadamente impaciente.
– Sobretudo história. Um pouco de literatura.
– Ah. – Ela refletiu por um momento. – Eu adoro ler.
– É mesmo? – Ele a fitou com interesse renovado. Não a teria considerado uma intelectual.
– O que gosta de ler?
Ela pareceu mais relaxada ao responder:
– Quando estou com a imaginação solta, romances. E, quando estou com vontade de
aperfeiçoar o espírito, filosofia.
– Filosofia, hein? – repetiu Anthony. – Nunca tive paciência para essas coisas.
Edwina soltou uma de suas risadas melodiosas.
– Kate pensa como o senhor. Está sempre me dizendo que sabe muito bem como viver a
vida e que não precisa de um defunto lhe dando instruções.
Anthony se lembrou das tentativas de ler Aristóteles, Bentham e Descartes na
universidade. Então recordou as tentativas de evitar a leitura de Aristóteles, Bentham e
Descartes na universidade.
– Creio – murmurou ele – que preciso concordar com sua irmã.
Edwina sorriu.
– O senhor concordando com Kate? Eu deveria registrar este momento num caderno. Sem
dúvida, é algo inédito.
Ele lançou-lhe um olhar avaliador.
– A senhorita é muito mais impertinente do que demonstra, não é?
– Não tanto quanto Kate.
– Isso nunca esteve em questão.
Ele ouviu Edwina dar uma risadinha e, quando voltou a olhar para ela, a jovem parecia
fazer um esforço imenso para ficar séria. Dobraram a última esquina até o campo e, quando
a clareira irregular se ergueu diante dos dois, viram o restante do grupo os esperando,
balançando preguiçosamente os tacos para a frente e para trás.
– Ora, com mil demônios! – praguejou Anthony, esquecendo-se por completo de que
estava na companhia da mulher com quem planejava se casar. – Ela pegou o taco da morte.
CAPÍTULO 10
Festas em casas de campo são eventos perigosos. Os casados com frequência acabam
desfrutando da companhia de outra pessoa que não o próprio cônjuge e solteiros muitas
vezes voltam à cidade tendo noivado às pressas.
De fato, os noivados mais surpreendentes são anunciados por causa desses feitiços da vida
rural.
C
2
–
V
ocês decerto gastaram todo o tempo que podiam para chegar até aqui – observou
Colin assim que Anthony e Edwina alcançaram o grupo. – Peguem os tacos, estamos prontos
para começar. Edwina, você fica com o azul – falou, entregando-lhe um taco. – Anthony,
você fica com o cor-de-rosa.
– Eu fico com o cor-de-rosa enquanto ela – retrucou, apontando para Kate – fica com o
taco da morte?
– Dei a ela o direito de escolher primeiro – explicou Colin. – Afinal, é nossa convidada.
– Anthony costuma ficar com o preto – atalhou Daphne. – Na verdade, foi ele que batizou
o taco.
– O senhor não deveria ficar com o cor-de-rosa – disse Edwina a Anthony. – Não lhe cai
bem, de modo algum. Pegue – continuou, estendendo-lhe o próprio taco. – Por que não
trocamos?
– Não sejam ridículos! – exclamou Colin. – Nós decidimos que a senhorita deveria ficar
com o azul porque combina com seus olhos.
Kate pensou ter ouvido Anthony resmungar.
– Eu fico com o cor-de-rosa – anunciou Anthony, tirando o taco ofensivo de modo bastante
enérgico das mãos de Colin –, e ainda assim vou ganhar. Vamos começar, está bem?
Assim que as apresentações necessárias foram feitas entre o duque, a duquesa e Edwina,
todos largaram as bolas de madeira próximo ao ponto inicial e se prepararam para jogar.
– Vamos iniciar do mais novo para o mais velho? – sugeriu Colin, com uma mesura galante
na direção de Edwina.
Ela balançou a cabeça.
– Eu preferiria ser a última, pois assim teria a chance de observar a estratégia de jogadores
mais experientes.
