1. As fronteiras entre “nós” e “eles” provêm a m anutenção da identidade, por
m eio da distinção. Com o isso ocorre e com que consequências para o m odo
com o vem os os outros e nós?
2. Existe um a “união” ou “laço com um ” partilhado pela hum anidade com o
um todo?
3. Que práticas de segregação e de concessão de direitos você vê em sua
cidade? Você se considera beneficiário ou vítim a delas? Por quê?
4. O que Erving Goffm an quis dizer com a expressão desatenção civil? Com o
isso se m anifesta?
Sugestões de leitura
BOURDIEU, Pierre et al. A miséria do mundo. Petrópolis, Vozes, 2003. [The
Weight of the World: Social Suffering in Contemporary Society. Cam bridge,
Polity, 1999.]
Estudo baseado em pesquisas em píricas detalhadas, realizadas ao longo de
m uitos anos, a respeito das questões com que as pessoas se deparam em seu
cotidiano.
FRISBY, Patrick e Mike Featherstone (orgs.). Simmel on Culture: Selected
Writings. Thousand Oaks, Sage, 1997.
Sim m el foi um grande sociólogo, e essa coletânea de seu trabalho perm ite ao
leitor ter um a ideia da extensão e da profundidade de seus interesses.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana, 13ª ed. Petrópolis,
Vozes, 2006. [The Presentation of Self in Everyday Life. Harm ondsworth,
Penguin, 1984.]
Esse livro vendeu m uito, provavelm ente pelos insights do autor sobre nossas
interações.
MILLER, Toby e Alec McHoul. Popular Culture and Everyday Life. Londres,
Sage, 1998.
Insights interessantes sobre práticas diárias.
. 3 .
Laços: para falar em “nós”
Neste capítulo, exam inarem os os processos pelos quais nós, suj eitos individuais,
nos reunim os em configurações m aiores. Com o isso ocorre? Em que
circunstâncias? Com que efeitos? – estas são algum as das questões que
desej am os abordar. Esses tem as nos tom am a atenção diariam ente, com o indica
o uso de algum as expressões – “todos nós”, “nós pedim os” e “nós concordam os”,
por exem plo – presentes em nossos j ornais e na m ídia em geral, bem com o na
boca de executivos, líderes religiosos e políticos. Quem é esse “nós” que se supõe
em basado em entendim ento m útuo, e com o ele é constituído?
Com unidades: forj ar o consenso e lidar com o conflito
Pode ser cham ado de comunidade um grupo de pessoas não claram ente
definidas nem circunscritas, m as que concordem com algo que outras rej eitem e
que, com base nessa crença, atestem algum a autoridade. Por m ais que possam os
tentar j ustificar ou explicar esse “estar j unto”, o prim eiro traço de sua
caracterização é a unidade espiritual. Sem isso, não há com unidade. O acordo, ou
pelo m enos a disposição e o potencial para tanto, é considerado a sustentação
prim ária de todos os m em bros da com unidade. Assim , os fatores unificadores
são valorizados com o m ais fortes e im portantes do que qualquer coisa que possa
causar divisões, e as diferenças entre os integrantes, secundárias em relação a
suas sim ilaridades. Nesse sentido, a com unidade é pensada com o unidade
natural.
O poder de laços com o estes não deve ser subestim ado. Eles evitam às
pessoas a necessidade de explicar “quem ” são e disso convencer um as às outras,
e perm item com partilhar pontos de vista, de m odo que se constituam com o
verdade e m ereçam crédito e respeito. O ponto m ais forte e m ais seguro de
pertencim ento a um a com unidade é atingido quando acreditam os que não a
escolhem os de propósito e nada fizem os para sua existência, de m odo que nossas
ações não a podem transform ar. Em nom e da efetividade, suas im agens e
postulados, com o os contidos em frases com o “Todos estam os de acordo”, nunca
são apresentados em detalhes nem questionados; nunca são escritos em código
form al ou convertidos em obj eto de ações conscientes voltadas para demarcação
e manutenção. Sua força é m aior quando eles perm anecem em silêncio, com o
ordens inquestionáveis e, portanto, sem se expor a desafios.
Os laços com uns aparecem m ais nos indivíduos isolados que conduzem sua
vida inteira, do nascim ento à m orte, em com panhia das m esm as pessoas e que
nunca se arriscam em outros lugares nem são visitadas por m em bros de outros
grupos. Nessas condições, elas podem não ter oportunidade de refletir sobre seus
próprios m eios e m aneiras, nem necessidade de explicá-los e j ustificá-los.
Situações com o essas são raras. A com unidade é antes um postulado, um a
expressão de desej o e um convite à m obilização e a cerrar fileiras – m ais que
um a realidade. Nas m em oráveis palavras do crítico e escritor galês Ray m ond
William s, “o que é notável sobre a com unidade é que ela é sem pre passado”.
Mesm o supondo que tenha existido, ela não existe m ais, e seu m om ento passou.
