Matheus de Vasconcellos Barroso (IBEMC-MG)
Márcio Antônio Salvato (IBMEC-MG)
Jonathan de Souza Matias (IBMEC-MG)
Resumo
Este trabalho propõe analisar a pobreza sob a ótica multidimensional numa perspectiva não-monetarista, buscando um ordenamento dos estados da região nordeste brasileira. A partir da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2008-2009 foram construídos dois índices para mensurar a pobreza não-monetária: índice normalizado de altura-por-idade como proxy para indicador de saúde, seguindo os valores de referência da Organização das Nações Unidas (ONU); e índice de bens, proxy para o acesso aos bens básicos na economia. Para a construção do índice de bens utiliza-se um modelo Análise de Correspondência Múltipla (ACM) a partir de um conjunto de várias discretas binárias, conforme Asselin (2002). A seguir é possível estimar mapas de dominância estocástica unidimensional e bidimensional, seguindo Duclos, Sahn e Younger (2006). Os principais resultados mostram que há evidências estatísticas para afirmar que alguns não há dominância estocástica significativa para todo o domínio das linhas de pobreza nutricional e de acesso a bens básicos, mas há dominância estocástica significativa para subconjuntos do domínio das linhas de pobreza.
Palavras-chave: Pobreza Multidimensional, Análise de Correspondência Múltipla, Dominância Estocástica Unidimensional e Dominância Estocástica Multidimensional.
Abstract
This paper aims at analyzing the multidimensional poverty from the non-monetarist perspective, seeking to present an order of poverty of the Northeast region’s states of Brazil. From the Family Budget Survey (Pesquisa de Orçamento Familiar - POF) from 2008-2009 were constructed two indices to measure non-monetary poverty: normalized ratio of height-for-age as a proxy indicator of health, following the reference values of the United Nations (UN) and an asset index, a proxy for access to basic goods in the economy. In order to construct the goods index we used a model of multiple correspondence analysis (MCA) from a set of discrete binary number, as Asselin (2002). Following this, it is possible to estimate maps of one-dimensional and two dimensional stochastic dominance, following Duclos, Sahn and Younger (2006). The main results show that there is statistical evidence to claim that there is some significant stochastic dominance for the entire field of nutritional poverty lines and access to basic goods, but there is significant stochastic dominance for subsets of the field of poverty lines.
Key-words: Multidimensional poverty, Multiple Correspondence Analysis, Stochastic Dominance.
Classificação JEL: O15, I32, R11
Área 11 - Economia Social e Demografia Econômica
ANÁLISE MULTIDIMENSIONAL DA POBREZA NO NORDESTE BRASILEIRO Introdução
A despeito de o Brasil ocupar a 84ª posição segundo o IDH em 2011, grande parte da população encontra-se abaixo da linha da pobreza (26,8%)1 e o país convive com uma alta desigualdade de renda. Em 2009, 42,5% da renda encontrava-se nas mãos dos 10% mais ricos da população, e apenas 1,2% para os 10% mais pobres.2
Com o objetivo de redução da desigualdade e pobreza, na última década e meia, os formuladores de política pública implementaram vários programas sociais, dentre os quais destacam-se: Programa Bolsa-Escola, Programa Bolsa-Família, Brasil Carinhoso. Segundo Boyadjian (2010), os programas diferem em nível de abrangência e impacto, mas consistem basicamente na transferência direta de renda aos grupos elegíveis pelo programa. Analisando os programas de transferência de renda pode-se citar ainda Tafner, Carvalho e Botelho (2009), Sátyro e Soares (2009a e 2009b), Burlandy et al. (2007), Soares, Ribas e Osório (2007) e Rocha (2005).
Contudo, todos estes programas têm em comum a discussão de pobreza pelo princípio de insuficiência de renda, uma ótica unidimensional. Duclos e Araar (2006) destacam que centrar a discussão da pobreza apenas sob o aspecto monetarista é simplificar demais a identificação se uma pessoa é pobre ou não. A análise da pobreza deveria incluir a discussão sobre o acesso do indivíduo aos serviços básicos, sob uma ótica multidimensional. Sob este prisma, uma corrente não-monetarista considera pobreza como privação de fins e não de meios a partir de duas linhas teóricas: das necessidades básicas e das capacidades de Sen (1985).
Segundo Esposito e Chiappero-Martinetti (2008), os trabalhos sobre pobreza multidimensional podem ser agrupados em três categorias: i) aqueles que constroem índices de pobreza multidimensionais [FOSTER, GREER e THORBECKE (1984, 2010), TSUI (2002), BOURGUIGNON e CHAKRAVARTY (2003), BIBI (2005) e BOSSERT, CHAKRAVARTY e D’AMBROSIO (2009)]; ii) aqueles que propõem critérios de ordenação para a pobreza multidimensional [FOSTER e SHORROCKS (1988a e 1988b), DUCLOS, SAHN e YOUNGER (2006), ALKIRE e FOSTER (2009) e BOURGUIGNON e CHAKRAVARTY (2002)] e; iii) aqueles que fazem uma análise multidimensional da pobreza baseada no uso de técnicas estatísticas multivariadas [KRISHNAKUMAR (2005), KAKWANI e SILBER (2008) e ASSELIN (2002)].
Esse trabalho tem como finalidade obter uma ordenação da pobreza multidimensional sob uma ótica não-monetarista para os estados da região Nordeste do Brasil. Para tanto, faz-se uso de uma metodologia de dominância estocástica da pobreza, considerando dois índices: um indicador de saúde e um índice de bens. A base de dados utilizada será a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2008-2009. O índice de saúde utilizado será uma normalização do índice de altura-por-idade, construído a partir de valores de referência da Organização das Nações Unidas (ONU). O índice de bens será construído a partir de uma metodologia de Análise de Correspondência Múltipla (ACM) a partir da qual serão definidos os pesos da combinação linear ótima dos bens selecionados: rádio, televisão, microcomputador, geladeira, fogão, ar-condicionado, bicicleta, motocicleta, material predominante no piso, proveniência da água, escoadouro sanitário e existência de água canalizada. Todas as variáveis são discretas e binárias.
A partir dos índices de saúde (nutrição) e de bens, segue-se procedimento proposto por Duclos, Sahn e Younger (2006), construindo testes de dominância estocástica de primeira ordem para o caso unidimensional e bidimensional para todas as combinações de linhas de pobreza nutricional e de bens dentro de um intervalo. Os resultados apontam que a dominância estrita, em ambos os casos, não pode ser estabelecida, porém, a dominância não-estrita pode ser verificada para subconjuntos do domínio das linhas de pobreza.
Além desta introdução, na segunda sessão é apresentada uma revisão da literatura sobre pobreza multidimensional, na terceira sessão a metodologia de dominância estocástica, seguida por uma sessão de resultados para os casos unidimensional e bidimensional e, por fim, uma sessão conclusiva.
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