sensação tensa e ardente que lhe comprimia a barriga. Por instinto – talvez numa tentativa
de autopreservação –, ela deu um passo para trás.
Ele pareceu divertido, como se pudesse ler os pensamentos dela.
Kate brincou com a flor um pouco mais, então falou abruptamente:
– Você não deveria tê-la colhido.
– Você devia ter uma tulipa – falou ele em tom casual. – Não é justo que Edwina receba
todas as flores.
O estômago de Kate ficou ainda mais tenso e ardente.
– No entanto – retrucou ela, com dificuldade para falar –, o jardineiro decerto não vai
apreciar a mutilação do trabalho dele.
O visconde deu um sorriso diabólico.
– Vai pôr a culpa num de meus irmãos mais novos.
Ela não pôde deixar de rir.
– O senhor deveria cair na minha avaliação por tal truque – comentou Kate.
– Mas não vou?
Ela balançou a cabeça.
– Acho que minha opinião a seu respeito não pode piorar.
– Essa doeu. – Ele balançou um dedo na direção dela. – Pensei que a senhorita devesse
estar se comportando da melhor maneira possível.
Kate olhou ao redor.
– Não conta muito se não houver ninguém por perto para me ouvir, não é?
– Eu posso ouvi-la.
– Com certeza o senhor não conta.
Ele abaixou um pouco a cabeça na direção dela.
– Eu acharia que sou o único que conta.
Kate não disse nada. Não queria nem mesmo olhar em seus olhos. Sempre que se permitia
encarar aquelas profundezas aveludadas, seu estômago se revirava.
– Srta. Sheffield? – murmurou ele.
Ela ergueu o olhar. Grande erro. O estômago se embrulhou de novo.
– Por que o senhor veio me procurar? – indagou.
Anthony afastou-se do arco de madeira e empertigou-se.
– Na verdade, não vim. Fiquei tão surpreso em vê-la quanto a senhorita ficou em me ver.
Embora, pensou com ironia, não devesse ter ficado. Ele poderia ter percebido que a mãe
estava aprontando alguma coisa no momento em que sugeriu um lugar para sua caminhada.
Mas será que ela o tinha jogado para cima da Srta. Sheffield errada? Por certo não
escolheria Kate em vez de Edwina como futura nora.
– Mas, já que a encontrei – prosseguiu –, tem algo que gostaria de lhe falar.
– Algo que já não falou – observou, irônica. – Não consigo imaginar o que seja.
Ele ignorou o sarcasmo.
– Gostaria de me desculpar.
Isso a desconcertou. Abriu um pouco os lábios, surpresa, e arregalou os olhos.
– O que disse? – perguntou.
Anthony pensou que a voz dela mais pareceu o coaxar de um sapo.
– Eu lhe devo desculpas pelo meu comportamento naquela noite – prosseguiu. – Tratei a
senhorita de modo muito rude.
– O senhor não vai se desculpar pelo beijo? – indagou Kate, ainda parecendo muito
confusa.
Pelo beijo? Ele nem sequer considerara isso. Nunca se desculpara por um beijo, jamais
beijara alguém que considerasse necessário um pedido de desculpa. Na verdade, ele estava
pensando nas coisas desagradáveis que lhe dissera após o beijo.
– Hã... claro – mentiu. – Pelo beijo e por tudo o que disse também.
– Sei – murmurou ela. – Não achei que libertinos se desculpassem.
Ele cerrou os punhos. Aquele maldito hábito dela de tirar conclusões precipitadas sobre ele
era muito irritante.
– Este libertino pede – falou em tom mais baixo.
Ela respirou fundo e depois deu um longo suspiro.
– Nesse caso, aceito as desculpas.
– Ótimo – disse ele, dirigindo-lhe seu sorriso mais atraente. – Posso acompanhá-la de volta
à casa?
Ela assentiu.
– Mas não pense que isso me fará mudar de ideia a respeito do senhor e de Edwina.