Os inabaláveis poderes de unidade “natural” costum am , todavia, ser evocados
quando os povos se deparam com a tarefa prática de criar unidade ou
salvaguardar, por esforço consciente, seu ideal – um ideal que, na verdade, pode
não ser m ais que um edifício do passado desm oronando.
Qualquer referência a algum estado natural com relação à ideia de
com unidade é em si um fator para tornar efetivos os apelos à unidade. Os m ais
potentes são aqueles que vão além da interpretação e do controle hum anos,
fazendo alusão a elem entos com o “m esm o sangue”, caráter hereditário e ligação
atem poral com a “terra”. Essas referências vinculam pessoas a passado e destino
com uns, sobre os quais pouco controle elas têm – quando têm . O apelo às
religiões partilhadas e à unidade das nações são feitos em term os de “fatos
(obj etivos) do caso”, que podem efetivam ente ocultar os elem entos de
arbitrariedade envolvidos na escolha e na interpretação de fatos e casos
selecionados. Quem age contra essas interpretações com ete, aos olhos do grupo,
atos que traem sua própria natureza, podendo, por isso, ser rotulados com o
renegados e tolos, e ficar tão envolvido em arrogância oportunista a ponto de
desafiar decisões j á decretadas pela inevitabilidade histórica.
Das alusões ao que estej a além de nossa alçada decorrem crescentes
possibilidades de m aior controle sobre nossos destinos. O uso do discurso de
sim ilaridades genéticas para criar a unidade não livra o orador do fardo da
escolha em suas traduções. Por quê? Porque, com exceção da diferença de
opinião, quando se trata de com preender as relações entre genes e o
com portam ento hum ano, supor tal inevitabilidade nesta era de realidade da
engenharia genética é algo altam ente problem ático. Segundo a psicóloga e
socióloga fem inista Ly nne Segal, confrontam os um a escolha. Podem os olhar
para trás a fim de exam inar os “determ inantes em nossa herança genética que
estabelecem nosso destino”. Ou olhar para frente, pondo nossa fé nos “novos
deuses genéticos” e nas liberdades que podem ser criadas com o em penho de
tornar nossas naturezas “infinitam ente m aleáveis”.
Diante dessas possibilidades, toda referência a estados naturais unificadores é
lim itada. Cam inho alternativo é abrir-se à intenção de fundar um a com unidade
de crenças ou fé convertendo pessoas (produzindo prosélitos) às novas ideias. O
obj etivo é estabelecer um a com unidade de fiéis com aqueles que são unificados
pela dedicação a algum a causa a eles revelada por fundador santificado ou líder
político perceptivo e de visão aguda. Nesse tipo de exercício não se em prega a
linguagem das tradições sagradas ou do destino histórico, m as a das boas notícias
vindas com o “renascer” e, sobretudo, a vida conduzida de acordo com a
verdade. Não se faz apelo às situações em que não há escolha, m as, ao contrário,
estim ula-se o ato nobre do abraçar a fé verdadeira, rej eitando a superstição, a
ilusão ou a distorção ideológica que não adm ite dúvida.
Atos abertos de conversão são considerados libertação e com eço de um a nova
vida – e não se trata de ação do destino, m as de ato m arcado pelo livre-arbítrio e
entendido com o m anifestação verdadeira de um a liberdade recém -descoberta.
Ficam veladas nesse m om ento, entretanto, as pressões que serão exercidas sobre
os convertidos para que perm aneçam obedientes à fé recém -abraçada e
consagrem em seguida sua liberdade àquilo que a causa possa dem andar. Por
conseguinte, as exigências dirigidas a esses adeptos podem não ser m enos
excessivas que aquelas invocadas pela tradição histórica ou pela predisposição
genética para legitim ar suas práticas.
As com unidades de fé não podem se lim itar à pregação de um novo credo
com a intenção de unir futuros devotos. A devoção nunca estará assegurada se
não for sustentada por rituais, isto é, um a série de eventos regulares – festividades
cívicas, reuniões partidárias, serviços religiosos – de que os fiéis são convidados a
participar com o atores, de m odo que sua filiação e seus destinos com uns sej am
reafirm ados, e a devoção, reforçada. Naturalm ente haverá, contudo, variações
na severidade e no volum e das exigências feitas a esses integrantes.
A m aioria dos partidos políticos – com a significativa exceção daqueles, de
direita ou de esquerda, centrados em obj etivos radicais ou reacionários que
tratam seus m em bros com o guerreiros, deles exigindo, portanto, lealdade e
subordinação – não busca unidade de pensam ento além da necessária para
m anter sua regular sustentação eleitoral. Além desse lim ite, o exército de
voluntários pode ser esquecido, até, obviam ente, ser necessário outra vez. Em
outras palavras, as vidas dos dem ais integrantes ficam a critério pessoal, e não se
legisla, por exem plo, sobre a natureza de sua rotina fam iliar ou suas escolhas
ocupacionais.