– Uma jovem sábia – elogiou Colin. – Então faremos do mais velho para o mais novo.
Anthony, creio que você seja o mais velho entre nós.
– Desculpe, querido irmão, mas Hastings ganha de mim por alguns meses.
– Por que eu tenho a sensação de estar me intrometendo numa briga de família? –
sussurrou Edwina no ouvido da irmã.
– Creio que os Bridgertons levam esse jogo muito a sério – murmurou Kate em resposta.
Os três Bridgertons assumiram feições muito agressivas e todos pareciam bastante decididos
a ganhar.
– Não, não, não! – ralhou Colin, balançando um dedo para elas. – Não é permitido
conspirar.
– Nem saberíamos por onde começar a conspirar – retrucou Kate –, já que ninguém
pareceu achar adequado nos explicar as regras do jogo.
– Basta nos seguir – falou Daphne bruscamente. – Vocês vão entender quando começar.
– Acho que o objetivo é afundar a bola dos adversários no lago – sussurrou Kate para
Edwina.
– É mesmo?
– Não. Mas acho que é isso que os Bridgertons fazem.
– Vocês ainda estão cochichando! – gritou Colin sem nem mesmo lançar um olhar para
elas. Então, berrou na direção do duque: – Hastings, acerte a maldita bola! Não temos o dia
inteiro!
– Colin – atalhou Daphne –, não comece a xingar. Há damas presentes.
– Você não conta.
– Além de mim, há outras duas damas presentes – insistiu ela.
Colin piscou, então se virou para as irmãs Sheffields.
– As senhoritas se importam?
– Nem um pouco – respondeu Kate, absolutamente fascinada.
Edwina se limitou a balançar a cabeça.
– Ótimo. – Colin virou-se de novo para o duque. – Hastings, prossiga.
O duque empurrou a bola um pouco para a frente do restante da pilha.
– Vocês sabem – falou, para ninguém em particular – que eu nunca joguei isto antes?
– Apenas dê uma boa tacada na bola naquela direção, querido – orientou Daphne,
apontando para o primeiro arco.
– Aquele não é o último arco? – indagou Anthony.
– Não, é o primeiro.
– Deveria ser o último.
Daphne cerrou os dentes.
– Quem arrumou o percurso fui eu, e digo que é o primeiro.
– Acho que isso pode se tornar violento – murmurou Edwina para Kate.
O duque virou-se para Anthony e abriu um sorriso falso.
– Acho que prefiro acreditar em Daphne.
– Ela arrumou mesmo o percurso – atalhou Kate.
Anthony, Colin, Simon e Daphne olharam para ela espantados, como se não acreditassem
em sua coragem de se meter naquela conversa.
– Bem, é verdade – repetiu Kate.
Daphne entrelaçou o braço ao dela.
– Acho que eu a adoro, Kate Sheffield – anunciou.
– Que Deus me proteja – murmurou Anthony.
O duque afastou o próprio taco e deu uma pancada na bola, que logo corria pelo gramado.
– Muito bem, Simon! – gritou Daphne.
Colin deu meia-volta e olhou para a irmã com desprezo.
– Ninguém parabeniza os adversários neste jogo – repreendeu, erguendo uma sobrancelha.
– Ele nunca jogou – argumentou ela. – Dificilmente vai ganhar.
– Não importa.
Daphne virou-se para Kate e Edwina e explicou:
– A falta de espírito esportivo é um requisito importante no Pall Mall dos Bridgertons.
– Eu já tinha percebido – retrucou Kate.
– Minha vez – disse Anthony de forma brusca.
Lançou um olhar cheio de desprezo à bola cor-de-rosa, em seguida deu-lhe uma boa
tacada. Ela se deslocou esplendidamente sobre a grama e bateu numa árvore, caindo feito
uma pedra no solo.
– Excelente! – exclamou Colin, preparando-se para sua vez.