– Jamais sonharia em considerá-la tão facilmente influenciável – atalhou ele, com
sinceridade.
Kate virou-se para Anthony e viu que seus olhos eram muito diretos – de uma forma
assustadora, mesmo para ela.
– A questão é que o senhor me beijou – retrucou.
– E a senhorita retribuiu.
Ele não conseguiu resistir.
As bochechas dela ficaram com uma deliciosa cor rosada.
– A questão é – repetiu Kate com determinação – que isso aconteceu. E, se o senhor se
casasse com Edwina, independentemente de sua reputação, que não considero infundada...
– Não – disse ele baixinho, interrompendo-a com um tom de voz aveludado e suave. – Não
acho que a senhorita deveria.
Ela lançou-lhe um olhar severo.
– Independentemente de sua reputação, isso sempre ficaria entre nós. Depois que algo
assim acontece, é impossível apagar.
O diabo em Anthony quase o impeliu a sibilar “Isso o quê?”, forçando-a a repetir as
palavras “O beijo”, mas, em vez disso, ele compadeceu-se dela e deixou para lá. Além do
mais, Kate tinha razão. O beijo sempre estaria entre eles. Mesmo agora, com as bochechas
dela rosadas de vergonha e os lábios contraídos de irritação, ele se perguntava como ela se
sentira quando ele a puxara para seus braços, que gosto experimentara quando ele desenhara
o contorno de seus lábios com a língua.
Será que ela passara a cheirar como o jardim? Ou aquele perfume enlouquecedor de lírios e
sabonete ainda estava em sua pele?
Será que cederia em seus braços? Ou o afastaria e correria para casa?
Só havia um meio de descobrir, e, ao fazer isso, ele arruinaria para sempre as chances com
Edwina.
Mas, como Kate dissera, talvez casar-se com Edwina lhe trouxesse muitas complicações.
Afinal, ele não poderia desejar a cunhada.
Talvez tivesse chegado o momento de procurar outra noiva, por mais entediante que
pudessem ser as perspectivas.
Talvez fosse o momento de beijar Kate Sheffield de novo, ali em meio à perfeição dos
jardins de Aubrey Hall, com as flores tocando suas pernas e o aroma de lilases no ar.
Talvez...
Talvez...
CAPÍTULO 9
Homens são criaturas contraditórias. A mente e o coração nunca estão de acordo. E, como
sabem muito bem as mulheres, suas ações costumam ser governadas por um aspecto
completamente diferente.
C
29
O
u, talvez, não.
Enquanto Anthony imaginava qual seria o melhor caminho até os lábios dela, ouviu o som
perturbador da voz de Colin.
– Anthony! – gritou ele. – Aí está você.
Kate, felizmente sem saber como estivera perto de ser beijada do modo mais insensato,
virou-se para observar a chegada de Colin.
– Qualquer dia – murmurou Anthony –, eu vou ter que matá-lo.
Kate virou-se de novo para ele.
– O senhor disse alguma coisa, milorde?
Anthony ignorou-a. Essa devia ser a melhor alternativa, pois era muito provável que não
ignorá-la o fizesse desejá-la, o que era, como ele sabia muito bem, o caminho mais curto e
direto para o desastre completo.
Na verdade, ele tinha que agradecer a Colin pela interrupção inoportuna. Mais alguns
segundos e ele teria beijado Kate Sheffield, o que seria um dos maiores erros de sua vida.
Beijá-la uma vez poderia ser perdoado, sobretudo considerando-se o modo como ela o
provocara naquela noite, no escritório. Mas duas vezes... Bem, duas vezes obrigaria qualquer
homem honrado a desfazer a corte a Edwina Sheffield.
E Anthony não estava nem um pouco disposto a desistir de seu conceito de honra.
Não podia acreditar que estivera tão perto de estragar seus planos de casar-se com Edwina.
Em que estava pensando? Ela era a noiva perfeita para seus propósitos. Só quando a irmã
intrometida estava por perto sua mente ficava confusa.