As seitas religiosas, por outro lado, tendem a ser m ais exigentes. São pouco
susceptíveis à participação em rituais periódicos porque todas as dim ensões da
vida de seus integrantes fazem parte de seu dom ínio. Um a vez que as seitas são,
por definição, m inorias expostas a pressões externas, a com pleta reform a em
todos os aspectos da conduta cotidiana do fiel será m onitorada. Por m eio da
conversão de todos os aspectos da vida em profissão de fé e m anifestação de
lealdade, as com unidades em form a de seitas tentarão defender o
com prom etim ento de seus m em bros contra o ceticism o e a franca hostilidade do
am biente. Em casos extrem os, serão feitas tentativas de segregar com pletam ente
a com unidade do fluxo “com um ” da vida social, sendo a sociedade “norm al”
censurada por suas práticas pecam inosas ou vulneráveis à tentação.
São m uitas as cargas possíveis contra “o m undo exterior”, e a escolha de qual
delas deve ser invocada dependerá do tipo de vida que a com unidade desej a
prom over. Os m em bros podem ser convidados a se afastar das abom inações da
vida m undana em favor da existência solitária, ou pode lhes ser ordenado que
evitem a “ascensão a qualquer preço”, reservando-se as relações pautadas
unicam ente em intim idade, sinceridade e confiança m útuas. De hábito são
tam bém convidados a recusar as atrações do consum ism o e a reconciliar-se com
um viver m odesto e austero.
Com unidades desse tipo, em geral denom inadas com unas, confrontam seus
m em bros com a tarefa da pertença sem as obrigações contratuais legalm ente
determ inadas, o que seria um a segunda linha de defesa, caso as anim osidades ou
a falta de consenso se tornem am eaças. Nesse sentido, qualquer dissidência
constitui am eaça, e, quanto m ais abrangente for a com unidade, m ais opressiva
tenderá a se tornar.
Com unidades diferem em term os da uniform idade que exigem de seus
m em bros. Na m aioria dos casos, entretanto, o que estipulam tende a ser difuso,
m aldefinido e im possível de prever. Ainda que os defensores da unidade
declarem neutralidade a respeito dos aspectos não espirituais da vida de seus
integrantes,
dem andam
prioridade
para
as
crenças
que
advogam .
Potencialm ente, essa reivindicação pode levar a interferências em m atérias
previam ente estabelecidas com o território neutro se eventualm ente se m ostrar
discordante do credo com partilhado.
Cálculo, racionalização e vida grupal
Além do que foi dito, há com unidades que m antêm pessoas reunidas com o único
obj etivo de realizar tarefas definidas. E, um a vez que sua finalidade é lim itada, o
controle sobre o tem po, a atenção e a disciplina de seus m em bros tam bém
podem ser restringidos. Em geral esses grupos são claros em suas orientações.
Assim , o com prom etim ento e a disciplina dos integrantes são traduzidos em
term os de um obj etivo global ou da tarefa específica a ser executada. Nesse
sentido, podem os falar em grupos de finalidade ou organizações. A autolim itação
deliberada e abertam ente declarada talvez sej a a característica m ais explícita e
distintiva desse tipo de com unidade.
A m aioria das organizações possui estatutos escritos, detalhando as regras
institucionais a que os m em bros devem aderir. Isso por definição im plica que os
aspectos da vida não regulados por esses preceitos perm anecem livres da
interferência da entidade. Cabe observar que se a presença ou ausência de
autolim itação nas crenças, m ais consenso, é considerada a principal diferença
entre com unidades e organizações, então algum as dessas com unidades que
analisam os devem ser cham adas, à revelia de suas próprias reivindicações,
organizações.
Podem os traduzir a natureza parcial dos envolvim entos na atividade de
organização com o interpretação de papéis. A palavra “papel” foi pinçada do
j argão teatral – um a das razões por que, aliás, o trabalho de Erving Goffm an, que
atribuiu significado particular à perform ance nas interações, costum a ser
cham ado de “dram atúrgico”. Afinal, um a peça no palco, com sua tram a
decidida antecipadam ente e descrita em texto, ao atribuir diferentes falas a cada
ator do elenco, oferece um m odelo pelo qual a organização pode orientar sua
vida. O teatro é tam bém protótipo em outro aspecto: atores de palco não são
sugados por seus papéis, posto que só “incorporam ” o personagem durante a
perform ance, estando livres para dele sair em seguida.
As organizações são especializadas de acordo com as tarefas que executam ,
bem com o, aliás, seus m em bros, que são recrutados segundo habilidades e
atributos que possuam para cum prir os obj etivos propostos. O papel de cada
m em bro não é estabelecido independentem ente, m as em relação aos de outros
m em bros daquele grupo. Características com o coordenação e comunicação são
prim ordiais nas organizações. Contudo, essas com petências e esses atributos são
diferentes tam bém daqueles exigidos pelos papéis que cada indivíduo
desem penha em outros contextos diferentes. Por exem plo, podem os ser
m em bros voluntários de um a instituição de caridade, representantes locais de um
partido político ou de um com itê ad hoc estabelecido para lutar contra a
construção de um a autoestrada. Em m uitos casos, nossos colegas desses
diferentes grupos não estarão interessados nos outros papéis que desem penham os
na vida cotidiana, porque cada um deles desej ará que nos identifiquem os com o
papel que desem penham os na atividade específica para a qual eles tam bém
contribuem .
