1.2.2 Contratos Futuros
Diferentemente dos contratos a termo, os contratos futuros são
instrumentos negociados em bolsa e consistem em um contrato de compra e
venda de uma determinada quantidade de ativo padronizado, segundo a
quantidade, qualidade, local de entrega e data de vencimento, para
liquidação em uma data futura. Segundo Silva (2003), o contrato futuro visa
proteger preço ou taxa de câmbio para agentes expostos às flutuações
adversas nos preços do ativo objeto do contrato futuro
Reymão (2001) ressalta que uma das principais vantagens dos
contratos futuros é a intercambialidade de posições, pois graças à
padronização dos contratos, o comprador que deseja liquidar sua posição
não precisa encontrar o vendedor original, bastando comprar um contrato
oposto para a mesma data, pelo mesmo valor, o que lhe permite anular sua
posição com a câmara de compensação.
Dessa forma, em virtude da padronização dos contratos, o mercado
futuro torna-se uma alternativa mais interessante para os especuladores do
que o mercado a termo, já que neste último, além da dificuldade de
15
encontrar demanda para liquidar contratos não padronizados, falta
transparência de preço nas negociações, em decorrência dos termos serem
pouco divulgados.
Porém, entre os aspectos desfavoráveis dos contratos futuros,
conforme Silva (2003) está
a imobilização de garantias
5
por um tempo
prolongado (até a liquidação do contrato) e a necessidade de administrar os
ajustes diários, o que acaba demandando estrutura, tempo e dinheiro.
Segundo Reymão (2001), a necessidade de se promover um ajuste
diário, nas câmaras de compensação deve-se à finalidade de manter,
diariamente, os valores das posições compradas e vendidas
6
de qualquer
contrato nos níveis em que foram negociados. No entanto, esse ajuste não
caracteriza um sistema de garantias, mas sim de antecipações de lucros e
perdas. Logo, o risco de liquidação dos contratos futuros fica restrito ao
curto prazo. Dessa forma, dada a possibilidade de receber imediatamente
qualquer lucro, há uma maior atração de especuladores para o mercado
futuro do que no mercado a termo, tendo em vista que neste último os lucros
só poderão ser resgatados no vencimento dos contratos.
A seguir, é apresentado no Quadro 1 o resumo das principais
características e diferenças dos contratos a termo e contratos futuros.
Quadro 1 - Características dos contratos a termo X contratos futuros
Características
Contrato a termo
Contrato futuro
Negociação
Bancos
Caixa de liquidação
Natureza dos Contratos Livre
Padronizados
Liquidação
Vencimento
Ajustes diários
Procedimentos
operacionais
Leilões abertos
Intermediários privados
Apesar das diferenças entre os dois mercados, eles estão interligados.
É bastante comum que os contratos a termo dêem origem aos produtos a
5
Reymão (2001) mostra que essas garantias visam ao pagamento de alguns ajustes diários
negativos, bem como servem de sinalizadores da vontade do contratante em saldar seu
compromisso.
6
Por posição comprada compreende-se a situação em que o volume das compras de moeda
estrangeira supera o das vendas; ao passo que posição vendida é quando ocorre o inverso.
16
serem comercializados nas bolsas. Ademais, os bancos geralmente recorrem
às bolsas para dar cobertura às operações contratadas perante seus clientes.
Conforme a BM&F (2005), uma operação com contratos futuros
pode, por exemplo garantir antecipadamente a relação R$/US$, assegurando
sua receita em reais, independentemente das oscilações do mercado até o
vencimento da operação.
Assim como ocorre com os contratos futuros de juros, os contratos
futuros de dólar podem ser instrumentos eficientes para a gestão dos riscos.
Diante do
contexto de um regime de taxas de câmbio flutuantes, há sempre
uma exposição, por parte do agente/investidor, ao risco de ocorrência de
uma eventual apreciação/desvalorização cambial, que irá depender do seu
posicionamento com relação a este ativo. E numa situação como esta, o
agente pode realizar uma operação de hedge na Bolsa para proteger o valor
real de seu fluxo de caixa.