– Anthony – repetiu Colin ao se aproximar. – E Srta. Sheffield. – Ele lançou um olhar
curioso aos dois, pois sabia muito bem que eles não se davam. – Que surpresa.
– Estava apenas explorando os jardins de sua mãe – falou Kate –, e esbarrei em seu irmão.
Anthony assentiu, confirmando.
– Daphne e Simon estão aqui – continuou o mais novo.
Anthony virou-se para Kate e explicou:
– Minha irmã e o marido.
– O duque? – perguntou ela.
– O próprio – resmungou ele.
Colin riu ao perceber o rancor na voz do irmão.
– Ele se opôs ao casamento – comentou com Kate. – Vê-los felizes o deixa aborrecido.
– Ora, mas que diab... – falou Anthony, interrompendo-se antes de blasfemar diante de
Kate. – Estou muito contente pela felicidade de minha irmã – continuou de modo ríspido,
sem soar muito satisfeito. – Só acho que eu deveria ter tido mais oportunidades de saber o
que o desgraç... malcriado pretendia antes de os dois embarcarem no “felizes para sempre”.
Kate reprimiu uma risada.
– Entendo – disse, certa de que não mantivera o rosto tão sério quanto desejara.
Colin sorriu para ela antes de virar-se mais uma vez para o irmão.
– Daff sugeriu jogarmos Pall Mall. O que você acha? Faz séculos que não jogamos. E, se
formos logo, poderemos escapar das senhoritas excessivamente delicadas que mamãe
convidou por nossa causa. – Ele virou-se de novo para Kate com um sorriso que o faria ser
perdoado por qualquer coisa. – A não ser pela presente companhia, sem dúvida.
– Sem dúvida – murmurou ela.
Colin inclinou-se para a frente, com os olhos verdes brilhando de astúcia.
– Ninguém cometeria o erro de chamá-la de senhorita excessivamente delicada –
acrescentou.
– Isso foi um elogio? – indagou ela, com acidez.
– Sem dúvida.
– Então terei que aceitá-lo de bom grado e com gratidão.
Colin deu uma risada e falou para Anthony:
– Eu gosto dela.
O mais velho não parecia divertido.
– A senhorita já jogou Pall Mall? – perguntou Colin a Kate.
– Infelizmente, não. Acho que nem sei o que é.
– É um jogo ao ar livre. Muito engraçado. Mais popular na França que aqui, embora eles o
chamem de paille maille.
– Como se joga? – quis saber Kate.
– Colocamos arcos de ferro em um campo – explicou Colin –, então tentamos acertá-los
batendo com tacos em bolas de madeira.
– Parece bem simples – refletiu ela.
– Não quando se joga com os Bridgertons – falou ele, dando uma risada.
– E o que isso quer dizer?
– Quer dizer – interrompeu Anthony – que nunca vimos necessidade de demarcar um
campo. Colin coloca os arcos sobre as raízes das árvores...
– E você já colocou um na direção do lago – atalhou Colin. – Nunca encontramos a bola
vermelha depois que Daphne a afundou.
Kate sabia que não deveria aceitar passar uma tarde na companhia do visconde, mas,
apesar de tudo, o jogo parecia divertido.
– Haveria espaço para mais um jogador? – perguntou ela. – Já que estou excluída do grupo
de senhoritas excessivamente delicadas?
– Claro que sim! – exclamou Colin. – Suspeito que a senhorita se encaixará muito bem
entre os maquinadores e trapaceiros.
– Vindo do senhor – falou Kate, dando uma risada –, sei que foi um elogio.
– Ora, com toda a certeza. Honra e sinceridade têm seu tempo e lugar, mas não num jogo
de Pall Mall.
– E – interrompeu Anthony, com uma expressão presunçosa no rosto – teremos que
convidar sua irmã também.
– Edwina? – disse Kate, quase engasgando.
Com mil demônios. Ela acabara de jogar a irmã direto nas garras dele. Vinha fazendo o
máximo para mantê-los afastados e agora praticamente lhes arranjara um passeio à tarde.