Repetindo: diferentem ente da com unidade, que pensam os com o um grupo ao
qual seus m em bros pertencem (ou devem pertencer) “de corpo e alm a”, a
organização parece absorver apenas parcialm ente as pessoas envolvidas. Espera-
se que os participantes de um a organização abracem seus papéis a fim de se
dedicar a seu desem penho trabalhando na e para a entidade. Ao m esm o tem po,
há tam bém um a expectativa de distância, para que não fiquem som ente
refletindo sobre seu desem penho com o intuito de m elhorá-lo, m as tam bém não
confundam direitos e deveres associados a determ inado papel com os que dizem
respeito a outra atividade ou posto. Nesse sentido, deve haver tam bém relativa
estabilidade nos papéis da organização a fim de que as pessoas possam identificar
as expectativas em relação a elas.
Além disso, enquanto os incum bidos de algum a tarefa podem ir e vir, os
papéis propriam ente perm anecem os m esm os. Os indivíduos ingressam na
organização e a deixam , são contratados e dem itidos, aceitos e expulsos – m as a
organização persiste; tornam -se substituíveis e descartáveis, e o que se m ostra
relevante não é sua integralidade com o pessoa, m as antes suas habilidades
específicas para executar o trabalho.
Veem -se aqui os interesses da parte da organização dotada de poder de
cálculo e previsibilidade na busca de obj etivos form ais. O sociólogo alem ão Max
Weber, figura central na história da sociologia, considerou a proliferação das
organizações na sociedade m oderna um sinal da contínua racionalização da vida
diária. A ação racional é orientada para fins claram ente estabelecidos, ao
contrário da tradicional e da afetiva – decorrentes de hábito e costum e, e em oção
m om entânea, respectivam ente, um a e outra, entretanto, dispensando
consideração a respeito das consequências. Os atores são então intim ados a
concentrar seus pensam entos e esforços na seleção de m eios apropriadam ente
efetivos, eficientes e econôm icos para obter aqueles fins.
Para Weber, as características da organização, ou m ais especificam ente o que
cham ou de “burocracia”, representam a adaptação suprem a às exigências da
ação racional. Os m étodos da burocracia representam os m eios m ais efetivos
para levar a cabo os fins de m aneira racional. De fato, Weber listou os princípios
que devem ser observados nas ações dos m em bros e em suas inter-relações a
fim de que a organização sej a instrum ento da racionalidade.
De acordo com essa análise, é im portante que todos na organização aj am
exclusivam ente em term os de sua “racionalidade funcional”, tal com o
estabelecido pelas regras atreladas aos papéis que executam . Outros aspectos de
suas identidades sociais, com o conexões fam iliares, interesses com erciais,
sim patias e antipatias pessoais, devem estar proibidos de interferir no que fazem ,
no m odo com o fazem e na m aneira com o suas ações são j ulgadas.
Para tanto, um a organização verdadeiram ente racional deve subdividir tarefas
em atividades sim ples e elem entares, de m odo que cada participante, no esforço
com um , se transform e em perito no que faz. Além disso, cada pessoa deve ser
responsável por todos os elem entos da tarefa global, de form a que nenhum a
parte perm aneça preterida. Isso significa que em cada um e em todos os
aspectos da tarefa deve fica claro quem está com a responsabilidade,
assegurando-se, desse m odo, que as com petências não se sobreponham .
Consequentem ente, evita-se a am biguidade, que poderia prej udicar o processo
da busca racional dos fins.
A essas características da burocracia Weber acrescentou algum as outras. No
desem penho de seus respectivos papéis, os funcionários devem ser orientados por
regras abstratas, a fim de que não haj a m enção a peculiaridades pessoais. Os
próprios funcionários devem ser indicados para seus departam entos, prom ovidos
ou rebaixados som ente segundo o critério do m érito, considerado nos term os do
“encaixe” de suas habilidades e seus atributos às exigências do ofício. Qualquer
consideração fora desse j ulgam ento, tal com o origem nobre ou plebeia,
tendências ideológicas ou religiosas, raça, sexo e tantas outras, não deve interferir
nessa política. O encarregado do papel individual pode assim orientar as ações de
acordo com papéis e expectativas bem -definidos e com binar com petências e
habilidades às tarefas estabelecidas para cada posição.
A organização, por outro lado, é obrigada a aderir a um conj unto de regras
racionais na seleção dessas pessoas e ater-se aos precedentes – decisões
anteriores feitas naquelas posições –, m esm o que tenham deixado a organização
ou assum ido outros papéis em seu interior. A história da organização, portanto, é
escrita por seus arquivos, independentem ente de m em órias pessoais ou lealdades
de funcionários individuais.