De forma resumida, nesta operação o agente fixa antecipadamente
uma taxa de câmbio apropriada para compra ou venda da moeda, que será
liquidada na BM&F numa data futura estabelecida no contrato.
Assim, a perda ou ganho incorrido com o impacto da variação do
câmbio sobre a receita da operação terá sido compensado pelos
ganhos/perdas obtidos no mercado futuro de dólar (BM&F, 2005).
1.2.3 Contrato de opções
O contrato de opções, de acordo com Eiteman et al. (2002), é aquele
em que se estabelece o direito de compra (call) ou venda (put), a um
determinado preço, de um instrumento financeiro, no qual seu comprador
paga um determinado valor ao vendedor, ou seja, o prêmio
7
(option price).
As opções podem ser classificadas quanto ao prazo e ao preço
do exercício. Quanto ao prazo, elas podem ser "européias", que
restringe o comprador a exercer seu direito apenas no prazo de
maturação do contrato, ou "americanas", que dão ao titular o
direito de exercê-la a qualquer momento, antes da data do
7
O titular de uma opção tem sempre direitos enquanto o lançador apenas obrigações; é por
isso que se paga o prêmio ao vendedor.
17
exercício. Na BM&F, as opções de dólar negociadas são
apenas do tipo "européias" (REYMÃO, 2001, p. 48).
Com relação ao preço de exercício (preço pelo qual o titular poderá
exercer o seu direito de comprar o ativo objeto ou vendê-lo), a classificação
depende de uma comparação entre esse e o preço à vista. Em casos de
opções cambiais, a comparação é feita entre a taxa futura (negociada) e a
taxa de câmbio do mercado à vista.
As opções de câmbio podem ser negociadas no mercado de balcão e
em mercados organizados, e são utilizadas para fins especulativos e como
instrumento de hedge de risco cambial.
1.2.3.1 Opções de câmbio para fins especulativos
A utilização do mercado de câmbio para fins especulativos, segundo
Eiteman et.al (2002), pode ocorrer em 3 mercados: à vista, a termo e de
opções. A especulação no mercado à vista ocorre quando o especulador
acredita que a moeda estrangeira apreciará em valor numa certa data futura,
embora não esteja preso àquela data-alvo. Assim, o especulador compra a
moeda no mercado à vista e quando a taxa de câmbio-alvo for atingida
vende pela nova taxa à vista.
Já a especulação no mercado a termo, verifica-se quando o
especulador acredita que o preço à vista será diferente, em alguma data
futura, do preço a termo de hoje para aquela mesma data. Isto significa que
o especulador compra a moeda estrangeira hoje pela cotação a termo e
vende, na data de vencimento do contrato a termo, no mercado à vista.
A especulação no mercado de opções permite ao titular da opção
exercê-la ou deixá-la vencer sem que seja utilizada. Dessa forma, o titular
de uma opção de compra apenas exercerá a opção quando esta for lucrativa,
ou seja, se o preço a vista (taxa de câmbio spot) for maior do que o preço de
exercício (taxa de câmbio negociada), como pode ser visto no Quadro 2.
O contrário tende a ocorrer com o vendedor da mesma opção de
compra, pois o que o titular ganha, o lançador perde, e vice-versa.
18
Quadro 2 -Classificação das opções, segundo a relação do preço de exercício (PE) com
o preço à vista (PV)
Classificação
Call
Put
In the money *
PE < PV
PE > PV
At the money
PE = PV
PE = PV
Out of the money
PE > PV
PE < PV
Em que: PE = preço de exercício PV = preço à vista (*) Caso em que a opção será exercida
Fonte: In: REYMÃO (2001, p 48)
Para facilitar o entendimento de um contrato de opção de compra,
segue um exemplo apontado por Montano (2004) de uma opção de compra
de 1.000 pés cúbicos de gás que esteja custando hoje US$3,540.14 e
US$3.40 daqui a um mês. No dia do vencimento do contrato, poderão
ocorrer três situações:
Se o preço no mercado à vista (spot) estiver igual ao preço de
exercício (strike price), ou seja, a mercadoria custa exatamente US$3.40,
será indiferente para o titular exercer ou não o seu direito. De qualquer
forma, seu gasto total será de US$3.54 exercendo seu direito ou não
exercendo e comprando a mercadoria à vista. Neste caso, diz-se que é uma
opção at the money, ou no dinheiro, tal como pode ser visto no Quadro 2.