Não haveria meio de excluir Edwina depois de ter convidado a si mesma para o jogo.
– A senhorita tem outra irmã? – indagou ele em voz baixa.
Ela lançou-lhe um olhar severo.
– Talvez ela não queira jogar. Creio que está repousando no quarto.
– Instruirei a criada a bater bem de leve na porta – retrucou Anthony, sem dúvida
mentindo.
– Ótimo! – comemorou Colin. – Assim teremos três homens e três mulheres.
– É um jogo em equipes? – indagou Kate.
– Não – respondeu ele –, mas mamãe sempre fez questão de que tivéssemos as mesmas
quantidades em tudo. Ficaria muito aborrecida se jogássemos em número ímpar.
Kate não podia imaginar a adorável e graciosa mulher com quem conversara havia apenas
uma hora aborrecendo-se por causa de um jogo de Pall Mall, mas imaginou que não devia
comentar nada.
– Vou chamar a Srta. Sheffield – murmurou Anthony, parecendo insuportavelmente
arrogante. – Colin, por que você não leva esta Srta. Sheffield até o campo e e eu encontro
vocês lá em meia hora?
Kate abriu a boca para protestar contra o arranjo que deixaria Edwina sozinha com o
visconde, mesmo que por um curto período, enquanto caminhavam até o campo, mas, por
fim, permaneceu em silêncio. Não havia uma desculpa razoável que pudesse dar para evitar
aquilo, ela sabia.
Anthony captou o balbucio proferido por ela e deu o sorriso enviesado mais insolente que
pôde, antes de dizer:
– Fico feliz em ver que a senhorita concorda comigo.
Ela apenas resmungou. Se tivesse dito algo, as palavras não teriam sido educadas.
– Ótimo – falou Colin. – Nós os veremos mais tarde.
Então deu o braço a Kate e se afastou com ela, deixando Anthony sorrindo com afetação
atrás deles.
Colin e Kate caminharam cerca de meio quilômetro até uma clareira ligeiramente irregular,
ladeada por um lago.
– O lar atual da bola vermelha, suponho – comentou Kate, apontando para a água.
Colin riu e assentiu.
– Uma pena, pois tínhamos equipamento suficiente para oito jogadores. Mamãe insistiu em
comprar um conjunto que pudesse incluir todos os filhos.
Kate não sabia se sorria ou franzia a testa.
– Sua família é muito unida, não é?
– Muito – respondeu Colin, dirigindo-se a um galpão próximo.
Kate o seguiu, dando tapinhas distraídos na coxa.
– O senhor sabe que horas são? – disse ela.
Ele fez uma pausa, retirou um relógio do bolso e abriu-o.
– Três e dez.
– Obrigada – falou, anotando mentalmente a hora.
Eles haviam se separado de Anthony quinze minutos antes, e ele prometera levar Edwina
até o campo de Pall Mall em meia hora, portanto deveriam estar ali às 15h25.
No máximo, às 15h30. Kate estava disposta a ser generosa e aceitar os inevitáveis atrasos. Se
o visconde aparecesse com sua irmã às 15h30, ela não iria censurá-lo.
Colin continuou o caminho até o galpão e Kate o observou com interesse enquanto ele
empurrava a porta.
– Parece enferrujada – comentou ela.
– Já faz um tempo que não aparecemos aqui para jogar – retrucou ele.
– Mesmo? Se eu tivesse uma casa como Aubrey Hall, nunca iria a Londres.
Colin virou-se, com a porta aberta pela metade.
– A senhorita é um bocado parecida com Anthony, sabia?
Kate engasgou.
– O senhor só pode estar brincando.
Ele balançou a cabeça e deu um sorriso breve e estranho.
– Talvez seja porque vocês dois são os mais velhos. Deus sabe que agradeço todos os dias
por não ter nascido no lugar de Anthony.
– O que quer dizer?
Colin deu de ombros.