Anthony murmurou algumas palavras, mas nenhuma delas era adequada a ouvidos
delicados.
Colin lançou a bola amarela na direção do primeiro arco, depois se afastou para dar a vez a
Kate.
– Eu poderia bater uma vez para treinar? – perguntou ela.
– Não!
Foi um “não” bem alto, proferido por três bocas ao mesmo tempo.
– Muito bem – resmungou ela. – Para trás, todos vocês. Não vou querer ser
responsabilizada se machucar alguém na primeira tentativa.
Ela afastou o taco com toda a força e bateu na bola, que se deslocou no ar em um arco
impressionante, em seguida bateu na mesma árvore que atrapalhara Anthony e caiu no chão
bem perto da bola dele.
– Ah, meu Deus – falou Daphne, balançando o próprio taco para a frente e para trás para
ajustar a mira antes de bater na bola.
– Por que “Ah, meu Deus”? – indagou Kate, sem ficar menos preocupada ao ver o sorriso
solidário da duquesa.
– Você vai ver – disse ela.
Daphne assumiu a posição, então caminhou na direção de sua bola.
Kate olhou para Anthony. Ele parecia muito, muito satisfeito com o atual estado das coisas.
– O que o senhor vai fazer comigo? – perguntou.
Ele se inclinou maliciosamente.
– A pergunta correta seria o que eu não vou fazer com a senhorita.
– Acho que é minha vez – falou Edwina, andando até o ponto de partida.
Ela deu uma tacada anêmica na bola e gemeu quando ela se deslocou apenas um terço do
caminho das outras.
– Use um pouco mais de força da próxima vez – instruiu Anthony antes de ir atrás da
própria bola.
– Certo – murmurou Edwina às costas dele. – Eu nunca teria imaginado isso.
– Hastings! – gritou Anthony. – Sua vez.
Enquanto o duque batia na bola na direção do próximo arco, Anthony encostou-se à árvore
com os braços cruzados e o ridículo taco cor-de-rosa pendendo de uma das mãos,
aguardando Kate.
– Ah, Srta. Sheffield – falou, afinal. – As regras determinam que cada um siga a própria
bola!
Observou-a caminhar pesadamente até o seu lado.
– Está bem – resmungou ela. – E agora?
– A senhorita deveria me tratar com mais respeito – provocou ele, oferecendo-lhe um
sorriso lento e irônico.
– Depois de o senhor se atrasar com Edwina? – retrucou ela. – Eu deveria fazer picadinho
do senhor.
– Uma jovem com sede de sangue – comentou ele. – A senhorita vai se dar muito bem no
Pall Mall... um dia.
Ele observou, muito divertido, o rosto dela enrubescer, depois ficar pálido.
– O que o senhor quer dizer? – perguntou Kate.
– Pelo amor de Deus, Anthony! – gritou Colin. – Faça a maldita jogada!
O visconde olhou para o local do gramado em que as bolas de madeira estavam – a dela,
preta, e a dele, cor-de-rosa.
– Muito bem – murmurou. – Eu não gostaria de deixar o querido e doce Colin esperando.
Ao dizer isso, pôs o pé sobre a bola cor-de-rosa, recuou o taco...
– O que o senhor está fazendo? – perguntou Kate com a voz aguda.
... e bateu. A bola cor-de-rosa permaneceu bem firme sob a bota dele, enquanto a preta
saiu voando morro abaixo pelo que pareceram quilômetros.
– Seu demônio – resmungou ela.
– No amor e na guerra, vale tudo – observou ele, com ironia.
– Eu vou matá-lo.
– Você pode tentar – provocou. – Mas vai precisar me alcançar primeiro.
Kate encarou o taco da morte e, então, fixou os olhos no pé de Anthony.
– Nem pense nisso – advertiu ele.
– É muito, muito tentador – retrucou ela.
Ele se curvou e disse em tom de ameaça:
– Nós temos testemunhas.
– E é só isso que vai lhe poupar a vida agora.
Ele sorriu.