Caso o preço no mercado spot esteja menor do que o preço de
exercício, ou seja, a mercadoria custa menos de US$3.40, o titular vai
preferir não exercer o seu direito, pois poderá comprar o ativo no mercado à
vista por um preço mais barato. Ao desistir, o titular perde apenas o que
pagou como prêmio, no exemplo, US$0.14. Esta opção é chamada de out of
the money, ou fora do dinheiro.
Na terceira situação, se o preço no mercado spot estiver maior que o
strike price, ou seja, a mercadoria custar mais do que US$ 3.40, o titular
exercerá o seu direito, pois poderá comprar o ativo por um preço mais
barato do que à vista. Esta opção é chamada de in the money.
Segundo Montano (2004), o titular da opção só auferirá um lucro
positivo quando o preço à vista da mercadoria for maior que a soma do
19
prêmio da opção com o preço de exercício. No exemplo, caso o preço à
vista seja igual a US$3.64, o lucro será de US$ 0,10. Já no caso da
mercadoria custar US$3.54, não haverá lucro, pois seu gasto com o prêmio
de US$0.14, mais o exercício de US$3.40, será igual ao preço à vista.
Com relação ao titular de uma opção de venda, o objetivo deste é
vender a opção quando o preço de exercício for maior do que o preço à
vista, como pode ser visto no Quadro 2. Para preços à vista maiores que o
preço de exercício, a opção não será exercida e o vendedor mantém o
prêmio ganho antecipadamente. Assim como o titular de uma call, o titular
de uma put nunca pode perder mais do que o prêmio pago antecipadamente.
Conforme Eiteman et al. (2002), entre as vantagens dos contratos de
opção destacam-se: a limitação da perda do titular ao pagamento do prêmio,
que representa o custo de eliminação do cenário desfavorável; possibilidade
de realizar ganhos, caso a opção no vencimento esteja com o valor de
exercício inferior (direito de comprar) ou superior (direito de vender) ao
valor do mercado à vista.
Por outro lado, o instrumento apresenta desvantagem (perda do valor
do prêmio), caso a opção no vencimento esteja com valor de exercício
superior (direito de comprar) ou inferior (direito de vender) ao valor do
mercado à vista.
Hull apud Reymão (2001) mostra que, diante da volatilidade de
algumas moedas, as opções são interessantes para um agente que busca
cobertura de risco em um cenário desfavorável.
Assim, se um agente que vai receber libras esterlinas deseja fazê-la,
deve comprar opções de vendas dessa moeda, com data de vencimento na
mesma época do recebimento. Isso garante que o valor da libra não seja
menor que o preço de exercício e, ao mesmo tempo, lhe permite beneficiar-
se de quaisquer oscilações favoráveis na taxa de câmbio.
1.2.3.2 Opções de câmbio para hedge de risco cambial
No que concerne aos riscos da exposição cambial do ponto de vista
de uma empresa não financeira, Eiteman et al (2002) destacam três tipos de
20
risco. São eles: o risco de transação, o risco operacional e o risco contábil. A
exposição da transação refere-se a mudanças nos fluxos de caixa resultantes
das variações do valor de obrigações financeiras em aberto, incorridas antes
das mudanças cambiais, mas que só serão liquidadas após a variação
cambial. O exemplo mais comum desse risco surge quando uma empresa
tem contas a receber ou a pagar em uma moeda estrangeira.
A exposição de transação, conforme Eiteman et al (2002), surge no
momento seguinte (t
1
) em que o vendedor cota um preço em termos de
moeda estrangeira para um potencial comprador. Com a colocação de um
pedido, no período t
2
, o potencial de exposição criado na hora da cotação
converte-se na exposição efetiva ou exposição de pedidos em aberto. Esta
dura até que as mercadorias sejam embarcadas e faturadas, tornando-se
assim uma exposição de faturamento. Esta última exposição permanece até
o momento t
4
, quando o vendedor recebe o pagamento.