– Que eu não iria querer lidar com as responsabilidades dele, só isso. O título, a família, a
fortuna... É muita coisa nos ombros de um único homem.
Kate não tinha qualquer vontade particular de saber quão bem o visconde assumira as
responsabilidades do título. Não queria ouvir nada que pudesse mudar sua opinião sobre ele,
embora precisasse admitir que ficara impressionada com a aparente sinceridade do pedido
de desculpas mais cedo.
– O que isso tem a ver com Aubrey Hall? – indagou ela.
Colin olhou-a de modo inexpressivo por um momento, como se tivesse esquecido que a
conversa se iniciara com o comentário inocente de Kate sobre como a casa de campo era
adorável.
– Nada – disse ele. – E tudo. Anthony adora este lugar.
– Mas ele passa o tempo inteiro em Londres – retrucou Kate. – Não passa?
– Pois é. – Colin deu de ombros. – Estranho, não é?
Kate não respondeu. Ficou apenas observando-o terminar de empurrar a porta do galpão,
deixando-a totalmente aberta.
– Aqui estamos – declarou ele, retirando lá de dentro um carrinho construído para conter
os oito tacos e as bolas de madeira. – Está um pouco mofado, mas nada que vá causar
problemas.
– A não ser pela perda da bola vermelha – comentou Kate com um sorriso.
– Isso é culpa de Daphne – retrucou Colin. – Tudo é culpa de Daphne. Torna minha vida
muito mais fácil!
– Eu já ouvi algo parecido antes!
Kate deu meia-volta e viu um jovem casal muito atraente aproximando-se. O homem era
lindo, com cabelos muito escuros e olhos bem claros. A mulher só podia ser uma Bridgerton,
com o mesmo cabelo castanho de Anthony e Colin. Sem falar na estrutura óssea e no sorriso.
Kate ouvira dizer que todos os Bridgertons eram muito parecidos, mas ela nunca acreditara
por completo nisso, até o momento.
– Daff! – chamou Colin. – Você chegou bem a tempo de nos ajudar a posicionar os arcos.
Ela lhe lançou um sorriso malicioso.
– Você não achou que eu iria permitir que você arrumasse o campo sozinho, não é? –
Então, virando-se para o marido: – Não confio nem um pouco nele.
– Não dê ouvidos a ela – disse Colin a Kate. – Sou a pessoa mais confiável que existe.
Daphne revirou os olhos e se dirigiu a Kate:
– Como tenho certeza de que meu infeliz irmão não fará as honras, vou me apresentar. Sou
Daphne, duquesa de Hastings, e esse é meu marido, Simon.
Kate fez uma pequena mesura.
– Vossa Graça – murmurou, então se virou para o duque e disse mais uma vez: – Vossa
Graça.
Colin fez um gesto com a mão na direção dela enquanto se curvava para retirar os arcos do
carrinho.
– Essa é a Srta. Sheffield.
Daphne pareceu confusa.
– Acabei de cruzar com Anthony em casa e pensei que ele tivesse dito que estava indo
pegar a Srta. Sheffield.
– Minha irmã – explicou Kate. – Edwina. Eu sou Katharine. Kate, para os amigos.
– Bem, se você é corajosa o suficiente para jogar Pall Mall com os Bridgertons, sem dúvida
eu a quero como amiga – comentou Daphne, abrindo um sorriso amplo. – Então, você deve
me chamar de Daphne. E meu marido, de Simon. Não é, Simon?
– Ora, é claro – respondeu ele, e Kate teve a nítida impressão de que o duque teria dito a
mesma coisa se ela afirmasse que o céu era laranja.
Não que não estivesse prestando atenção nela – simplesmente era óbvio que a adorava a
ponto de não conseguir se concentrar na conversa.
Era isso, pensou Kate, que queria para Edwina.
– Deixe-me levar metade – ofereceu Daphne, estendendo o braço para pegar os arcos da
mão do irmão. – Eu e a Srta. Sheffield... isto é, eu e Kate – falou, dando a Kate um sorriso
simpático – vamos arrumar três deles, e você e Simon podem fazer o restante.