Para assegurar a coordenação racional da atividade, os papéis devem ser
organizados em hierarquia que corresponda a um a divisão de trabalho interna
orientada para a busca do obj etivo global da organização. Quem ocupa os
estratos m ais baixos da hierarquia m ove-se de acordo com o nível de
especialização, parcialidade e concentração das tarefas, enquanto quem está no
ponto m ais elevado se m ove segundo a abrangência da visão e a visibilidade do
obj etivo global. Para efetivar essa situação, a circulação da inform ação deve
seguir do m ais baixo aos m ais elevados degraus da escada hierárquica, e as
ordens devem fluir da parte superior à inferior, tornando-se, assim , m ais
específicas e inequívocas. O controle pela parte superior necessita de
reciprocidade na form a de disciplina da parte inferior. Assim , o poder, com o a
capacidade de influenciar a conduta em toda a organização, é igualm ente
hierárquico.
De volta a nosso tem a da unidade dos grupos, o fator-chave aqui é o postulado
de que as decisões e as escolhas com portam entais de todos devem ser
subordinadas aos obj etivos globais da organização. Em seu caráter de totalidade,
ela deve se cercar de m uros largos, im penetráveis, m antendo abertos apenas dois
portões: as “entradas”, com que é suprida dos obj etivos e tarefas subsequentes
que ela tem de executar na perseguição de seus fins; e as “saídas”, que fornecem
os resultados desse processo organizacional. Entre a alim entação das tarefas e a
produção de resultados sob a form a de bens e/ou serviços, deve-se evitar que
todas as influências externas intervenham sobre a estrita aplicação de regras
organizacionais e a seleção dos m eios m ais efetivos, eficientes e econôm icos
para a busca dos obj etivos declarados.
Ao apontar essas características das organizações racionais, Weber não
sugeria que todas fossem assim na prática. Propunha, entretanto, com esses
“tipos ideais”, que os aspectos que se vão acrescentando a nossa vida são suj eitos
a regras e procedim entos com vistas ao cálculo e à previsibilidade por m eio da
rotinização. É esse processo que o sociólogo am ericano George Ritzer denom inou
“m cdonaldização” da sociedade. No trabalho de Weber, vem os que as ações
inform adas por valores absolutos, sem a devida consideração da possibilidade de
sucesso nesses term os, dão form a a parte cada vez m enor de nossa vida no
desenvolvim ento da história, o que levou Weber a falar em “desencantam ento”
com a m archa progressiva da m odernidade.
Em bora haj a organizações que se aproxim em do m odelo ideal de Weber,
com efeitos sobre seus em pregados e clientes, o m odelo em geral perm anece
não realizado. Pergunta-se: seria ele viável? Alguém reduzido, segundo essas
orientações, a apenas um papel ou a um a só tarefa, não afetado por outros
interesses nem preocupações, é um a ficção que realidade algum a poderia
alcançar. Isso, entretanto, não sugere que as idealizações da eficiência, da
efetividade e da econom ia na busca dos obj etivos não inform em a gerência
estratégica das organizações. Podem os caracterizar razoavelm ente a prática da
gerência com o a tentativa perm anente de conj ugar os aspectos form ais e
inform ais da vida organizacional na busca do que se tiver determ inado com o seus
im perativos. Por conseguinte, as práticas gerenciais m ovem -se e são m obilizadas
de acordo com tendências na busca das soluções para essa questão, habilm ente
auxiliadas por exércitos de consultores organizacionais e dos cham ados “gurus da
adm inistração”.
Nesse processo, assistim os à contínua invenção de ideias com o soluções para
a questão do encam inham ento das ações de m em bros individuais para obj etivos
coletivos: por exem plo, “gerenciam ento da qualidade total”, “reengenharia de
processos e negócios”, “gerenciam ento de recursos hum anos”, gerência de
“obj etivos” e preocupação com alcançar a “cultura” adequada à organização.
No que diz respeito aos aspectos inform ais das organizações, ao contrário das
regras e dos procedim entos integrantes da dim ensão form al, os m em bros de
organizações são naturalm ente preocupados com seus próprios problem as, assim
com o com o bem -estar de outros significativos, que podem adversam ente ser
afetados pelos riscos envolvidos em determ inadas form as de tom ada de decisão.
Um a tendência a evitar resoluções sobre m atérias dúbias e/ou controversas pode
então se m anifestar: por exem plo, a ideia de “batata quente”, com o
popularm ente é cham ada a transferência de responsabilidade via deslocam ento
de um a pasta ou assunto urgente para outra m esa ou pessoa. A pessoa alivia-se
assim de um a tarefa, que se transform a em problem a alheio.
Um m em bro da organização tam bém pode considerar algum a ordem
recebida de seus superiores não com patível com sua m oralidade, colocando a
decisão entre a obediência organizacional e a lealdade a princípios m orais.
Outros talvez acreditem que a exigência de confidencialidade feita pelos
superiores pode pôr em perigo o bem -estar público ou outra causa que
considerem igualm ente válida ou m esm o m ais im portante que a eficiência da
entidade. Nesses casos, testem unham os a prática do “dedo-duro”,1 segundo a
qual um a pessoa ou um grupo de um a organização faz denúncias na esfera
pública, na esperança de que isso cesse o que considera ações institucionais de
caráter duvidoso.