Dessa forma, o risco assumido pelo vendedor pode ocorrer se, caso
no momento do recebimento, a taxa de câmbio cair, o que implicará um
recebimento menor do que o valor antecipado no momento t
1.
O risco de transação pode ser administrado por hedges contratuais,
financeiros e operacionais. As técnicas de hedge contratual incluem hedges
no mercado a termo, no mercado monetário e no mercado de opções. A
escolha do hedge contratual depende do nível da tolerância ao risco de
câmbio da empresa, bem como de suas expectativas sobre o provável
movimento das taxas de câmbio durante o período da exposição de
transação.
Um hedge a termo envolve contratos a termo e uma fonte de fundos.
Caso os fundos para satisfazer o contrato a termo, estejam disponíveis, diz-
se que o hedge é coberto ou perfeito, ao passo que na ausência, o hedge é
denominado aberto ou descoberto. Assim, uma empresa que deseja fazer o
hedge da sua exposição de transação no mercado a termo, vende uma
determinada quantia de moeda estrangeira a termo hoje a uma cotação a
termo da taxa de câmbio
21
Com relação à exposição operacional ou econômica, esta decorre da
mudança no valor presente da empresa ocasionada pelos impactos da
mudança cambial sobre futuros fluxos de caixa operacionais da empresa.
O objetivo da análise da exposição operacional é identificar as
estratégias ou técnicas operacionais que a empresa pode adotar, visando
aumentar o seu valor em face das mudanças inesperadas na taxa de cambio.
A meta dessa análise é prever o impacto de longo prazo das variações de
taxa de cambio não-antecipadas sobre o fluxo de caixa.
Para alcançar tal objetivo, a gerência pode diversificar a base
operacional e financeira da empresa. Diversificar a base operacional
significa diversificar vendas, localização das instalações de produção e
fontes de matéria-prima, ao passo que diversificar a base financeira
compreende a obtenção de fundos em mais de um mercado de capitais e em
mais de uma moeda.
Já a exposição contábil refere-se a mudanças de natureza contábil no
patrimônio do proprietário, decorrentes da necessidade de traduzir as
demonstrações financeiras em moeda estrangeira de afiliadas situadas no
exterior para uma única moeda de denominação às demonstrações
financeiras internacionais consolidadas da empresa.
Muitas empresas tentam administrar suas exposições cambiais
mediante a adoção de uma política de hedge para reduzir as variações nos
valores de seus fluxos de caixa futuros esperados.
Conforme pode ser visto na Figura 1, o hedge concentraria a
distribuição dos fluxos de caixa sobre a média da distribuição, reduzindo os
riscos, embora não signifique que esteja aumentando valor ou retorno à
empresa.
22
Figura 1- Impacto do hedge nos fluxos de caixa esperados da empresa
Como a operação de hedge envolve custo, a empresa, ao
empreender tal operação, despenderá recursos. Logo, só haverá adição de
valor caso o deslocamento da média da distribuição para a direita seja
suficientemente grande para compensar o custo do hedge (Figura 1).
A empresa só não terá despesas com o instrumento de hedge no caso
de a cotação fechar acima do previsto. O custo para manter a proteção será
tanto maior quanto maior for a procura, sobretudo em períodos de
desvalorização da moeda corrente. Dessa forma, a operação de hedge não
necessariamente elimina todo o risco financeiro de uma empresa.
Para Eiteman et al (2002), a política de hedge cambial traz vantagens
relacionadas à redução do risco de fluxos de caixa, o que permite à empresa
não só fazer um planejamento mais adequado dos seus fluxos de caixa
futuros esperados, como reduzir a probabilidade destes fluxos caírem abaixo
de um mínimo necessário
8
. Dessa forma, as empresas serão capazes de
fazer um investimento específico qualificado ou até mesmo investir em
atividades que, caso contrário, não seriam consideradas, além de gerar
fluxos de caixa suficientes para efetuar os pagamentos do serviço da dívida.