– Acredito que sua bola esteja bem longe agora, Srta. Sheffield. Acho que nós só a veremos
em cerca de meia hora, quando conseguir nos alcançar.
Nesse momento, Daphne apareceu vindo atrás da própria bola, que parara perto deles sem
que percebessem.
– Foi isso que eu quis dizer com “Ai, meu Deus” – explicou, sem necessidade, na opinião
de Kate.
– O senhor vai pagar por isso – sibilou Kate para Anthony.
O sorriso afetado dele era mais eloquente que qualquer coisa que dissesse.
Ela seguiu morro abaixo, xingando em voz alta e de maneira pouco apropriada a uma dama
quando percebeu que a bola se alojara sob uma sebe.
Meia hora depois, Kate ainda se encontrava dois arcos atrás do penúltimo jogador. Anthony
era o vencedor por ora, o que a deixou muito irritada. A única coisa boa era que ela estava
tão atrasada que não podia ver a expressão satisfeita dele.
Então, enquanto aguardava a vez com as mãos entrelaçadas (havia muito pouco a fazer
nesse meio-tempo, já que nenhum outro jogador estava nem remotamente próximo dela),
ouviu Anthony soltar um grito aflito.
Isso atraiu sua atenção no mesmo instante.
Sorrindo na esperança de uma possível morte, ela olhou a sua volta, ansiosa, até avistar a
bola cor-de-rosa correndo pela grama direto em sua direção.
– Ui! – berrou, dando um pulinho e atirando-se para o lado o mais rápido que pôde, antes
que perdesse um dedo do pé.
Ao olhar para a parte mais alta do terreno, viu Colin pulando de alegria e balançando o
taco com força acima da cabeça ao gritar:
– É isso aí!
Anthony olhou para ele como se pudesse estripá-lo ali mesmo.
Kate também teria feito uma pequena dança da vitória (se não podia ganhar, a segunda
melhor coisa seria saber que ele não ganharia), não fosse o fato de agora Anthony estar na
mesma posição que ela no jogo. E, embora a solidão não fosse muito divertida, era melhor
que ter que conversar com ele.
Ainda assim, foi difícil disfarçar a presunção quando ele andou com dificuldade até ela,
fitando-a como se uma nuvem negra tivesse se alojado acima de sua cabeça.
– Que azar, milorde – murmurou Kate.
Ele só olhou para ela.
Ela suspirou, sem dúvida apenas para provocá-lo mais um pouco.
– Tenho certeza de que o senhor ainda vai conseguir ficar em segundo ou terceiro lugar.
Ele se inclinou de maneira ameaçadora e emitiu um som bastante parecido com um
rosnado.
– Srta. Sheffield! – chamou Colin ao descer o morro correndo: – É sua vez!
– Vamos lá – falou Kate, analisando todos os lances possíveis.
Poderia mirar no próximo arco ou tentar sabotar Anthony, deixando-o ainda mais para
trás. Infelizmente, a bola cor-de-rosa estava encostada à dela, o que queria dizer que não
poderia recorrer à manobra que ele usara contra ela antes, colocando o pé sobre a própria
bola e lançando a do adversário bem longe. Era provável que isso fosse bom – com sua sorte,
terminaria errando a bola e quebrando o próprio pé.
– Que escolha difícil... – murmurou ela.
Anthony cruzou os braços.
– O único meio de você estragar meu jogo é estragar o seu também.
– É verdade – concordou.
Se Kate quisesse acabar com as chances dele de vitória, teria que acabar com as próprias,
pois precisaria bater na própria bola com toda a força apenas para fazer com que a de
Anthony se movesse. E, como não conseguiria manter a sua no lugar, Deus sabe onde ela iria
parar.
– Mas – falou, erguendo os olhos para ele e sorrindo com inocência – eu não tenho mesmo
chance de ganhar o jogo.
– Você poderia ficar em segundo ou terceiro – arriscou ele.
Compartilhe com seus amigos: |