As razões para a resistência aos éditos adm inistrativos podem tam bém
repousar sobre o equilíbrio de poder próprio das estruturas hierárquicas. De
acordo com Michel Foucault, um a vez que o poder é sem pre operado sobre
pessoas livres, a resistência fica vinculada ao resultado. Portanto, podem os dizer
que as intenções adm inistrativas em im plem entar políticas organizacionais nem
sem pre correspondem a seus efeitos reais práticos. Além disso, é possível
observar que os m em bros de um a organização levam para o trabalho os
preconceitos com que lidam em seu cotidiano. Por exem plo, os hom ens podem
experim entar dificuldade em aceitar o com ando de um a m ulher, e, apesar das
declarações públicas de que não existe um “telhado de vidro”2 nas organizações,
o sexo fem inino é ainda desproporcionalm ente sub-representado nos quadros
adm inistrativos. Desse ponto de vista, a ideia de “m érito” é em geral m inada nas
organizações, pelo espelham ento de preconceitos vigentes nas sociedades.
A partir desta últim a observação, podem os questionar a ideia de que os lim ites
entre um a organização e seu am biente são fixos. São antes fluidos e construídos
de acordo não só com as estratégias daqueles em posições de poder, m as
tam bém com as pressões e as influências vindas de lugares ostensivam ente não
relacionados a suas tarefas e, consequentem ente, negando a autoridade na
tom ada de decisão de organização. Isso pode, por exem plo, configurar um a
antecipada preocupação com a im agem pública que im põe lim ites ao
prosseguim ento de cursos de ação calculados exclusivam ente em term os
técnicos ou que conduzem à obsessiva confidencialidade, im pondo, desse m odo,
lim itações ao fluxo de com unicação. Isso pode estar relacionado com assuntos
que tenham despertado a preocupação e a irritação públicas, ou com a tentativa
de evitar que rivais tom em conhecim ento de novos desenvolvim entos
tecnológicos.
Essas são apenas algum as das lim itações práticas do m odelo. Suponham os,
entretanto, que as condições para sua execução tenham sido alcançadas. Disso,
concluím os que as pessoas envolvidas na divisão organizacional das tarefas
foram restringidas aos papéis que lhes haviam sido atribuídos, enquanto a
organização com o um todo foi efetivam ente isolada de todas as preocupações e
influências consideradas irrelevantes para seus propósitos declarados. Não
obstante quão im prováveis essas circunstâncias possam ser, elas garantiriam a
racionalidade da atividade organizacional se esta for posta em prática? Poderá
um a organização inteiram ente conform ada a um m odelo ideal com portar-se de
m aneira tão racional quanto Weber sugeriu? Há fortes argum entos no sentido de
que isso não aconteceria porque da receita ideal decorreriam num erosos
obstáculos à realização desta form a de racionalidade.
Para com eçar, pesos iguais são atribuídos no m odelo à autoridade do
escritório e à da habilidade técnica relevante. Poderiam esses dois tipos de
autoridade tão diferentem ente sustentados coincidir e perm anecer em harm onia?
Na verdade, é m ais do que provável que tendam a discordar ou que pelo m enos
entrem em tensão. Alguém pode, por exem plo, colocar um profissional treinado,
com o um m édico, em posição na qual a expectativa gire em torno dos custos
relativos à tom ada de decisão. Diante de um paciente em estado m uito grave –
considerando que haj a m edicam entos disponíveis, a algum custo, capazes de
curar a doença –, irá aflorar um nítido conflito entre o dever ético do profissional
com o m édico e sua responsabilidade relativa à questão orçam entária.
Outra tensão do m odelo diz respeito à m inuciosa divisão do trabalho calculada
de acordo com tarefas. Trata-se de fator que supostam ente im pulsiona a
eficiência, m as na verdade tende a produzir “incapacidade treinada”: tendo-se
adquirido perícia no desem penho rápido e eficiente de tarefas circunscritas,
pode-se gradualm ente perder de vista as ram ificação m ais am plas do trabalho.
Logo, não se notarão as consequências adversas das atividades (que assim se
tornaram rotinas m ecânicas) sobre o desem penho global, os colegas de trabalho
e os obj etivos gerais da organização (essa é crítica recorrentem ente feita por
gerentes a seus pares operacionais que, por sua vez, os acusam de não
com preensão das técnicas de seu trabalho).
Por conta da estreiteza de suas habilidades, os integrantes podem tam bém
estar despreparados para aj ustar suas rotinas às circunstâncias em m udança e
para reagir às situações estranhas com a velocidade e a flexibilidade necessárias.
Em outras palavras, a organização torna-se presa na busca da racionalidade
perfeita; passa a ser dura e inflexível, e seus m étodos de trabalho não se adaptam
depressa o bastante às situações de transform ação – m ais cedo ou m ais tarde,
bem pode se transform ar em fábrica de decisões cada vez m ais irracionais.