8
O ponto mínimo do fluxo de caixa de uma empresa é conhecido como o ponto de dificuldades
financeiras. Esse ponto fica à esquerda do centro da distribuição dos fluxos de caixa esperado. O
objetivo do hedge é fazer com que os fluxos de caixa das empresas não cheguem a cair nesse nível ou
abaixo dele
23
Os defensores do hedge afirmam que a gerência da empresa tem uma
vantagem sobre os acionistas individuais por conhecerem melhor o risco
real de câmbio da empresa, ou seja, os riscos e retornos inerentes em
qualquer negócio. Além disso, em condições de desequilíbrio acarretadas
por imperfeições institucionais e estruturais no mercado e choques externos
adversos, as empresas têm mais condições de tirar maior proveito do que os
acionistas, por estarem em uma posição melhor do que estes últimos. Assim,
obtêm vantagem de oportunidades únicas para aumentar o valor próprio
mediante hedge seletivo, ou seja, de exposições elevadas, excepcionais.
Por outro lado, aqueles que se posicionam contrariamente a uma
operação de hedge cambial, argumentam que os acionistas possuem uma
maior capacidade de diversificar o risco cambial do que a gerência da
empresa. Assim, a administração de risco cambial não necessariamente
aumenta os fluxos de caixa esperados da empresa, podendo inclusive reduzí-
los em razão dos custos que a operação envolve.
1.2.4 Swaps
O swap é uma das estratégias de hedge mais utilizadas no mercado
financeiro. As operações de swap mais praticadas no mercado são o swap de
câmbio e o swap de juros. O swap cambial tem por objetivo eliminar o risco
das variações cambiais, enquanto que o swap de juros procura eliminar o
risco proveniente das variações das taxas de juros. Ambos são considerados
estratégias de hedge porque permitem que o investidor tome uma posição
mais segura contra as flutuações de preço num mercado futuro, efetuando,
por exemplo, uma trava no custo dos recursos por ele aplicados. Desta
forma, o uso do swap no mercado futuro pode ser considerado um
importante instrumento para eliminação do risco e da incerteza.
Os membros envolvidos num contrato de swap podem ser
identificados, conforme a CETIP
9
(2005), da seguinte forma:
9
Câmara de Custódia e Liquidação
24
1)
participante/market maker, que pode ser uma pessoa física,
jurídica ou membro de mercado que deseja encontrar uma
contraparte e que tenha uma expectativa contrária à sua ou em
relação à futura variação dos parâmetros para realizar o
registro de um contrato de swap;
2)
contraparte/broker, que é aquela cuja expectativa seja contrária
à do participante em relação à futura variação dos parâmetros,
podendo também ser qualquer pessoa física ou jurídica; e
3)
bancos liquidantes, que são as instituições financeiras com
conta reserva bancária compulsória, em espécie, no Banco
Central do Brasil, detentoras de contas individualizadas na
CETIP, habilitadas no sistema, indicadas pelas partes para
prestar serviços de liquidação financeira das operações
registradas.
Eiteman et al (2002) consideram que o maior risco da taxa de juros
para uma empresa não-financeira é o serviço da dívida. Uma empresa pode
apresentar uma estrutura de dívida com prazos diferenciados e com
diferentes estruturas das taxas de juros, tendo taxas fixas ou flutuantes. Os
autores consideram que tanto a administração do risco de câmbio como a da
taxa de juros devem concentrar-se na exposição dos fluxos de caixa
existentes ou antecipados da empresa. Assim como é administrada a
exposição cambial, a empresa não pode empreender estratégias de hedge
bem fundamentadas sem formar expectativas com relação às variações
futuras das taxas de juros.
Semelhantemente aos demais instrumentos derivativos, nas
operações de swap não há troca física do ativo objeto, mas somente a
liquidação financeira dos ganhos ou perdas obtidos na operação. O valor
principal estabelecido serve apenas como base de cálculo para a definição
dos fluxos financeiros que serão intercambiados no futuro. Portanto, o risco
de crédito envolvido entre as partes está limitado aos pagamentos que teriam
25
direito de receber da contraparte
10
, representado pela diferença favorável
entre os custos/receitas das obrigações/direitos intercambiados (ARAÚJO,
2002).