Antes que Kate pudesse sequer arriscar uma opinião, Daphne pegou-a pelo braço e
conduziu-a até o lago.
– Temos que ter certeza absoluta de que Anthony vai jogar a bola na água – murmurou
Daphne. – Nunca o perdoei pela última vez. Pensei que Benedict e Colin fossem morrer de
tanto rir. E Anthony foi o pior. Só ficou ali parado, com um sorrisinho afetado. Um
sorrisinho afetado! – Ela se virou para Kate com a expressão mais pesarosa. – Ninguém sorri
afetado como meu irmão mais velho.
– Eu sei – murmurou Kate baixinho.
Por sorte, a duquesa não a ouviu.
– Se eu pudesse matá-lo, juro que teria feito.
– O que vai acontecer se todas as suas bolas se perderem no lago? – perguntou Kate sem
conseguir resistir. – Ainda não joguei muito com a senhora, mas me parece muito
competitiva, e pelo jeito...
– Pelo jeito isso seria inevitável? – Daphne terminou a frase por ela. Então sorriu. –
Provavelmente, você está certa. Não temos espírito esportivo quando se trata de Pall Mall.
Sempre que um Bridgerton ergue um taco, tornamo-nos todos trapaceiros e mentirosos. Na
verdade, o jogo é muito menos sobre ganhar e muito mais sobre garantir que os adversários
percam.
Kate fez um esforço para encontrar as palavras.
– Isso parece...
– Terrível? – Daphne sorriu de novo. – Não é. Você nunca se divertirá tanto, posso lhe
garantir. Mas, do jeito que a coisa vai, todo o conjunto terminará no fundo do lago em muito
pouco tempo. Acho que teremos que mandar buscar outro na França. – Ela enfiou um dos
arcos no solo. – Parece um desperdício, eu sei, mas vale a pena humilhar meus irmãos.
Kate tentou não rir, mas não foi bem-sucedida.
– A senhorita tem algum irmão? – perguntou Daphne.
Como a duquesa se esquecera de usar seu primeiro nome, Kate achou melhor voltar a
tratá-la de maneira formal:
– Nenhum, Vossa Graça – respondeu. – Edwina é minha única irmã.
Daphne cobriu os olhos com a mão e examinou a área, procurando um local diabólico para
outro dos arcos. Quando avistou um – bem em cima da raiz de uma árvore –, seguiu em
frente, e Kate não teve alternativa senão segui-la.
– Quatro irmãos – prosseguiu Daphne, enfiando o arco no solo – proporcionam uma
educação maravilhosa.
– Imagino as coisas que a senhora deve ter aprendido – falou Kate, muito impressionada. –
A senhora consegue deixar um homem de olho roxo? Derrubá-lo no chão?
Daphne deu um sorriso astucioso.
– Pergunte a meu marido.
– Perguntar o que a mim? – gritou o duque do outro lado da árvore, onde ele e Colin
posicionavam um arco em uma raiz.
– Nada – retrucou a duquesa com ar de inocência. – Eu também aprendi – cochichou para
Kate – quando é melhor manter a boca fechada. Homens são muito mais fáceis de manipular
depois que aprendemos alguns fatos essenciais sobre a natureza deles.
– E quais são esses fatos? – arriscou Kate.
Daphne inclinou-se para a frente e sussurrou com a mão em concha cobrindo-lhe a boca.
– Os homens não são tão inteligentes quanto nós, e não precisam saber nem metade do que
fazemos. – Ela olhou ao redor. – Ele não ouviu isso, ouviu?
Simon deu um passo para o lado, surgindo detrás da árvore.
– Cada palavra.
Kate reprimiu uma gargalhada enquanto Daphne se punha de pé de um salto.
– Mas é a pura verdade – falou com ar de superioridade.
Simon cruzou os braços.
– Deixo que você pense assim – retrucou. Virou-se para Kate e prosseguiu: – Aprendi uma
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