De um ponto de vista interno, o m odelo ideal tam bém está suj eito ao
deslocamento de objetivo. Para sua eficácia, todas as organizações devem
reproduzir sua capacidade de agir, ou sej a, aconteça o que acontecer, um a
organização deve estar sem pre pronta para tom ar decisões e iniciar ações. Tal
necessidade de reprodução clam a por um m ecanism o eficaz de autoperpetuação
im une à interferência externa. A questão é que o próprio obj etivo pode tornar-se
um dos aspectos dessa interferência externa. Não há nada no m odelo que im peça
esse m ecanism o de sobreviver à tarefa original da organização. Ao contrário,
tudo aponta para a probabilidade, e m esm o para o desej o, de que o interesse na
autopreservação incitará a expansão infinita de atividades da organização e do
escopo de sua autoridade.
Pode acontecer, na verdade, que a tarefa vista originalm ente com o a razão da
organização sej a relegada a posição secundária pelo todo-poderoso interesse da
própria organização na busca de autoperpetuação e autoengrandecim ento. A
sobrevivência da organização transform a-se então em finalidade de direito
próprio e, assim , em novo final, referência por que se tenderá a m edir a
racionalidade de seu desem penho.
Podem os identificar ainda outra tendência em m eio ao que m encionam os.
Falam os sobre as dem andas parciais das organizações em term os das
expectativas e do desem penho dos papéis. Isso pressupõe que a identidade social
e a autoidentidade estão, em alguns sentidos, separadas da existência da
organização. Nas situações que tendem para total abrangência, a organização
poderia exibir as características dos tipos de com unidade que descrevem os com o
de origem religiosa, ou sej a, as que exigem de seus m em bros fidelidade em
todos os aspectos de sua vida. Porque as organizações respondem à natureza cada
vez m ais rápida da m udança, a com placência e a relutância a m udar são
tom adas com o sinais de desvantagens com petitivas. Logo, o fato de os
em pregados terem de ser flexíveis, dinâm icos e inventivos é considerado de
im portância prim ordial.
As organizações têm , então, de se m ostrar m ais interessadas na pessoa com o
um todo, em seu tem peram ento, seus atributos, disposições, habilidades,
conhecim entos e m otivações. Um a série de práticas e preocupações
pseudocientíficas com áreas consideradas até então de pouco interesse das
organizações passou a m erecer seu olhar rotineiro.
Nesse processo, tem os observado um questionam ento do m odelo ideal e de
suas ideias da racionalidade com o suporte dos aspectos em ocionais de nossas
vidas. Agora, a ideia de libertar algo que tem sido cham ado de “inteligência
em ocional”, a realização de testes psicom étricos em candidatos e a preocupação
com a estética do design do escritório passam a incluir-se nas preocupações das
organizações. Dependendo do setor de que estam os falando e da natureza de seu
papel dentro da organização, atribuem m ais atenção ao que, até aqui, não
passava de aspectos estritam ente privados da vida dos em pregados. E isso se
estende m esm o à rotineira vigilância sobre os m em bros da organização.
Em seu livro Surveillance Society, David Ly on sinalizou que as organizações
utilizam program as de com putador para m onitorar e-m ails e se inform ar sobre
possíveis violações da política da com panhia por parte de algum funcionário; que
crachás ativos alertam um com putador central sobre a localização de alguém em
um edifício a fim de lhe perm itir encontrar o telefone e o m onitor m ais próxim os
para sua “conveniência”; que exam es de uso de drogas passaram a ser aplicados
rotineiram ente; e que detetives particulares têm sido usados para investigar todos
os aspectos da identidade de alguém a fim de se certificar de que tenha bom
caráter. No processo, os m odos de construção de identidades tam bém se alteram .
Verifica-se, entretanto, resistência à vigilância rotineira sobre o espaço e o
tem po, e ao que pode ser visto com o um a série de arbitrariedades em áreas não
pertencentes às atividades de trabalho.
Por conta de detalhes com o a resistência a exigências lançadas às pessoas, os
dois m odelos de form ação de grupos hum anos são insuficientes. Nem a im agem
da com unidade nem o m odelo da organização descrevem de m odo adequado a
prática da interação hum ana. Am bas esboçam m odelos de ação artificialm ente
separados, polarizados, que afastam e com frequência opõem m otivos e
expectativas.
As ações hum anas reais, sob circunstâncias reais, ressentem -se de divisão tão
radical e, assim , m anifestam tensão nas expectativas de hábito lançadas sobre as
ações das pessoas. Ao representar e procurar im por representação a seus
m em bros, as com unidades e as organizações dem onstram um a tendência
inerente a sim plificar ações com plexas e intricadas. A resposta pode então ser
buscar purificar ainda m ais a ação, m as nossas interações são partidas entre duas
forças gravitacionais, puxando em sentidos opostos.