De acordo com Loiola (2002), os swaps são transações puramente
financeiras e, de forma geral, nesses contratos, as partes envolvidas trocam
a natureza do fluxo financeiro de uma operação de uma tarifa flutuante para
uma fixa sem troca de ativos. O autor considera que o swap consiste num
acordo entre duas partes, com a finalidade de trocar fluxos de pagamentos
futuros, que podem referir-se a moedas, taxas de juros ou indexadores e as
commodities. A operação cria uma "posição virtual" que pode eliminar um
descasamento existente (hedge) ou modificar a posição inicial. Os contratos
de swaps são vistos como troca de risco de uma posição ativa ou passiva em
uma data futura, conforme fórmula preestabelecida.
Eiteman et al. (2002) destacam que o swap é uma entre quatro
opções disponíveis para administrar o risco da taxa de juros. A primeira
delas consiste na estratégia de refinanciamento, mas isto representaria um
custo elevado diante da necessidade de se reestruturar a dívida, o que
implicaria o estabelecimento de novos contratos.
A segunda opção seria a realização de acordos de taxa a termo
(Forward Rate Agreements – FRAs), em que a empresa pode travar o
pagamento futuro das taxas de juros, de forma similar às travas adotadas nos
contratos a termo no mercado de câmbio. Nos FRAs, o contrato especifica
que o vendedor do FRA deverá pagar ao comprador o gasto de juros
adicional se as taxas subirem acima do acordado, mas o comprador pagará
ao vendedor os gastos de juros diferenciados se as taxas de juros caírem
abaixo da taxa acordada.
A terceira opção refere-se aos futuros de taxas de juros. Caso a
empresa opte por uma estratégia de hedge neste caso, ela pode vender um
contrato de futuros ou assumir uma posição vendida (short position). Se a
empresa espera que as taxas de juros subam, ela poderá, por meio de um
10
Conforme Donadio (1992), no início da operação podem ser exigidas garantias da
contraparte, como, por exemplo, uma carta de crédito.
26
short, travar a taxa de juros. Caso a expectativa se confirme, a empresa
poderá fechar sua posição com lucro, pois o valor do contrato cairá. Por
outro lado, se as taxas de juros caírem, o preço do contrato futuro ficará
relativamente maior e a empresa perde. Os futuros de juros também podem
ser usados para travar as receitas de juros futuros, caso a empresa esteja
numa posição comprada.
A opção mais importante é o swap de taxas de juros, ou seja, acordos
contratuais para trocar ou permutar uma série de fluxos de caixa, que são os
pagamentos de juros associados ao serviço da dívida. Estes swaps, na visão
de Eiteman et al. (2002) podem ser de duas modalidades: swap de taxas de
juros e swap de moedas.
O swap da taxa de juros é um acordo no qual se executa uma
permuta do pagamento da taxa de juros fixa pelo pagamento da taxa de juros
de outro acordo. Conforme Eiteman et al. (2002), swaps de taxas de juros
podem ser entendidos como compromissos contratuais entre uma empresa e
um operador de swap completamente independente da exposição das taxa de
juros que está sendo permutada, ou seja, a empresa pode entrar numa
operação de swap por qualquer motivo que ela considere adequado e, assim,
permutar o principal nocional que é menor, igual ou maior do que toda
posição que está sendo administrada.
No swap de moedas ocorre a permuta entre as moedas do serviço da
dívida, no qual pode-se trocar, por exemplo, pagamentos de juros em euros
por pagamentos de juros em dólares.
De acordo com Cordeiro Filho apud Araújo (2002), em um contrato
de swap existe a permuta de dois fluxos financeiros, que são calculados de
forma distinta sobre um valor referencial (nocional). Nesta permuta, os
valores monetários de tais fluxos são compensados em uma data
determinada. O autor considera que o cálculo diferenciado de cada um dos
fluxos permutados (taxas ou índices diferentes incidindo sobre o mesmo
valor referencial) e a liquidação desses fluxos por diferença na data
acordada constituem a tipificação básica dos swaps.
27
O ajuste da operação é feito ao seu final, computando-se a diferença
entre os dois fluxos negociados, não necessitando portanto, de saída de
caixa no início da operação, o que fez com que a operação ficasse conhecida
no Brasil como "hedge sem caixa".
Um exemplo citado por Eiteman et al. (2002) refere-se a uma
situação na qual uma empresa pretende se proteger de um possível
crescimento dos pagamentos do serviço da dívida. Uma opção seria entrar
com um contrato de swap para pagar fixo e receber flutuante, ou seja, a
empresa faria pagamentos com taxas de juros fixas e receberia de
contraparte de contrato de swap a taxas de juros flutuantes. Os pagamentos
flutuantes recebidos pela empresa seriam usados para cobrir a obrigação da
dívida desta, para que tal empresa, em uma base líquida, pudesse fazer o
pagamento com taxa de juros fixas. Da mesma forma, uma empresa que
tenha dívida a uma taxa fixa e espera a queda das taxas de juros, trocará sua
dívida por outra com taxa flutuante. Nesse caso, a empresa entraria em um
swap com taxa de juros do tipo pagar flutuante/receber fixo.
É importante considerar que os contratos de swap estão sujeitos ao
chamado risco da contraparte. Este risco é definido por Eiteman et al (2002)
como a exposição potencial, onde qualquer empresa se sujeita à
possibilidade de na segunda parte do contrato financeiro ser incapaz de
cumprir as obrigações especificadas. Entretanto, a exposição real de um
swap de juros por exemplo, não é o principal nocional total, mas os valores
remarcados ao mercado dos diferenciais de juros ou nos pagamentos dos
juros (custo de reposição) desde o início do contrato de swap.
Deve-se também observar que as operações de swap não se limitam
à troca entre taxas de juros fixas e flutuantes. Um swap pode envolver a
troca de um serviço de dívida entre duas moedas ou entre uma moeda e um
indexador, que pode ser inclusive a taxa de juros. A motivação para a
realização de um swap nessas modalidades é a possibilidade de se proteger
contra oscilações indesejadas de uma divisa ou de um determinado
indexador e de modificar a estrutura de sua contabilidade.
28
Para exemplificar uma operação de swap entre uma moeda e um
indexador, suponha que a empresa fictícia chamada Energias Brasileiras
S.A. tenha contratado uma dívida no valor de US$ 100 milhões a um dólar
equivalente a R$2,30, mas espera que o mercado passe por um momento de
alta volatilidade, no qual o dólar esperado será igual a R$ 2,90, o que poderá
vir a aumentar o seu nível de endividamento externo. Essa empresa deseja
proteger-se contra a volatilidade esperada da moeda americana e decide
contratar uma operação de swap da variação cambial contra a variação do
CDI. A variação do CDI no período será de 17,5% e o cupom cambial (Cc)
será de 10%. O prazo para esta operação será de 1 ano (360 dias).
O valor esperado para a dívida da empresa sem a proteção do swap
será de:
1
360
$
$
4
xn
Cc
x
US
US
Dívidax
Dívida
e
1
360
360
1
,
0
3
,
2
9
,
2
100000000
x
x
Dívida
e
= 138.695.652
A Energias Brasileiras S.A. lançará então uma operação de swap
para trocar seu fluxo de caixa em dólares por um fluxo de caixa com
variação atrelada ao CDI. Esta operação travará ou evitará a exposição
cambial da empresa. Assim, o valor da dívida calculada em CDI será:
117000000
)
17
,
0
1
(
100000000
)
1
(
x
i
Dívidax
Dívida
CDI
Portanto, ao realizar a operação de swap, a Energias Brasileiras S.A.
adotou uma estratégia de hedge na qual, confirmadas suas expectativas com
relação à variação cambial, travaria sua dívida no valor de R$ 117 milhões
e deixaria de perder R$ 21,7 milhões, que seria a diferença entre a dívida
que pagaria em dólares e a dívida travada em CDI.
29
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