As interações rotineiras, ao contrário do proposto nos m odelos extrem os, são
m istas, heterogêneas, estando suj eitas a tensões. Por exem plo, a fam ília m uitas
vezes não se encaixa nas idealizações a seu respeito, e há tarefas a executar
com o em qualquer outro grupo de pessoas em cooperação. Logo, ela tam bém
apresenta alguns dos critérios de desem penho próprios das organizações. Por
outro lado, em qualquer organização, os integrantes m al podem evitar as ligações
pessoais com os indivíduos com quem j untam forças durante um período
prolongado. Mais cedo ou m ais tarde, padrões inform ais da interação em ergirão
e poderão ou não se sobrepor ao m apa oficial de relacionam entos form ais de
com ando e subordinação. Os sociólogos há m uito têm reconhecido essas
relações, bem com o a m aneira com o se desenvolvem e coincidem ou entram
em tensão com a exigência form al da organização.
Ao contrário do que sugeriria o m odelo ideal, vê-se na prática que o
desem penho orientado para as tarefas pode se beneficiar de m odo considerável
se a interação não for reduzida a papéis especializados. As com panhias
com eçaram a solicitar com prom etim ento m ais profundo de seus em pregados,
trazendo m ais de seus interesses e preocupações para dentro da órbita da
organização. Quem com anda a organização pode utilizar a fusão de seus aspectos
form ais e inform ais.
Essa estratégia testem unhou a “virada cultural” na teoria de adm inistração,
com sua ênfase em discursos sobre valores, com prom etim ento, m otivação,
trabalhos de equipe e m issão. As organizações agora oferecem , por exem plo,
instalações de recreação e entretenim ento, serviços de com pra, grupos de leitura
e m esm o im óveis. Esses benefícios extraordinários não estão, evidentem ente,
relacionados à tarefa explícita da organização, m as espera-se que tudo j unto
produza “sensação de com unidade” e induza os integrantes a se identificar com a
em presa. Tais em oções, aparentem ente estranhas ao espírito da organização, são
consideradas para im pulsionar a dedicação dos m em bros aos obj etivos da
organização e neutralizam , assim , os efeitos adversos dos parâm etros puram ente
im pessoais sugeridos pelos critérios da racionalidade.
Com unidades e organizações costum am atuar com o se houvesse um
pressuposto de liberdade entre seus m em bros, m esm o que suas práticas não
estej am de acordo com suas próprias expectativas. Os m em bros podem então
sair ou agir de m aneira contrária às expectativas dom inantes. Há, entretanto, um
caso de organização que nega explicitam ente a liberdade para sair e m antém as
pessoas sob sua j urisdição pela força. Trata-se do que Erving Goffm an cham ou
de “instituições totais” – com unidades de segurança reforçada em que a
totalidade da vida dos m em bros está suj eita a escrupulosa regulação, sendo suas
necessidades definidas e providas pela organização. As ações são explicitam ente
aprovadas por regras organizacionais.
Colégios internos, quartéis, prisões e hospitais psiquiátricos, todos se
aproxim am , em variados graus, do m odelo de instituição total. Seus internos são
m antidos sob rotineira fiscalização o tem po todo, de m odo que os desvios em
relação às regras sej am visíveis e se tornem obj etos de prevenção ou punição.
Nem a dedicação espiritual nem a esperança de ganhos m ateriais podem ser
usados para evocar o com portam ento desej ável e assegurar a vontade dos
m em bros de perm anecer j untos e cooperar.
Disso decorre outra característica das instituições totais: a divisão estrita entre
aqueles que estabelecem as regras e os que são por elas lim itados. A efetividade
da coerção, com o o único substituto para o com prom isso e o cálculo, depende de
a distância entre os dois lados da divisão perm anecer intransponível. Dito isso,
relações pessoais se desenvolvem , sim , no interior de instituições totais e m uitas
vezes abarcam a distância entre os supervisores e os internos.
Síntese
Manuel Castells escreve, na conclusão do segundo dos três volum es de seu estudo
A era da informação, que estam os testem unhando o crescim ento das redes, dos
m ercados e das organizações governadas cada vez m ais por “expectativas
racionais”. Se, porém , essa é a síntese de tendência dom inante nas sociedades
ocidentais contem porâneas, em nosso exam e dos vínculos o que cham a m ais
atenção é tam bém a diversidade de agrupam entos hum anos. Todos são form as
de interação hum ana nas quais o grupo existe em virtude de ser um a rede
persistente das ações interdependentes de seus m em bros.
A afirm ação de que “há um a faculdade” refere-se ao fato de que um núm ero
de pessoas se j unta para ingressar em um a rotina cham ada aula, isto é, um
encontro com unicativo com a finalidade de aprender e que está estruturada
tem poral e espacialm ente de tal m aneira que alguém fala, e alguns indivíduos a
sua frente escutam e tom am notas. Em suas interações, os m em bros de um
grupo são guiados pela im agem da conduta correta naquele contexto específico.
Essa im agem j am ais é com pleta, e, assim , seu potencial de fornecer
prescrição inequívoca para qualquer situação que possa surgir no curso da
interação é dim inuído de form a correspondente. A estrutura ideal para a
interação é constantem ente interpretada e reinterpretada, e esse processo prevê
novas orientações, bem com o novas expectativas. A interpretação não pode
senão realim entar a própria im agem , e, assim , as práticas e as expectativas
inerentes à estrutura ideal inform am e se transform am em m ão dupla.
Questões para refletir
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